A VOLTA DO REIZINHO MANDÃO (Teatro Infantil)
“A Volta do Reizinho Mandão”
(do conto original de Ruth Rocha)
(adaptação e músicas de Ale Silva)
PERSONAGENS:
Sapo/Rei
Princesa/Rainha
Arauto
Bufão
Apresentador
Narrador
Primeiro-Ministro
Segundo-Ministro
Primeiro Soldado
Segundo Soldado
Terceiro Soldado
Quarto Soldado
Primeira Pessoa
Segunda Pessoa
Terceira Pessoa
Quarta Pessoa
Quinta Pessoa
CENA I
(entra o narrador e fala ao público)
NARRADOR – Esta peça conta uma história bem conhecida: “era uma vez um sapo que se transforma em um lindo príncipe quando beijado por uma princesa...” Mas tudo que tem começo, geralmente tem um fim, só que a nossa história não acaba bem assim... (sai. entram em cena o apresentador,arauto e o bufão, com instrumentos de percussão)
BUFÃO- Boa tarde pro povinho...
ARAUTO- Boa tarde pro povão.
BUFÃO - Este é o Arauto
ARAUTO- E este é o Bufão.
APRESENTADOR - Saudações, gente amiga
A vocês vamos contar
Uma estória muito antiga,
Uma estória singular.
ARAUTO e BUFÃO - Era uma vez...
APRESENTADOR - Um gato xadrez!
ARAUTO E BUFÃO- Não, a estória não é essa!
APRESENTADOR - Mas assim também começa: Era uma vez...
PRINCESA- Era uma vez,
Uma linda menininha
De nome Tininha
Dona de muita beleza
E ainda por cima, princesa.
Ou seja, era uma vez... eu!
BUFÃO e ARAUTO- Era outra vez,
Um sujeitinho muito chato
Que pensava ser um rei
Mas era apenas
Um enorme e verde sapo.
APRESENTADOR- Mas se vocês já estão com pressa,
E querem ver como é o fim
Vamos logo, sem demora
A nossa estória começa assim:
BUFÃO - Vinha a sapo pela estrada
Avançando passo a passo
ARAUTO - Pula, pulando seus pulos
Recitando no compasso:
(entra o sapo cantando a música “meu pai foi rei”, sai quando a música acaba.)
MÚSICA
“O Meu Pai foi Rei”
O meu pai foi rei...
O meu pai foi rei...
O meu pai foi rei...
O meu pai foi rei...
Tinha um castelo
Cheio de soldados
Um cavalo branco
Bonito e ensinado
Tinha muito ouro
Riquezas pra todo lado
O meu pai foi rei...
E eu, um príncipe encantado...
ARAUTO- E cada verso que cantava,
Lembrava do seu passado
BUFÃO - Quando foi, de um lindo príncipe,
Num sapo transformado.
APRESENTADOR - Mas essa já é outra estória,
Melhor deixar de lado,
Que tal se a gente continuar...
A nossa peça de teatro?
ARAUTO- Tudo bem, então...
Vinha vindo do outro lado,
Brilhando o cabelo louro,
A princesa, no caminho,
Jogando a bola de ouro.
BUFÃO - Mas de repente, a menina
Deixa cair sua bola
Que desce pelo barranco
E para o riacho rola.
PRINCESA- Ai, ai, ai... meu pai, o Senhor Rei, vai ficar tiririca da vida se eu perder uma bola tão cara... E vai me dar uma surra de varinha de marmelo, que vou ficar uns dois dias dormindo com o bumbum pra cima... (olha para o arauto e o bufão) Cavalheiros!
BUFÃO e ARAUTO – Princesa!
PRINCESA – Será que vocês poderiam, por gentileza, pegar a minha bola?
BUFÃO e ARAUTO – Mas é claro... que não!
BUFÃO - Pode ir tirando o seu cavalinho da chuva.
ARAUTO- Isso mesmo! Nós não podemos pegar a sua bola.
PRINCESA – Mas... por que não?
BUFÃO - Por que nós estamos aqui somente para “contar” a estória!
PRINCESA- Vocês também não servem pra nada, hem! E agora, quem será que pode ir buscar a bola para mim?
APRESENTADOR- O sapo vinha chegando
Olhou para a menininha
Achou que ela era jeitosa...
Achou que era bonitinha....
SAPO – (para o público) Humm... essa é a minha chance... (para a princesa) Se quiser, eu posso pegar, Princesa!
PRINCESA – Puxa vida! Que ótimo! Espere um pouco... E o que o senhor Sapo vai querer em troca?
SAPO- Quase nada, linda menina, quase nada... Apenas um beijo!
