LUAS E LUAS (Teatro Infantil)

LUAS E LUAS

(adaptação livre do conto homônimo de James Thurber)

(Músicas de Ale Silva)

Personagens:

RAINHA

PRINCESA LETÍCIA

BOBO DA CORTE

AMIGA DA PRINCESA

PROFESSORA

CAMAREIRA

FEITICEIRA

APRESENTADOR

PRÓLOGO

(Entra o Apresentador com o Bobo-Marionete)

APRESENTADOR – Boa tarde, respeitável público! Pedimos um tiquinho de sua atenção. A estória que vamos contar para vocês, se passa em um reino muito, muito distante. Um lugar muito bonito, cheio de pessoas felizes e com um enorme castelo cercado por lindos jardins. E é neste castelo que vive a princesa Letícia, que vocês vão conhecer daqui a pouco. E a nossa estória já está começando, em um dia muito especial, pois todo o reino está se preparando para comemorar mais um aniversário da nossa princesinha. Vão me desculpar, mas eu também preciso ir, senão acaba me atrasando. Tenham todos, uma boa festa! Ou melhor, um bom espetáculo!

(canta) Vai ser assim...

A estória que vocês vão assistir

Num castelo muito longe daqui...

Vai ser assim!

Quando a noite cair...

E a lua no céu aparecer

Adivinha o que vai acontecer...

Vai ser assim!... (saem)

CENA I

(Entra a Rainha chamando a Camareira)

RAINHA – Camareira! Camareira! Onde é que se meteu? Camareira.

CAMAREIRA – Que gritaria é essa, sra.? O castelo está pegando fogo?

RAINHA – Claro que não, sua desmiolada. Preciso que me ajude com esse vestido. Tenho que estar deslumbrante para a festa de aniversário da minha filha...

CAMAREIRA – E só por isso precisa derrubar o castelo?

RAINHA – E acha pouco eu querer ficar bonita?

CAMAREIRA – Murcha a barriga! Pronto!

RAINHA – Hoje é um dia muito especial...

CAMAREIRA – É sim, sra.

RAINHA – E é por isso que tudo tem que estar perfeito.

CAMAREIRA – Claro, sra.

RAINHA – Nem acredito! Minha filha já está fazendo nove anos!

CAMAREIRA – Ah, já é uma moça!

RAINHA – Pra você ver, como o tempo voa...

CAMAREIRA – Voa mesmo, sra! ontem a princesa ainda tinha oito anos, hoje acordou com nove!

RAINHA – E cada vez mais parecida comigo, não acha?

CAMAREIRA – Acho. Cara de uma, focinho da outra, com todo o respeito.

RAINHA – Esta festa tem que ser lembrada para sempre. Tem que ser inesquecível!

CAMAREIRA – Vai ser, sra. fique tranqüila!

RAINHA – Espero que a minha princesinha goste do presente que escolhi para ela..

CAMAREIRA – Vai gostar, sra. Tenho certeza. Ela sempre teve tudo o que desejou...

RAINHA – É que eu faço de tudo para agradar a Letícia, pois um dia ela será uma bela rainha, como eu!

CAMAREIRA – Sem dúvida, sra!

RAINHA - Como está a festa? Bonita?

CAMAREIRA – Deslumbrante. Todos os convidados já chegaram.

RAINHA – E a minha filha?

CAMAREIRA – Ainda não desceu, majestade.

RAINHA – Pois o que está esperando? Vá chamá-la.

CAMAREIRA – É pra já, sra.! (vai saindo pela direita)

RAINHA – (gritando) Como é que estou?

CAMAREIRA – Divina. Uma verdadeira rainha!

RAINHA – Eu sei!

CAMAREIRA – Então por que pergunta?

RAINHA – Só para ter certeza. Já estou descendo para recepcionar os convidados. Diga à Letícia que não demore. Não fica bem para uma princesa se atrasar para a própria festa de aniversário... (vai saindo)

CAMAREIRA – É.... já não se fazem majestades como antigamente... (sai) Princesa! Princesa!

CENA II

(Princesa Letícia está olhando a lua pela janela, ainda de pijama. Entra a Camareira)

CAMAREIRA – Princesa, todos os convidados já chegaram... e... Princesa Letícia! Ainda não se vestiu? Menina, sua mãe vai ter um troço... nossa! Como você está pálida! Parece até que está... doente! Ai, meu Deus! Majestade! Majestade!

