UMA GRANDE AVENTURA - III

Bom, eu sou um garoto aventureiro. Logo saí pela tribo, após as boas vindas e o lanche. Enquanto Kauaka falava, meus olhos correram pelos lindos, longos e pretos cabelos de uma indiazinha que me olhava e sorria. Até o Kevin percebeu.

__ Olha, tá vendo o rio lá no fundo? Eu não acredito que não tenha ouro. Este parte é dos índios, e eles não se interessam muito por essas coisas não.

O cacique continuava apresentando a tribo e mostrando como viviam. Mostrou-nos as casas, que eram parecidas com cabanas, embora possuíssem todos os confortos da cidade. Bem diferentes daqueles que víamos nos livros e nas histórias que nos contavam.

A tribo estava localizada num lindo vale bem verde. Ao fundo, um pouco mais distante havia um paredão de pedra, cheio de montanhas bem altas. Do lado norte havia uma pequena mata, que se alongava até terras grandes, lugar que os índios utilizavam para caçar e fazer treinamentos e rituais. Já ao leste da tribo, cerca de quinhentos metros, passava um rio, onde pensávamos que ainda teria ouro. Havia uma trilha que chegava até ele e ainda mais à sua frente, onde podia se ver uma corredeira, lugar de brincadeira das crianças naquela água que corria entre as pedras. E eram águas bem claras.

Gustavo nos reuniu após as apresentações e uma dança de boas vindas e disse:

__ Meninos e meninas, podem andar à vontade pela tribo, mas, por favor, não ultrapassem o rio e não entrem na área de plantação dos índios. Cheguem perto, mas não ultrapassem esses limites, porque podem danificar. Kauaka pediu que não entrem na mata, pois existem vários animais que ali vivem, e que podem se espantar com a presença de estranhos. Combinados?

__ Sim professor – respondemos em coro.

Esqueci-me de mencionar que, a oeste ficava a lavoura. Havia muitas árvores, com frutos conhecidos e outros um pouco estranhos. Kevin estava louco pra experimentar, mas, como sempre, tinha medo.

Exploramos um pouco a região da tribo e das frutas. Depois nos aproximamos da borda da mata, a vontade de entrar era grande, mas realmente fomos convencidos a não entrarmos nela. Observei que Hikita, a indiazinha meiga estava acompanhando-nos com os olhos. Chamei-a e convidei para irmos ao rio. Ela sorriu e disse que sim. Kevin também gostou da ideia. Quem não gostou muito foi Titubi. Era alto, magro e não era de muito sorriso. Parecia ser um bom guerreiro, pois tinha um reflexo muito bom. Ele conseguiu segurar uma fruta que caía de uma árvore num grande salto. Até aplaudimos.

Nós nos apresentamos e tudo pareceu ficar bem. Descobrimos que a tribo tinha um costume com as meninas quando muito novas, antes de desenvolverem o corpo, de possuírem um garoto que as acompanhava e protegia. Titubi era o protetor de Hikita. Era a sombra dela. Ele pareceu não gostar muito de irmos ao rio, mas na verdade ela era o protetor, e segundo as regras da tribo, ele deveria proteger, mas não impedir a garota de fazer o que quisesse.

Descemos por uma trilha pequena, quando íamos ouvindo a o longe, o barulho das águas, que formava uma corredeira entre as pedras e anunciava uma linda queda d’água pouco abaixo. Os índios da tribo costumavam passar por ali e tomavam banho no poço da cachoeira, mas raramente ficavam mais de meia hora na sua cabeceira. Enquanto iam chegando, Hikita contava a lenda das pedras que brilham:

Um índio caminhava perambulando por estas terras, carregando em seus ombros, o único irmão que sobrevivera a um ataque dos primeiros colonizadores. Sua terra havia sido arrasada, as casas queimadas, junto com toda a comida. Muitos foram perfurados com as espadas, enquanto corriam desesperadamente para se salvarem. Hapuc-Nerén, conseguiu fazer uma poção que o tornava invisível por duas horas, e conseguiu colocar seu irmão aos ombros e fugir, enquanto via sua tribo ser covardemente destruída.

Cansado de caminhar, entrou nesta floresta, abençoou o esconderijo e fez um ritual de maldição para quem ousasse destruir esse lugar. Aqui permaneceu por meses, alimentando-se dos frutos e descansando ao longo do riacho. Encontrou aqui sua paz. Seu irmão foi curado e prometeu voltar um dia, para aqui recomeçar sua tribo, que somos nós. Antes porém, de partir, Hapuc fez um ritual de agradecimento e invocou os deuses da floresta para proteção. Cercou as águas, impediu que o riacho corresse por alguns minutos e lançou um composto de ervas que, voltando as águas a correrem, banharam-nas, como testemunhas vivas da generosidade deste lugar. As pedras emitiram luzes, e desde então, ninguém mais ousou retirar nenhuma delas deste lugar. Pajé disse que, se alguém tirar uma pedra do rio, levará consigo a maldição da seca para sempre, e viverá dias de fome e solidão.

__ Vocês acreditam nisso Hikita?

__ Claro Pedro, por isso vamos dar uma volta rápida e pronto, não gostamos de vir aqui. Mesmo que não seja verdade, quem é que tem coragem de pagar pra ver? Kauaka proíbe crianças de virem desacompanhadas de adultos.

Virou-se para Titubi e continuou:

__ Não vai falar nada né meu protetor?

O menino apenas sinalizou que não, com a cabeça, mas fez cara de preocupação.

__ Vamos embora gente, estou ficando com medo e já está tarde, daqui a pouco o Gustavo vem e vai xingar todo mundo. Ele pediu pra ninguém sair de perto.

__ Que nada Kevin, fica tranquilo – consolou Pedro. Não tem nem dez minutos no meu relógio. Antes de o professor dar por nossa falta já estaremos lá.

LUCAS FERREIRA MG
Enviado por LUCAS FERREIRA MG em 21/08/2017
Código do texto: T6090733
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.