A TURMA DA AYSHA: A LHASA APSO BUDISTA

Aysha era uma cadela da raça Lhasa Apso, preta e branca, de pelos longos e bem penteados. Ela nasceu num Mosteiro do Tibet, ao pé do Himalaia, entre monges budistas, que a veneravam, pois a consideravam a terceira encarnação do Lama Tsé, o fundador daquele templo.

Os monges viviam entre meditações, mantras e cuidando da pelagem de Aysha, sendo a mesma venerada como um deus, pois seria a última encarnação do Lama Tsé, o qual era de uma sabedoria ímpar.

Naquele tempo, que era o final do século XIX, os ingleses estavam presentes no Tibet, vindos pela China, por conta de interesses comerciais de buscarem produtos exóticos para serem vendidos na Europa.

Estavam envolvidos em guerras comerciais também com outros povos, mas dominavam o mundo com suas fábricas.

Num certo dia, Yago, um cão da raça Chow Chow, maldoso caçador de cães para os ingleses comercializarem entre madames de Londres, consegue entrar, de madrugada, no mosteiro onde estava Aysha, dando-lhe sedativo num lenço e a raptando-a, sem fazer um "piu".

Pela manhã, os monges constatam atônitos:

- Furtaram nosso Lama. O que nós faremos?

- Precisamos descobrir onde ele está, pois isso pode trazer uma maldição para o mosteiro perder tão ilustre membro.

Yago, sem saber da tristeza que causara, já está com Aysha em Hong Kong, num porto, embarcando-a, numa jaula, junto com outros cães exóticos. Na mesma caixa de Aysha, a Lhasa Apso, estava Penélope, uma Pug, que não parava de ter crises de asma.

- Como é seu nomeee...e...ee..e...e?

- Meu nome é Aysha. Onde estou? Como vim parar aqui? (fala atordoada ainda)

- Assopre aaaa...aaarrrr nas minhas narinas.....ssss. Fortee..e.e.

Aysha assopra, e Penélope recupera-se, iniciando, dessa maneira, uma grande amizade.

- Nem eu sei como vim parar aqui, Aysha. Eu pertencia ao Palácio do imperador da China. Vivia como uma princesa canina de 100 cães pugs de vossa majestade, ai desmaiei, depois de sentir que me enforcaram. Os guardas nem notaram. Não consigo andar direito, pois meus pés são enfaixados para ficarem pequenos.

Yago, malvado como sempre, pega as moedas de ouro e entrega todos os cães aos mercadores ingleses.

O navio com os cães atravessa o Oceano Índico, sobe o Atlântico, desembarcando em Liverpool, onde entrega a carga.

Aysha e Penélope são compradas por um rico industrial de tecidos, Mister Arms, que as deixa no luxuoso quarto, com seus filhos pequenos.

- Aysha, sinto saudades da minha casa.

- Eu também sinto saudade do mosteiro, dos monges e das meditações. Lá é um lugar de muita paz.

(...)

Mister Arms tinha negócios no Brasil. Um belo dia, vai com toda família e os seus cães, num navio vapor, para o Rio de Janeiro, onde precisava supervisionar os negócios de uma de suas fábricas recém instalada.

Sem ter muito cuidado, uma das camareiras do hotel que Mister Arms está deixa que as duas cadelas escapem, cheirando os tapetes. Mister Arms ao voltar dos passeios no Rio fica muito triste por perder Aysha e Penélope.

Procura uma delegacia de Polícia e coloca avisos nos jornais, pois não se daria por vencido.

(...)

No Tibet, os monges também não se conformam em perderem o Lama, que é uma espécie de Papa. Era uma questão religiosa. Para isso, organizam uma expedição que precisa seguir as pistas deixadas por Aysha, a Lhasa Apso. Mas quais as pistas? Precisavam investigar mais sobre o paradeiro do Lama encarnado, para isso, precisando recorrer à espiritualidade budista.

(...)

No Rio de Janeiro, Aysha e Penélope param no Bairro de Botafogo. Lá acabam encontrando Céia, uma empregada doméstica, muito humilde, que mora num dos cortiços da capital do Brasil.

- Nossa, que lindinhas....

- Venham....Vem...

As duas cadelas entram na casa de Céia, que é dona de uma linda mestiça de pastor: Leona, acostumada a pedir comida e viver na rua, coçando pulga.

- Poxa, minha mãe trouxe essas metidas para casa.

- Não somos metidas não. Estamos perdidas.... queremos voltar para nossas casas e nem sabemos onde estamos (fala Aysha a sua nova amiguinha).

(...)

Os monges budistas choravam, choravam, sentindo falta de Aysha, que, para eles, não era apenas uma cadelinha: era o Lama Tsé, o mais importante reencarnado da linhagem do mosteiro.

O budismo é uma das religiões mais importantes do Oriente. Sua tese central é a crença nas reencarnações, em animais também, assim como acredita o hinduísmo, indiano, que o antecedeu.

O líder do mosteiro, Lao, organizou uma equipe com 3 monges: Shin, Pan e Tun. Mandou os 3 para irem a Hong Kong, pois um sonho havia revelado esta pista.