RAINHA – (voltando correndo) Mas o que está acontecendo? Que gritaria, meu Deus! (para o público) não sei com quem ela aprendeu isso...

CAMAREIRA – Sra. corre aqui!

RAINHA – O que foi? Eu não acredito! Você ainda não se trocou, minha filha? Todos estão esperando...

CAMAREIRA – E vão ter que continuar esperando, majestade. A princesa está doente!

RAINHA – Doente?!

CAMAREIRA – É! Olha só para ela! Está tão branquinha. Parece até um copo de leite.

RAINHA – (para Letícia) o que é que você tem, minha filha?

PRINCESA LETÍCIA – Nada.

RAINHA – Como “nada”?! Você está tão pálida... jururu... o que é que você quer? Dou o que você quiser para ficar boa logo!

PRINCESA LETÍCIA – Eu quero... a lua!

RAINHA e CAMAREIRA – A lua!??

PRINCESA LETÍCIA – É... acho ela tão bonita... e só vou ficar feliz de novo quando eu tiver a lua. (sai)

(cantam)Vai ser o fim....

Se a princesa não ganhar o que pediu...

Não vai querer brincar e nem sorrir,

Vai ser o fim!

É mesmo assim!...

A princesa sempre teve o que pediu...

Mas a lua!? Onde é que já se viu!

É mesmo o fim!...

RAINHA – Muito bem! Você ouviu a princesa, Camareira. Traga a lua para ela!

CAMAREIRA – Mas majestade....

RAINHA – Nem mais, nem menos. Trate de conseguir a lua para a princesa Letícia. Se ela quer a lua, é a lua que ela vai ter.

CAMAREIRA – Eu juro que não sei qual das duas é a mais maluca! Se a princesa Letícia, ou v.m.

RAINHA – O que está dizendo, Camareira? Que não consegue a lua?

CAMAREIRA – Majestade, com todo o respeito, eu sempre fiz de tudo para a princesa Letícia, mas... a lua!? Aí já é um pouco demais!

RAINHA – E por que?

CAMAREIRA – Então v.m. não sabe que a lua é maior do que o quarto da princesa, fica a mais de 50 mil km de distância e é toda feita de algodão?

RAINHA – Mas eu prometi a lua para ela!

CAMAREIRA – Pois então desprometa. Não em como trazer a lua para cá.

RAINHA – Vai ter que ter! (pensa) Peça para a Feiticeira vir até aqui, imediatamente!

CAMAREIRA – Sim, sra.! (sai, entra a Feiticeira)

FEITICEIRA – A sra. chamou, majestade?

RAINHA – Claro que chamei! Por que demorou tanto?

FEITICEIRA – Desculpe, mas a minha vassoura enguiçou.

RAINHA – Tudo bem. Vou dizer o que eu quero!

FEITICEIRA – Pois não, majestade!

RAINHA – Quero que me traga a lua!

FEITICEIRA – A lua?

RAINHA – É. A lua. L-U-A! Lua! Aquela coisa redonda e brilhante que fica presa todas as noites naquele negócio escuro e enorme.

FEITICEIRA – Eu sei o que é a lua, majestade.

RAINHA – Pois então traga para a princesa.

FEITICEIRA – E o que ela quer fazer com a lua?

RAINHA – Ela está meio triste, doente e disse que só vai ficar boa quando tiver a lua.

FEITICEIRA – Não sei a quem ela saiu assim tão mimada.

RAINHA – Nem eu! Mas o fato é que eu prometi a lua para ela.

FEITICEIRA – Pois fez muito mal! Prometeu mais do que pode dar. Eu sempre consegui muitas coisas para agradar a princesa: elefantinhos cor-de-rosa, poção mágica para ter bons sonhos... mas a lua é impossível!

RAINHA – Mas tem que ter um jeito!

FEITICEIRA – Não tem, majestade! Eu estou dizendo... a lua é maior do que todo esse castelo, fica a mais de 150 mil km de distância e é toda feita de queijo suíço.

RAINHA – Ai, meu Deus! E agora?