PRINCESA- Beijo? Eu, dar um beijo em você? Essa é boa! Então você acha que eu vou dar um beijo num sapo? Ainda mais um sapo verde e gordo que nem você!
SAPO- Ah, então é assim? Pois então arranje quem vai buscar sua bola de graça!
ARAUTO- É isso aí, sapo!
PRINCESA – Seu sapo mal-educado!
BUFÃO - A menina então lembrou
Da sua bola de ouro
Lá no fundo do riacho
Que valia um tesouro!
PRINCESA- Tá bom! Já que não tem outro jeito, e esses dois folgados não querem pegar... Vai buscar a minha bola que eu lhe dou o beijo.
SAPO – É pra já! Afaste-se um pouco para não se molhar, princesa. (a princesa se afasta e ele pula no rio)
APRESENTADOR- O sapo pulou no rio
Trouxe a bola para perto
Mas não deu para a menina
Que ele era muito esperto...
PRINCESA- Que bom! Agora, passa a bola para cá, vamos!
SAPO- De jeito nenhum! Quero o beijo primeiro!
PRINCESA- Nada disso! Primeiro a bola!
SAPO- Ô Princesinha, você pensa que sou bobo, é? Sei de uma estória de um sapo amigo meu que foi buscar uma bola para uma menina parecida com você. Aí, a menina pegou a bola e deu um trabalhão danado para cobrar o beijo...
PRINCESA- Ora essa!
BUFÃO- A menina, sem saída
Lembrou-se da sua promessa
Fechou os olhos com força,
Deu-lhe um beijo bem depressa!
ARAUTO- Mas então aconteceu
O que ninguém suspeitou
O sapo foi transformando...
‘ E num Príncipe se tornou!
PRINCESA- Ai, eu sabia que isso ia acontecer!...
BUFÃO- A menina, que era esperta,
Não ficou muito espantada
Pois ela já tinha lido
Muitas estórias de fada!
APRESENTADOR- E como nessas estórias
Os dois logo se casaram
(roteiro improvisado do casamento)
Mas como na realidade,
As coisas logo mudaram.
CENA II
(entram em cena o bufão, encontrando-se com os dois ministros do rei)
BUFÃO- Bom dia, senhores Ministros!
2o MINISTRO- Bom dia, Bufão!
1o MINISTRO- Bom dia, Bufão! Queira nos desculpar mas estamos muito ocupados com os preparativos da festa e não podemos perder nem um minuto do nosso precioso tempo!
BUFÃO- Festa?
2o MINISTRO- Isso mesmo! Uma grandiosa festa para todo o reino.
BUFÃO- Mas o nosso rei acabou de morrer e vocês vão dar uma festa?
1º MINISTRO- Justamente; o povo está com muitas esperanças que esse novo rei seja melhor do que o outro que morreu.
BUFÃO - É... só que o novo rei é aquele sapo do começo da estória...
MINISTROS – Ihhhhhh......
CENA III
(estão reunidos, na praça, as pessoas, o arauto, o apresentador e o bufão)
BUFÃO- Esse reizinho está cada vez mais chato e implicante!
1a PESSOA- É! Vocês ficaram sabendo o que ele está aprontando pra gente?
2a PESSOA- Eu não! O quê?
3ª PESSOA - Ele não faz nada além de ficar inventando um monte de leis bobas.
(entra o segundo-ministro)
2º MINISTRO- Atenção, atenção! Ouçam todos as novas leis que o rei criou:
“Nos meses cujo nome tem a letra RAINHA está todo mundo proibido de sair de casa, que é para não gastar a sola do sapato”.
“As pessoas que respondem pelo nome de Arthur, passam de agora em diante a responder pelo nome de Zoroastro”.
“No fim do mês, todo mundo tem de dar ao rei metade do que ganha que é para o rei comprar confetes para o carnaval”. (sai de cena)
2a PESSOA- Viram só? Uma lei mais boba do que a outra!
4a PESSOA- Mas isso é um absurdo!
5a PESSOA- Querem saber? Eu estou achando que esse rei está meio lelé da cuca!...
ARAUTO- Ninguém agüenta mais esse reizinho mandão!
(entra o primeiro-ministro)
1o MINISTRO - Atenção, silêncio! Ouçam agora as leis que o rei acabou de criar:
2a PESSOA- Ihhh... Mais leis!?
1o MINISTRO- “Fica terminantemente proibido cortar a unha do dedão do pé direito em noite de lua cheia”.
“As pessoas que se chamarem pelo nome de Maria Aparecida, passam de hoje em diante a ser chamadas de Hermengarda, que é um nome muito mais bonito.”