Shin:

- Logo ao amanhecer, vamos andando pelos vales. Levem gravetos e vamos acampando, até chegar em Hong Kong.

E assim os monges foram, dias e dias, pelos Vales do Nepal, pelas plantações de arroz e rios chineses, atravessando mares, em busca de Aysha.

(...)

Já na corte da China, na cidade de Pequim, na praça proibida, o chefe da guarda reuniu-se com o Imperador, Tjan III, que estava muito triste, pois muitos dos seus Pugs estavam sendo furtados- e seus filhos os amavam demais, ao ponto dos criados terem que cheirar os dejetos dos animais, como algo sagrado. Ele pede para que a Polícia de Hong Kong seja avisada.

O chefe de Polícia de Hong Kong é o cão São Bernardo: Tadeu. Ele se reúne com seus policiais e assim fala:

- Para mim isso é coisa do mau caráter do Yago, aquele Chow Chow bandido. Quero vocês de olho nele, dia e noite, sem que ele perceba. Quero um flagrante nele, assim somente o Imperador não ficará bravo comigo.

A equipe toda era formada por gatos sem raça definida. Policiais chineses, todos eles, tinham todas as manhas das camuflagem.

Um deles avisa:

- Yago está passando de caminhonete. Vamos até onde ele for.

Realmente era Yago. Estava com sua caminhonete abarrotada de caixas, que na verdade eram jaulas, cheias de cães para serem comercializados com o navios ingleses.

- Mãos para cima Yago, disse um dos gatos armados, que era policial, de pistola em punho, pronto para disparar.

- Mas o que eu fiz, senhores?

- Abram essas caixas! É uma ordem!

Quando os policiais menos percebem, Yago, que sabia lutar Kung Fu, dá um golpe e escapa, mas deixa a caminhonete.

Não deu outra: mais de 100 cãezinhos, de várias raças da China. Lhasa Apsos, Shitizus, Piquinês, Chow Chows - todos dopados e com sede, por causa da ganância de Yago...

(...)

A quadrilha dos Gatcher Nelsons estava atormentando a vida na Zona Sul do Rio de Janeiro. Era formada por gatos “vira latas” que lutavam artes marciais e viviam de roubos aos turistas. Eles moravam nos morros cariocas que ficavam perto da Zona Sul, sendo ágeis, pela magreza. O comandante dos Gatcher Nelsons era uma rato, gordo, dono do morro: Bebezão.

Bebezão ameaçava a todos. Fazia sequestro de cães de luxo de madames e cobrava, em troca, carne e queijo para estocar. O poder de Bebezão era dar carne e queijo aos membros de seu grupo, sem que eles soubessem onde Bebezão guardava.

Um belo dia, Aysha e Penélope passeavam na orla de Ipanema, com Céia. Céia aproveitava os fins de semana para vender limonada na praia, tirando um tempinho para tomar um bronzeado e fazer um piquenique com suas cachorras.

A quadrilha dos Gatcher Nelsons observa os banhistas, do alto de árvores, combinando os arrastões. Veem Céia e pensam que Aysha e Penelope, a Lhasa Apso e a Pug, são de algum morador de Copacabana rico, e que Céia apenas era a cuidadora dos cães.

Bebezão tem um binóculo, do alto do morro. Manda que um de seus Gatcher Nelsons, Bituco, vá e avise a quadrilha que Aysha e Penélope podem ser sequestradas.

Os Gatcher Nelsons em cima das árvores agitam-se. Eles organizam uma galera e fazem o arrastão. Levam comidas, relógios e Aysha e Penélope, deixando Céia em desespero. Amarram e colocam capuz nas duas, levando-lhes para o Morro.

Mais um problema na vida de Penélope e Aysha.

(...)

Em cima do Morro, Bebezão recebe Penélope e Aysha, trazida pelos Gatcher Nelsons. Ele planeja pedir resgate, mas descobre que Céia não é rica.

- Mas que desgraça...Vocês são uns gatos imprestáveis mesmo...Devolvam estas duas lá perto da praia...

(...)

Os Gatcher Nelsons obedecem Bebezão abandonam Aysha e Penélope, dopadas, na Praia Vermelha, perto do Morro da Urca.

Um jornalista, Machado de Assis, vê as duas cachorrinhas abandonadas na praia.

- Meninas? Oi? Vocês estão bem?

Aysha e Penélope acordam.

- Venham comigo, vamos para minha casa.

As duas cadelinhas conseguiram um novo lar.

(...)

Chegando em casa, perto dos Arcos da Lapa, Machado de Assis lê no jornal que Mister Arms estava atrás da duas cachorras.

Machado entrega as duas cadelas a Arms, após contactar seu escritório no Rio de Janeiro.

Aysha e Penélope voltam para Londres.

(...)

Os monges budistas estão num navio em direção a Londres. Dentro da embarcação ainda mantêm a rotina de meditações e mantras.

- Logo acharemos nosso Lama Tse, tenho certeza.

Assim sendo, começará outra aventura, na terra da Rainha.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 09/05/2017
Reeditado em 11/04/2020
Código do texto: T5994431
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