Requiem por Rodriguim
Pritim, feito alguns irmãos de ninhada, ele acompanhou a mãe galinha Fran Cisca enquanto pode. Praqui, prali, parlá, na faina cotidiana, de buscar suplementos protéicos, embora o milho de cada dia lhes fosse fornecido em doses até generosas.
Rodriguim, contudo, não teve a sorte de sua irmandade de nascer com um bico regular. A parte superior se prolongava bem além da inferior e isso lhe dificultava sobremaneira segurar o grão para mandá-lo pro papo.
Salvou-o porém da inanição o mateiro-obreiro Jandir que, com o uso de objeto cortante operou o bichinho, aparelhando-lhe como um quintaleiro Pitanguy, as duas pontas do bico.
Mas Rodriguim teve um retardamento em seu desenvolvimento. As asas pareciam estender-se para além do comprimento de seu corpinho, e começavam a baixar-se.
Rodriguim, divagazim, não conseguia mais acompanhar a tropa, mas não desistiu de viver. Miidim feito ele só, vazou da cerca do aviário para o convívio conosco, e até nos olhava já como amigos, sem perigos, zanzando pelo quintal humanizado. Foi fotografado e parecia até fazer pose a cada tomada. E apenas fingia que de nós fugia quando alguma tentativa de tE-lo em mãos ocorria.
Hoje viveu seu dia final. Diferentemente de Pretty e Mel, que se acostumaram com sua presença, Pirka, a cadela de instinto caçador que parecia vir tolerando as vagrâncias de Rodriguim, numa zoeira, típica de sua raça abateu-o de um golpe, uma bocaça.
E nem vai precisar agora que Pedro lhe abra a porta celestial. Numa frestazinha ele passa. Vai ver até que perdoa algoz dona desse sentido atroz.