“É proibido dormir de gorro na primeira Quarta-feira do mês”. (sai de cena, acompanhado das pessoas que discutem as leis)
2a PESSOA- Eu estou dizendo... Esse baixinho desocupado já está cansando a minha beleza...
BUFÃO- Como vocês perceberam...
Todo mundo foi ficando
Cansado de tanta lei
E logo toda a cidade
Só falava mal do rei.
ARAUTO- Com o falatório geral
O rei não se conformava
Sapateava de raiva
E de raiva, esbravejava:
ARAUTO e BUFÃO – (debochados) Vossa Majestade, o Senhor “Rei Bocó”.
(o rei entra, acompanhado da rainha)
REI – Ah, é?!
BUFÃO – Ihh, sujou!
ARAUTO – Se manda!!
REI – Sumam daqui! (o bufão e o arauto se mandam. O Rei, a Rainha e os dois ministros cantam a opereta do rei)
MÚSICA
“Opereta do Rei”
O que vai fazer agora,
Me diga senhor rei?
O que vai fazer agora,
Nos diga senhor rei?
Vou inventar, um monte de lei!
Vou inventar, um monte de lei!
Mas pra que tanta lei,
Me diga senhor rei?
Mas pra que tanta lei,
Nos diga, senhor rei?
Pra falar a verdade, nem eu mesmo sei!
Pra falar a verdade, nem eu mesmo sei!!
Acho que é porque.... eu sou o rei!!
Mas o povo está falando...
O quê?! O povo está falando,
Sem a minha autorização?
Pois ninguém fala mais, sem a minha permissão!
Ninguém fala mais sem a minha permissão!
Enlouqueceu? Vossa Majestade não pode fazer isso!
É claro que posso! Pois eu sou o rei!
REI - Eu só gostaria de saber por que é que tudo mundo só vive falando mal de mim? Isso é um grandissississíssimo desaforo!
RAINHA- Ora essa, seu Rei! Pois se o que eles dizem é verdade! Vossa Majestade anda muito metido, muito mandão e ainda por cima, inventando umas leis muito sem pé nem cabeça.
REI – Verdade? Eles dizem a verdade? Pois eu não gosto dessa tal de verdade! (chamando) Soldados! Soldados! (os quatro soldados entram)
OS 4 SOLDADOS- Às suas ordens, majestade!
REI – Prendam a verdade!
OS 4 SOLDADOS- O quê?
REI – Isso mesmo que vocês ouviram: prendam todas as verdades! Percorram o reino! Vasculhem as cidades! Corram pelas ruas, entram pelas casas! Espiem embaixo das camas! Remexam nas gavetas! E prendam todas a verdades! Quero todas muito bem presas no sótão real! Todas! Todinhas! Embrulhadas, amarradas, presas no sótão real!
(todos saem de cena, marchando)
REI – Bom... Agora eu vou inventar mais leis! (pensa) Já sei! “De hoje em diante, os gatos e cachorros estão obrigados a usarem fraldas, que é para não fazerem cocô nas uras.”
RAINHA- Pronto... era só o que faltava!
REI – Então agora não falta mais nada.... (saem de cena)
CENA IV
(os soldados entram, cansados)
2o SOLDADO- Ai...Já faz um tempão que a gente está correndo atrás das verdades, feito baratas tontas.
1o SOLDADO- Olha uma verdade correndo lá na esquina!
TODOS – Pega! Pega!
3O SOLDADO- Deixa essa, deixa essa que já tem uma outra correndo pela ladeira!
TODOS- Pega! Pega!
4o SOLDADO- Esqueça, companheiro! Lá na avenida há uma porção de verdades correndo.
TODOS – Pega! Pega! (saem de cena, perseguindo as “verdades”)
CENA V
(entram em cena as cinco pessoas, ainda comentando sobre as leis, falando mal do rei, quando, do outro lado, entram os quatro soldados)
1º SOLDADO – Alto!
1a PESSOA – O que foi, soldado?
2º SOLDADO – Por ordem de vossa majestade, o rei, devemos prender todas as verdades!
2a PESSOA – Prender o quê?
3a PESSOA – Eu não disse que esse rei está biruta?!
3º SOLDADO – Uma verdade!
OS SOLDADOS – Prendam! Prendam!
4a PESSOA – Essa não!
5a PESSOA – Vamos fugir!
4o SOLDADO – Elas estão escapando! Atrás delas! (saem de cena)
CENA VI
(estão em cena o rei, a rainha, os dois ministros, quando entram os 4 soldados, com um enorme saco de “verdades”)
REI- E então?
