DEZ REAIS

Meu nome é 10 reais, tudo bem?

Eu sou uma cédula, feita de papel especial, que não é vendida por ai, não. Eu nasci na Casa da Moeda do Brasil, recebendo tinta e fitas especiais que dão a mim todo um brilho de artista.

Nasci no dia 8 de setembro de 2016, recebendo uma frase que falava de Deus: mas eu não sou filha de Deus, não.

Quando digo que nasci, eu fui produzida juntamente com várias irmãs minhas, num berçário que não podem entrar pessoas que não sejam autorizadas. Algumas das minhas irmãs são de 1 real. Outras de 100 reais, mais arrogantes e metidas a besta.

Mas lá isso não tem a maior importância. É aqui fora que passamos a ter valor, nas mãos das pessoas.

Quando eu sai da Casa da Moeda, eu e minhas irmãs fomos embarcadas num carro-forte. Eu estranhei muito, pois existiam 3 homens fortemente armados dentro deste veículo. Para quê? Pois quando andamos juntas, as notas, nós somos altamente cobiçadas por vocês, seres humanos.

Num primeiro momento, eu parei na carteira de um turista francês. Na carteira dele, eu conheci minhas irmãs chamadas de euros. Aliás, elas nem olhavam para nós. As euros eram metidas. Diziam que valiam mais que nós. Será mesmo? Vocês, seres humanos, inventam cada coisa em cima de um pedaço besta de papel.

Depois fui levada para uma cidade, lá no interior do Pará. Eu e minhas irmãs estávamos dormindo num caixa 24 horas. Fomos acordadas às 2 horas da madrugada, por uma explosão, a qual feriu minhas 200 de minhas irmãs, aleijando-lhes, menos eu.

Eu e mais mil irmãs minhas fomos levadas pelos bandidos embora. Eu acabei sendo separada das minhas irmãs, para pagar mais munição para os bandidos colocarem nas suas armas e, com isso, perturbarem o sono das minhas outras irmãs que ainda nem nasceram na Casa da Moeda.

O problema não foi minhas irmãs serem feridas. No assalto, o policial que passava na rua também morreu.

Por fim, eu acabei na mão de um trabalhador, que estava com o filho muito doente. Fui usada por ele para comprar remédio. Ele me conseguiu pedindo esmola na rua, pois estava desempregado.

Eu estou velha. Gasta. Hoje estou na fila da fornalha. Vou ser queimada, pois já estou sem cor. No meu corpo também tenho várias doenças. Tenho hepatite, gripe e outras doenças sérias que podem até matar você sem você saber que fui eu que te passei.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 08/05/2017
Reeditado em 11/04/2020
Código do texto: T5993476
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