FEITICEIRA – Agora v.m. vai ter que dar outra coisa para a princesa, porque a lua está fora de questão!

RAINHA – Não, não e não! Eu prometi e está prometido. Já sei! Peça para a professora de Letícia vir até aqui.

FEITICEIRA – Sim, majestade. (sai, entra a Professora)

PROFESSORA – Pronto, majestade!

RAINHA – Professora, professorinha... você é a minha última esperança. Não sei a quem mais pedir socorro.

PROFESSORA– O que aconteceu, majestade?

RAINHA – Imagine que a princesa Letícia resolveu ficar doente de uma hora para a outra.

PROFESSORA– Coitada!

RAINHA – Coitada? Coitada de mim. Pois agora vou ter que dar um jeito de conseguir a lua para ela.

PROFESSORA– A lua, majestade?

RAINHA – A lua. Ela disse que só vai ficar boa, que só vai voltar a ser feliz, quando tiver a lua.

PRÍNCIPE– E agora?

RAINHA – Agora preciso da sua ajuda!

PROFESSORA– É só pedir, majestade! Estou sempre pronta para ajudar no que for preciso...

RAINHA – Quero que traga a lua para a minha filha.

PROFESSORA– Vai me desculpar, majestade, mas não tem como conseguir a lua.

RAINHA – Tem que ter! tem que ter!

PROFESSORA– Ai, majestade... desde que a sra. me escolheu para ser a professora da Letícia, já fiz o possível e o impossível para agradar a princesa: escrevi cartas para o Papai Noel, calculei a raiz quadrada de uma besta quadrada, descobri com quantos paus se faz uma canoa, calculei a distância entre aqui e lá, descobri que a zebra é um animal preto com listras brancas e não um animal branco com listras pretas... mas a lua?!

RAINHA – O que é que tem?

PROFESSORA– V.m. pode não saber, mas a lua é maior do que todo este reino, fica a mais de 300 mil km de distância e é toda feita de gesso!

RAINHA – Era só o que me faltava...

PROFESSORA– Sinto muito em não poder ajudar...

RAINHA – Tudo bem... pode ir...

PROFESSORA– Com sua licença, majestade... (sai)

RAINHA – E agora? Se eu não conseguir a lua para a Letícia, ela não vai ficar boa...

(entra o Bobo fazendo malabarismo)

BOBO DA CORTE – Olá, majestade, desculpe incomodar, mas todos os convidados estão esperando a princesa para cantarem os parabéns e para abrir os presentes.

RAINHA – É uma pena, mas vou ter que adiar a festa...

BOBO DA CORTE – Adiar a festa?! Por quê?

RAINHA – É a princesa Letícia, Bobo...

BOBO DA CORTE – O que aconteceu com a menina?

RAINHA – Ela está doente!

BOBO DA CORTE – Doente? O que que ela tem?

RAINHA – Está infeliz. E a festa e todos os presentes não vão adiantar de nada... imagine você que ela disse que só vai ficar boa de novo quando tiver a lua.

BOBO DA CORTE – V. m. Sempre conseguiu tudo o que queria, não tem como conseguir a lua?

RAINHA – Já tentei de tudo. Falei com a Camareira, a Feiticeira e até com a Professora da Letícia, e a lua vai ficando cada vez maior, mais distante e impossível de se conseguir, além de ser feita sempre de uma coisa diferente. E pior, eu não sei qual delas está com a razão.

BOBO DA CORTE – Sei que v.m. pode achar que eu sou bobo, mas acho que a única pessoa que pode resolver isso é a princesa.

RAINHA – A princesa?

BOBO DA CORTE – Isso mesmo! Se v.m. permitir, gostaria de subir até o quarto dela e tentar alegra-la com minhas mágicas...

RAINHA – Fique à vontade, Bobo. (ele sai pela direita) Enquanto isso tenho que pensar em alguma coisa...

(entra a amiga de Letícia)

AMIGA – Majestade, cadê a Letícia? Ela não vai descer? Os convidados estão quase dormindo, de tanto esperar e outros estão indo embora...

RAINHA – Ai, meu Deus! Esqueci dos convidados...

AMIGA – O que aconteceu?

RAINHA – A princesa está meio doente, Isabela, vamos ter que deixar a festa para um outro dia, para quando ela melhorar.

