O LUXO DAS MAÇÃS
O LUXO DA MAÇÃ
Marília L. Paixão
Como é que se faz sono
Como é que se faz paz
Como é que se faz inteira
A metade de uma fruta ou um quarto dela?
Minha mãe dizia que eram duas maçãs para nove bocas
E quando era só uma...
Lembro-me que descascava tão lentamente
As cascas eram tão finas que nem compensava pedir para comer
Mas esperava pela fatia que seria a minha.
Será que seria uma das primeiras a receber?
Uma vez ao adoecer ouvi minha irmã caçula dizer que eu iria ganhar maçã
- Maçã para mim?!
- Maçã? Não! Ela ria. Banana maçã, sua boba!!!
Mas para mim, banana maçã já era uma fruta especial!
E não é que era banana ouro?! Já sorria me sentindo lisonjeada.
Mas minha irmã odiou saber que se eu tomasse o remédio ia ganhar maçã.
- Maçã mesmo???
Sim, era maçã sim!
Aquele dia achei minha mãe a mãe melhor do mundo.
Imagina ela deixar a maçã todinha para mim e deixar remoendo a caçulinha dela?
Bem que quase senti vontade de dar para a malvada um pedacinho...
Mas por minha vez recebia minhas porções aos poucos
Ela só vinha depois do remédio que se não fosse a maçã eu cuspia.
O pedaço de maçã quase não dava para tirar o gosto do remédio
Eu não podia dividir aquela pedaço com minha irmã que era má comigo
Outra dizia que eu era boba de ser boazinha
De qualquer forma, de mim doente, essa era a única lembrança que eu tinha.
Deve ter sido a minha primeira maçã inteira.
Mas era mais fantasia.
Parecia uma coisa muito especial com um gosto que passava rápido demais.
Gostoso era manga!
Os primos balançavam as mangueiras e as mangas choviam
Podia chupar até ter preguiça de andar e ficar gordinha
Quem crescia comendo maçãs devia ser magro
Depois das mangas eu sentia sono
Depois de uma fatia de maçã eu nem saberia dizer o que eu sentia.