Tinha medo do homem que cada menino constrói dentro de si, a partir da interação com brinquedos monstruosos. Ela já não gostava mais  dos filmes de terror,  e acordava sobressaltada com  pesadelos, habitados por criaturas diabólicas, que outrora, via na TV.  Considerava que monstro é criação de mente doentia: diabinhos que o autor transfere em forma de imagem para livros e filmes.  Se é verdadeiro dizer que os sinais sonoros e visuais descortinam emoções,  também é verdadeiro afirmar que este  mesmo conjunto de imagem e som leva a atitudes e condutas de acordo com a percepção, em torno da qual orbitam os sentidos do corpo. E pela primeira vez, a boneca de pano teve sentimentos humanos: desejou ser a rainha das  bonecas, ter muitos súditos e um grande exército para combater o inimigo que lhe perturba o sono.
— Quero ser como Bob que não tem medo de nada.
— Os homens escondem seus medos, quando estão diante das mulheres — disse Ravenala — faça o teste: quando Bobinho disser que não tem medo, olhe os lábios dele. Se tremerem em leve contração está mentindo.
— Não são mais os olhos a janela do coração? — Quis saber Emília.
— O rosto é  o lado externo do coração; os olhos, ambos os lados; mas são os lábios que escondem ou revelam a verdade. 

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Adalberto Lima, framento de Estrela que o vento soprou