AMIGA – Então não vai ter mais festa?

RAINHA – Venha comigo, vamos avisar os convidados.

AMIGA – E quando é que ela vai ficar boa?

RAINHA – Quando ela tive a lua...

AMIGA – A lua?! Caramba! Então vai demorar um tempão!

RAINHA – Por quê? (vão saindo)

AMIGA – Porque a lua é maior do que esse mundo, fica a mais de 1.000.000 de km de distância.... (saem)

CENA III

(A princesa está olhando a lua. Entra o Bobo)

BOBO DA CORTE – Princesinha, princesinha, já que não desceu para a festa, resolvi aparecer, fazer uma visitinha...

PRINCESA LETÍCIA – Oi, Bobinho!

BOBO DA CORTE – Não gosto de te ver assim, princesinha... você tem que sorrir, para ficar mais bonitinha...

PRINCESA LETÍCIA - Você acha que sou feia?

BOBO DA CORTE – Claro que não! Se eu fosse um príncipe bonito e tivesse um camelo branco, eu até me casaria com você...

PRINCESA LETÍCIA – Não é camelo branco, é cavalo branco.

BOBO DA CORTE – É... pode ser! Mas eu sou só um pobre Bobo da Corte e só faço trapalhadas. Ah! Por falar nisso... tenho uma mágica nova que vai te deixar mais feliz.

PRINCESA LETÍCIA – Que mágica?

BOBO DA CORTE – É a mágica do lenço mágico. Olha só! Eu tenho aqui um lenço, pode ver que não tem nenhuma maracutaia. Na minha mão também não tem nada, além dos dedos, é claro. Agora vou fechar a minha mão, colocar o lenço sobre ela... assopra! (a princesa assopra) agora digo as palavras mágicas. (improvisa palavras) e agora me diga qualquer número de... 1 a 5.

PRINCESA LETÍCIA – 3!

BOBO DA CORTE – Ahá! (ele tira o lenço mostrando o nº 3 com os dedos) Aqui está, o nº 3!

PRINCESA LETÍCIA – Ah.... Bobinho, só você mesmo...

BOBO DA CORTE – Não gostou? (fica triste)

PRINCESA LETÍCIA – Ta bom, gostei! (ele fica alegre)

BOBO DA CORTE – Você está triste, não é? (ela faz que sim) Então é só pedir o que quiser e eu te dou!

PRINCESA LETÍCIA – Qualquer coisa?

BOBO DA CORTE – Qualquer coisa. É só pedir e o Bobinho aqui dá um jeito de conseguir para você. Te dou tudo! Te dou até o meu coração!

(tira um coração de papelão vermelho de dentro do colete)

PRINCESA LETÍCIA – Eu quero a Lua! (ele faz uma cara de desânimo) Já reparou como ela é bonita?

BOBO DA CORTE – Já... me diga uma coisa, princesa...

PRINCESA LETÍCIA – O quê?

BOBO DA CORTE – De que tamanho é a lua?

PRINCESA LETÍCIA – É.... mais ou menos do tamanho da unha do meu polegar, pois quando coloco ele na frente dela, ela fica todas escondida (faz o gesto enquanto fala).

BOBO DA CORTE – E a que distância ela fica?

PRINCESA LETÍCIA – Não muito longe... ela fica do lado de fora da janela do meu quarto, presa nos galhos da árvore do jardim.

BOBO DA CORTE – Humm... acho que posse conseguir a lua pra você...

PRINCESA LETÍCIA – Mesmo?!

BOBO DA CORTE – Mesmo. Pode ir dormir sossegada, princesa. Essa noite mesmo vou conseguir uma escada bem alta e pegar a lua no galho da árvore...

PRINCESA LETÍCIA – Te adoro, Bobinho! (vai saindo)

BOBO DA CORTE – Só mais uma coisa, princesa!

PRINCESA LETÍCIA – O quê?

BOBO DA CORTE – A lua é feita de quê?

PRINCESA LETÍCIA – Ora, Bobinho... de prata, é claro! (sai)

BOBO DA CORTE – (olhando para a lua) Acho que não vai ser difícil...

CENA IV

(entra a Rainha chamando a Camareira, como no início da peça)

RAINHA – Camareira! Camareira!