1º SOLDADO- Majestade, o sótão do palácio já está lotado e ainda aparecem mais verdades!
REI- Mas afinal, de onde é que vêm tantas verdades?
1º MINISTRO- É que as pessoas continuam a dizer as verdades, majestade!
2º MINISTRO- Elas falam baixinho, dentro das casas, trancadas nos quartos, mas as verdades escapolem, saem pelas frestas das janelas...
2º SOLDADO- Pelo buraco das fechaduras...
3º SOLDADO - Pelo vão das telhas...
4º SOLDADO- Saem até pelo encanamento da água!
REI- Ah, então as pessoas falam! Falam verdades, não é?! Pois então prendam as pessoas! Prendam todo mundo! No sótão real! Todo mundo! Até a Rainha! Até os Ministros! Até os Soldados! Até eu! (pausa) Não, eu não! Todo mundo! (eles saem) Agora eu quero ver como é que eles vão espalhar as verdades! (sai)
CENA VII
(todos em cena, menos o rei)
BUFÃO- (sentado) Todo mundo foi entrando
Para o palácio real
APRESENTADOR- Foram subindo as escadas
Para o sótão imperial
ARAUTO - E lá foram se espremendo
Se ajeitando mal e mal...
1º SOLDADO- Ai, está muito apertado aqui!
1º MINISTRO- Parem de pisar no meu pé!
1a PESSOA – Ai, não empurra!
RAINHA- Quem estiver com a mão no meu bumbum, tire imediatamente!
2º SOLDADO- Desculpa, Rainha! Eu pensei que esse bumbum fosse meu!
2a PESSOA- Socorro! Eu estou ficando sem ar!
3a PESSOA – Eu estou passando mal... Acho que vou... soltar um pum!
TODOS – Nãããããoooooooo!
3º SOLDADO- Parem de me massetar! Já estou quase virando sanduíche!
2º MINISTRO- Ai, eu não estou achando o meu outro braço! Ah, está aqui! (erguendo o braço)
TODOS – (tapando o nariz) Huuuummmmmm...
ARAUTO- Para consolar a tristeza
Que tinham no coração
Começaram a cantar
Uma bonita canção
Que não temiam mais nada,
Pois já estavam na prisão!
(cantam uma canção)
MÚSICA
“Canção das Verdades”
Sapo, sapo, sapo vira rei vira sapo...
Sapo, sapo, sapo vira rei vira sapo...
Sapo vira rei, não sabe cantar
Sapo vira rei, só sabe gritar
Sapo vira rei, não gosta de ninguém
Sapo vira rei e eu canto outra vez:
Sapo, sapo, sapo vira rei vira sapo...
Sapo, sapo, sapo vira rei vira sapo...
Sapo vira rei, não sabe brincar
Sapo vira rei, só sabe xingar
Sapo vira rei, só sabe inventar
Um monte de lei, e sapo vira rei!
Sapo, sapo, sapo vira rei vira sapo...
Sapo, sapo, sapo vira rei vira sapo...
BUFÃO- Da canção que eles cantavam
Pulavam muitas verdades
Que se espremiam no sótão
Com grande dificuldade
Que estava tudo tão cheio
Que era uma barbaridade! Ei, vocês estão pisando em mim....
APRESENTADOR - E então, com tanta apertura
E com tanta agitação
O palácio foi rachando
Desde o teto até o chão!
Despejando todo mundo
Que caiu de trambolhão! (todos caem, saem, ficando em cena somente o arauto e o bufão)
BUFÃO- E do meio das ruínas
Muita gente vai saindo
Cantando sua canção
Gritando, chorando, rindo
Como uma grande explosão
Que deixasse o mundo lindo!
2º MINISTRO- (voltando) Vocês não sabem da maior! A Rainha deu um beijo no Rei para reverter o encanto, e ele voltou a ser um sapo!
TODOS – Vivaaaa!
ARAUTO- Mas não se iludam vocês
Com a alegria do cortejo
Pois a estória se repete
Como se fosse um gracejo.
(o sapo volta, como no início da peça, cantando a música “meu pai foi rei”, depois fica num canto do palco)
BUFÃO- Essa não! Vai começar tudo de novo...
ARAUTO - Lá vai um sapo na estrada
Procurando seu desejo
APRESENTADOR - Encontrar alguém...
Que queira lhe dar um beijo....
SAPO- Ei, alguém quer dar um beijo em mim? Por favor...
ARAUTO, APRESENTADOR e BUFÃO – Nãããããooooo..... (arauto e bufão saem correndo, o sapo, com cara de quem não entendeu nada, sai de cena)
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