A formiga e a cigarra
1... 2... 3... 4 essa viagem é um barato!
4... 3... 2... 1 mas não é para qualquer um!
1... 2... 3 só para quem já é freguês!
3... 2... 1... meu coração faz tumtumtum!
1... 2... Vou contar tudo depois!
2... 1 tumtumtumtumtumtum...
Apertem os sintos, deixem o coração acelerado porque já é hora de começar a história... Não que ela ainda não tenha começado, começou sim... há muito e muito e muito tempo atrás, quando borboleta ainda era casulo e andorinha ainda estava no ovo, a Cigarra e a Formiga já andavam por aí, cada uma na sua: Dona Formiga levantava cedo, fazia o café, punha os óculos e ia pôr a mão na massa! Trabalhava, trabalhava e trabalhava com medo do inverno, de dias chuvosos e relâmpagos e trovões!
Enquanto isso, de galho em galho, de raiz em raiz, Dona Cigarra não queria outra coisa, trocava o dia pela noite, gostava de bailes e de cantorias, nunca quis saber se era dia de sol ou de chuva, nem lembrava que existia outro dia. Para ela, o importante era apenas aquele dia! Muitas vezes, quando ela ia chegando em casa, Dona Formiga ia saindo para o trabalho.
Certo dia, a Cigarra saudou a vizinha:
_ Bom dia! Que cheiro bom de café!
_Bom dia! Acabei de passar, ainda tem, quer uma xícara?
_Sim aceito! E quando vamos ao baile juntas? Você nunca sai, vive a trabalhar!
_Mas o inverno não tarda a chegar, precisamos armazenar mais comida! Em dias de chuva faz perigo sair de casa.
_Eu não acho! Gosto dos pingos das águas e das bolhas que se formam nas folhas, de usar casacos e botas. A chuva me traz frio, mas também me traz alegria.
_Tudo bem! Quem avisa amigo é!
A amiga formiga deu a xícara de café e partiu. De longe houvia a cantoria suave da amiga cigarra. Enquanto uma trabalhava, a outra animava o universo com suas cantorias.
Não tardou muito a cair as primeiras chuvas. Tudo inundado de água, correntezas, árvores caindo e o céu clareando de tantos relâmpagos! Um frio de congelar até a alma.
A formiga trabalhadora, toda precavida, tinha armazenado lenha, folhas para alimentação, tricotado meias e casaco de lã, estava em casa toda resguardada. Já a amiga que não pensava no dia de amanhã não tinha pensado em nada. Em casa sem madeira, folhas ou roupas para se agasalhar, tremia tanto com o frio que nem conseguia cantar. Desesperada, fraca, com medo dos raios e trovões, esperou uma estiagem e foi bater a porta da casa da amiga formiga atrás de uma xícara de café.
_Nossa, amiga cigarra, a senhora não está de boa aparência! Entre, tenho aqui roupas de frios do inverno passado, meias e luvas. Entre, estou sozinha mesmo, assim podemos fazer companhia uma a outra.
_Posso mesmo entrar? Não acho tão justo, enquanto a amiga trabalhava, eu simplesmente me divertia, não tive compromisso em pensar na vida, no dia de amanhã...
A amiga formiga soltou uma gaitada e tornou a falar...
_ É aí onde você se engana! Quando você chegava pela manhã, abria a janela de casa, mesmo deitava, ficava a cantarolar, sua música era estímulo para que eu trabalhasse ainda com mais satisfação.
As amigas entraram, puseram mais lenha na lareira, acompanhadas de uma boa garrafa de café bem quente e agasalhadas, sentaram na sala, a formiga a tricotar e a Cigarra a soltar os seus agudos... Pela janela, lá fora, apenas a água da chuva caindo alegremente, abrindo caminhos na terra.
E assim, as duas amigas passaram todo o inverno juntas aquecendo o coração com as histórias e canções de cada uma.