CAMAREIRA – Pronto, majestade!

RAINHA – Estava com a Letícia?

CAMAREIRA – Sim, sra. Fui levar seu café da manhã na cama.

RAINHA – E como ela está?

CAMAREIRA – Está um pouco melhor, mais coradinha... Comeu toda a torta de morango que levei...

RAINHA – Graças a Deus! Então ela desistiu de ter a lua?

CAMAREIRA – Não sra. Ela não fala em outra coisa.

RAINHA – Como assim?

CAMAREIRA – Ela está mais animada porque disse que o Bobo prometeu trazer a lua para ela...

RAINHA – O Bobo?! Deve ser alguma brincadeira dele...

CAMAREIRA – Isso eu não sei não...

RAINHA – O que será que ele está aprontando...

CAMAREIRA – Pergunte a sra. mesma. Ele está vindo aí.

BOBO DA CORTE – (entrando) Bom dia, bom dia! Como vai essa alegria? (fazendo reverência) Majestade...

RAINHA – Bobo, que história é essa que você vai dar a lua para a Letícia?

BOBO DA CORTE – Não era o que ela queria?

RAINHA – E você conseguiu?

BOBO DA CORTE – Claro! Aqui está!

(mostra um pingente em forma de lua, pendurado em um cordão)

RAINHA – E você acha que vai enganar minha filha com isso aí?

BOBO DA CORTE – Mas foi ela mesma quem descreveu: mais ou menos do tamanho da unha do dedão, ficava presa nos galhos da árvore do lado de fora da janela do seu quarto e era feita de prata... Então eu pedi para o Joalheiro fazer uma lua de prata, do jeito que ela pediu! (sai)

CAMAREIRA – Ihhhh... isso vai dar uma confusão... Já estou até vendo a cena: a menina vai ficar uma ferinha com o Bobo, que quer fazer ela de boba.

RAINHA – Eu é que não quero estar por perto... (entra a amiga da princesa)

AMIGA – Bom dia, majestade. A Letícia já acordou?

RAINHA – Acordar, acordou...

AMIGA – E ela já pode brincar?

RAINHA – Acho que n... (entra o Bobo, interrompendo)

BOBO DA CORTE – Veja você mesma, Isabela! (anunciando) Vossa Altezinha... a princesa Letícia!

(a princesa entra, alegre e vai ao encontro da amiga)

AMIGA – Letícia!

PRINCESA LETÍCIA – Isabela!

AMIGA – Você já está boa!

PRINCESA LETÍCIA – Estou. Vamos brincar?

AMIGA – Vamos!

PRINCESA LETÍCIA – Vou fazer uma mágica com lenço que o Bobo me ensinou. (vão saindo) Ah, sabia que o Bobo me deu a lua?

AMIGA – Sério?! A lua?

PRINCESA LETÍCIA – É. Olha só!

AMIGA – Achei que ela fosse maior...

PRINCESA LETÍCIA – Não... já tentou colocar o dedão na frente dela.... (saem)

(cantam) Até que enfim!...

A princesa voltou a sorrir...

Acho que agora vai ser...

Vai ser sempre assim...

RAINHA – É, Bobo! Parece que conseguiu... Até que você não é tão bobo assim... (voltam AMIGA e PRINCESA LETÍCIA)

BOBO DA CORTE – Obrigado...

RAINHA – Eu estava aqui pensando... talvez você mereça uma promoção: de Bobo da Corte, a Conselheiro Real...

BOBO DA CORTE – Eu, Bobo da Corte da Silva Silveira de Almeida Junior, Conselheiro Real!?... Tá brincando!

RAINHA – É claro que estou.... Até mais, Bobinho... (Sai)

BOBO DA CORTE – É... alegria de Bobo dura pouco...

(Voltam Letícia e Isabela. Letícia fazendo o final da mágica do lenço. Encerram)

AMIGA – Só o Bobo mesmo pra te ensinar esses trambiques, Letícia...

BOBO DA CORTE – Tudo bem! Tudo bem! Não tem problema! Tenho outras mágicas aqui que vocês vão gostar muito... Atenção, muita atenção.... obrigado pela atenção...

(improvisos. Realiza as duas mágicas)

AMIGA – Não sei não, essa mágica!

