A TV, até vê
A TV, até vê
O ano era de 1958, no meio do qual iríamos trocar a pacata vida do Brumado pela ebuliente Pitangui. Beu e eu fôramos escalados para acompanhar papai à casa do gerente da fábrica, Sêo Afonso, para sermos introduzidos a uma novidade inédita: vermos uma transmissão esportiva pela televisão.
Nosso rádio Philips, sisudão, embora desligado àquela hora - afinal não éramos muito fãs da Hora do Brasil, senão de sua monumental abertura - ouviu calado, e apreensivo, nosso burburinho diante da nossa expectativa do que estaria por vir - e por ver. Medo bobo?
Banhados, jantados e impados em roupas domingueiras, seguimos papai que se não chegou a botar terno dominical, ao menos se barbeara. e botou seu par de Vulcabrás, que era de abafar, até chulé mais tenaz.
Recepcionados pelo próprio anfitrião, com seus olhos azuis e amistosos, adentramos a casa que, se não me engano era então a única do povoado a ter um alpendre, gradeado, com vista para a igrejinha de São Gonçalo, a estação ferroviária, a fapa, imponente, e a estradinha lá na frente, que dava pra Pitangui à direita e Belorzonte, à esquerda. Naquele trecho ela bordejava o rio São João que nem vau dava então, tal o seu volume de sua correnteza.
Aos pimpolhos da casa, Rodrigo, Patrícia e Bráulio, não vimos, como tampouco à esposa de Sêo Afonso, Dona Helena que, sem favor, tinha do inteiro povoado, as feições do mais fino lavor.
Do jogo, vimos pouco. Os chuviscos renitentes nô-lo impediram. E se não me falha a memória, tratava-se de uma partida amistosa, terminada em empate, jogada entre o Atlético Mineiro e o Vasco da Gama, do Rio. Guardei o nome de um Viladônega, vascaíno, acho que centro-avante, cujas acrobacias aéreas foram objeto da admiração mútua de papai e Sêo Afonso.
Embora não tivéssemos cochilado um só instante, a Beu e a mim, os tacos daquela ampla sala, enceradinhos, brilharam mais do que a tela do milagre tele(in)visivo. A pena que nos deu foi não ter visto de pirtim aquês minino mais bunito e bem arrumado do povoado