PRINCESA LETÍCIA – Deixe eu ver essas cartas, Bobo.

BOBO DA CORTE – Não, não pode!

PRINCESA LETÍCIA – Por que não?

BOBO DA CORTE – Porque... porque... são cartas mágicas!

PRINCESA LETÍCIA – Bobo!

BOBO DA CORTE – (aponta) Olha lá!

(elas olham. Ele foge, perseguido pelas duas meninas. Entram a Rainha e a Camareira)

RAINHA – Eu nem acredito! Até que enfim a tranquilidade vai voltar a reinar neste castelo...

CAMAREIRA – (voltando) Pelo menos por mais um dia.

RAINHA – Não apenas por um dia, mas por muitas luas...

CAMAREIRA – E é exatamente esse o problema! Sabemos que aquela lua que o Bobo deu para a princesa não é a verdadeira e à noite a lua vai aparecer... junto com a verdade!

RAINHA – Eu não tinha pensado nisso!

CAMAREIRA – Pois é?! E a princesa vai descobrir que foi enganada, mesmo que o Bobo não tenha feito por mal... e vai ficar triste de novo, quem sabe mais triste ainda...

RAINHA – Essa não...

(Bobo volta, fazendo bichinhos com balões)

BOBO DA CORTE – Pronto! O sorriso voltou aos lábios da princesa... um sorriso bonito que deixa todo o castelo mais alegre. E já que dei a lua para a princesa, vou dar uma girafa para v.m., com todo o respeito!

(faz uma girafinha)

RAINHA – Sinto que vamos ter um probleminha, Bobo.

BOBO DA CORTE – Um probleminha, majestade?

CAMAREIRA – Ou melhor, um problemão!

RAINHA – Melhor dizendo: um problema gigantesco!

CAMAREIRA – Que vai daqui até a lua.

BOBO DA CORTE - Que problema?

RAINHA – Logo vai escurecer...

BOBO DA CORTE – E o que é que tem? Todo dia à noite escurece...

CAMAREIRA – Vai escurecer e a lua verdadeira vai aparecer...

RAINHA – Como aparece todas as noites...

BOBO DA CORTE – Xiiiii... eu não tinha pensado nisso!

CAMAREIRA – Pois é! E a princesa vai ficar descobrir que a lua que ela tem não é a verdadeira...

RAINHA – Vai se sentir enganada e vai ficar triste de novo...

BOBO DA CORTE – E agora?

RAINHA – Temos que dar um jeito de esconder a lua da princesa!

BOBO DA CORTE – Mas como vamos conseguir esconder a lua, majestade?

RAINHA – Não sei, mas temos que pensar em alguma coisa, antes de escurecer. Você tem alguma ideia, Camareira?

CAMAREIRA – Não sei... Ah! Podemos fazer a princesa usar óculos escuros, assim ela não vai ver a lua...

BOBO DA CORTE – É...

RAINHA – Que “é”.... É coisa nenhuma! Assim ela não vai ver a lua e também não vai ver um palmo na frente do nariz. Vai sair trombando nas coisas, caindo pelas escadas e vai se machucar. Não dá certo! Peça para a Feiticeira vir até aqui!

CAMAREIRA – Sim, majestade. (sai)

CENA V

FEITICEIRA – (entrando) Chamou, majestade.

RAINHA – Chamei sim, Feiticeira.

FEITICEIRA – Se for para me pedir a lua de novo...

RAINHA – Não é nada disso. Desta vez nós precisamos encontrar uma maneira de esconder a lua da princesa Letícia.

FEITICEIRA – Esconder a lua?! Mas eu não estou falando! Com todo o respeito, mas eu acho que v.m. caducou de vez.

RAINHA – Não é hora de brincadeiras, nós não podemos deixar que a Letícia veja a lua.

BOBO DA CORTE – E tem que ser rápido, que o tempo está correndo... tic tac, tic tac, tic tac...

FEITICEIRA – O pior de tudo é que eu acho que vou ficar doida também, mas vamos lá! (pensa) Esconder a lua... esconder a lua... Já sei!

(sai e volta com uma lona preta jogando sobre todos)

RAINHA – O que é diabo é isso?!

FEITICEIRA – A solução para os nossos problemas...

BOBO DA CORTE – Eu acho que a Feiticeira está com os parafusos frouxos...

FEITICEIRA – Cuidado, Bobo! Que eu jogo um feitiço em você e te transformo num penico verde.

BOBO DA CORTE – Eu estava brincando, eu estava brincando!

RAINHA – Quer fazer o favor de me explicar que maluquice é essa?

FEITICEIRA – É pra já! Podemos colocar uma lona preta sobre todo o castelo, como um enorme circo, assim vai ficar um escuro danado e a princesa não vai conseguir enxergar a lua...

BOBO DA CORTE – Grande idéia!

RAINHA – Que idéia de jerico!

BOBO DA CORTE – É mesmo, foi uma péssima idéia!

FEITICEIRA – Por que?

BOBO DA CORTE – É mesmo, por que?

RAINHA – Porque assim não vai entrar ar e nem a luz do sol e a princesa vai ficar doente. Não vai resolver...

(saem a Rainha e a Feiticeira enquanto a lona cai sobre o Bobo, deixando-o todo atrapalhado, todo embolado)

RAINHA – Peça para a Professora da Letícia vir até aqui, Feiticeira! Imediatamente!

FEITICEIRA – Sim sra. (sai. Entra a Professora)

RAINHA – O que vamos fazer...

BOBO DA CORTE – Que tal me tirar daqui....

PROFESSORA– Chamou, majestade!

RAINHA – Chamei sim, Professora. Nós estamos com um probleminha sério e precisamos de uma luz.

BOBO DA CORTE – Eu também preciso de uma luz... Pelo amor de Deus!

PROFESSORA– Pode dizer, majestade.

(vão conversando enquanto tentam tirar o Bobo da lona)

RAINHA – Nós temos que encontrar um jeito de esconder a lua.

PROFESSORA– Esconder a lua? É cada uma que eu tenho que ouvir!... primeiro queriam a lua, agora querem esconder a lua...

RAINHA – Isso mesmo. O Bobo fez uma de suas tramóias e deu uma lua de mentirinha para a princesa, mas quando ela ver a outra lua, quando escurecer, vai ficar triste...

PROFESSORA– Já entendi...

BOBO DA CORTE – Socorro!

PROFESSORA– É realmente uma tarefa difícil e não tenho a mínima idéia de como resolver...

RAINHA – Pense, professora, pense!

(entra Isabela, voltando do quarto da princesa)

AMIGA – Oi, professora!

PROFESSORA– Oi.

AMIGA – O que vocês estão fazendo?

RAINHA e PROFESSORA– Nada... nada...

RAINHA – Estamos só conversando...

AMIGA – (apontando para o Bobo, embaixo do pano) O que é isso aí?

RAINHA – Não é nada... é só um saco de lixo...

BOBO DA CORTE – Eu ouvi isso... (Professora chuta o Bobo) Ei!

AMIGA – Quem disse isso?

RAINHA – Fui eu! Eu disse... ei, você já vai embora?

AMIGA – Sim sra. Já está escurecendo, tenho que voltar para casa. Tchau! (vai saindo)

P, RAINHA e BOBO DA CORTE – Tchau!

RAINHA – Pensou em alguma coisa, professora?

PROFESSORA– Ainda não... espere! Acho que já sei!

BOBO DA CORTE – Por acaso não é um jeito de me tirar daqui, não é?

PROFESSORA– Acho que sei uma maneira de fazer com que a princesa não veja a lua...

BOBO DA CORTE – Eu sabia...

RAINHA – E qual é?

PROFESSORA– Podemos soltar fogos de artifíceis a noite toda, durante todas as noite. Assim a noite vai ficar clara como o dia e a princesa não vai ver a lua.

RAINHA – Também não vai dar certo...

PROFESSORA– E por que?

RAINHA – Porque assim ela não vai conseguir dormir e vai ficar doente... mas obrigada mesmo assim...

PROFESSORA –Tudo bem. Com licença, majestade. Vou me retirar e, se pensar em alguma outra coisa volto para falar... (sai)

BOBO DA CORTE – Ei! Se esqueceram de mim? Estou quase sem ar!

RAINHA – É... não tem jeito mesmo!... daqui a pouco a lua vai aparecer... e a minha filha vai ficar doente de novo. (tira a lona de cima do Bobo) Bobo, você está bem?

BOBO DA CORTE – (estirado no chão) Morri!

RAINHA – Levanta logo daí. Isso não é hora para morrer.

(Bobo levanta e anda de um lado para o outro, pensativo. A princesa entra e fica olhando a lua da janela e olhando com tristeza a que está em seu pescoço)

BOBO DA CORTE – Esses desejos da princesa são todos complicados e só ela mesma pra dar um jeito... o jeitinho dela!

RAINHA – (vendo a princesa) Tarde demais!... a lua já apareceu...

(Rainha e Bobo vão caminhando lentamente em direção à princesa. Esta olha para eles como que pedindo explicação, depois)

PRINCESA LETÍCIA – Vocês estão vendo? (mostra com o dedo)

BOBO DA CORTE – Princesa, eu estava aqui conversando com a Rainha e nós não conseguimos entender. Você poderia explicar para a gente?

PRINCESA LETÍCIA – Explicar?...

RAINHA – Por que a lua apareceu lá no céu, de novo, se o Bobo deu ela pra você esta manhã e ela está pendurada aí no seu pescoço com esse cordão?

(princesa olha para os dois)

PRINCESA LETÍCIA – Fácil! Quando o jardineiro real colhe uma rosa no jardim, nasce outra no lugar, não nasce?

RAINHA e BOBO DA CORTE – Nasce...

PRINCESA LETÍCIA – Quando tiram toda a lã das ovelhinhas, nasce mais lã, não nasce?

RAINHA e BOBO DA CORTE – Nasce...

PRINCESA LETÍCIA – Quando cai um dente meu, logo nasce outro no lugar, não nasce?

RAINHA e BOBO DA CORTE – (sorrindo) Nasce...

PRINCESA LETÍCIA – Então, com a lua é a mesma coisa. Quando a gente consegue pegar uma, no céu, nasce outra no lugar... Boa noite! (sai)

RAINHA – Boa noite, minha filha.

BOBO DA CORTE – Boa noite, princesa.

(cantam) Foi mesmo assim...

Que a princesa voltou a sorrir...

Com certeza agora vai ser...

Vai ser sempre assim...

RAINHA – (olhando a lua) Sabe que eu nunca tinha reparado como a lua é bonita...

BOBO DA CORTE – Com essa história de luas e luas eu fiquei foi com um sono danado.

RAINHA - Agora sim, nós vamos ter tranqüilidade por muitas luas...

BOBO DA CORTE – Já imaginou, majestade, se a princesa resolve querer um colar de estrelas, para usar com a lua?

RAINHA – Psiu! Fique quieto, Bobo! Não dá idéia! Nem brinque com uma coisa dessas, Bobinho! Nem brinque!

BOBO DA CORTE – Pelo menos ia ser mais fácil! A gente podia fazer um de estrelas-do-mar. O que a sra. acha?

RAINHA – Eu acho que você ficou bobo de vez...

BOBO DA CORTE – Foi só uma idéia...

RAINHA – Boa noite, Bobinho... (sai)

BOBO DA CORTE – Boa noite, majestade. (ele vai saindo. Pára. Olha para a janela) Boa noite, dona lua!

(sai, luz apaga. Ouve-se voz feminina em off)

VOZ EM OFF – Boa noite, Bobinho...

(Bobo-Marionete volta, junto com o APRESENTADOR)

APRESENTADOR – E assim, caros amigos, vamos ficando por aqui... e foi assim que a princesa Letícia conseguiu a Lua. É claro que depois desse dia ela teve muitos outros desejos e toda a corte tinha que se virar para agradar a menina. Mas até que era divertido.... eu me lembro de uma vez em que ela queria... bom, melhor deixar pra lá, porque essa já é outra estória... Até logo, pessoal!

(cantam) Foi mesmo assim...

Que a princesa voltou a sorrir...

Com certeza agora vai ser...

Vai ser sempre assim...

(Vai saindo, após agradecer o público. Sobe a música instrumental. Luz que apaga, em resistência)

Ale Silva
Enviado por Ale Silva em 29/04/2017
Reeditado em 01/05/2017
Código do texto: T5984736
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