De grão em grão, eu tenho um milharal!

Vamos lá

Vamos aqui

Brincar de se encantar!

Vamos lá

Eu e você

Você e eu...

Remanin, remanin

Mandou dizer:

Era uma vez, era uma vez...

História de hoje: De grão em grão, eu tenho um milharal!

Toda manhã, sempre a mesma coisa: o galo cisca, o rato fareja, a formiga corta, o gato enterra, o cão pastora, o grilo e a cigarra fazem arte e a raposa faz de tudo, de tudo para aprontar!

Todos os dias a mesma coisa: o galo canta acordando todos! O rato ronca de barriga cheia! Fez a festa na cozinha, aproveitando a escapolida do gato galanteador ter saído para uma sessão de cinema com a gata da vizinha, de longe só se ouvia a musicalidade do encontro dos dois! O grilo e a cigarra dormem escondidos, com tampões nos ouvidos e nos olhos, os dois eram sindicalizados e sabiam dos direitos dos dois! Já que passavam a noite trabalhando, tinham direito de horas de sono de descanso. Quase não davam conta dos acontecimentos do dia.

Mas o cão era o cão mesmo! Não amançava o couro de nenhum! Pela manhã já estava esperto, mesmo depois de um noite de vigilância dobrada! Corria de um lado para o outro, ia até o patrão e lambia a mão, vez por outra ficava deitado em seus pés até ganhar um agrado!

Coitada das galinhas, todas tinham de produzir sobre pressão! Pela manhã cedo tinham de por tantos ovos quanto forem necessários para as omeletes, as frituras, os cozidos dos humanos. Aquelas que se recusassem iam para a panela sem choro nem vela.

Por isso que a raposa não dava trégua, ficava de longe toda cheia de astúcia querendo passar a perna no cão. Nessa manhã tentou se aproximar do gato, encontrando-o ainda escuro na volta para casa.

__Eu não posso acreditar no que me disseram! Não posso! Logo eu, logo eu que odeio fofoca! Mas se for verdade, o gato está em apuros e eu... __Dizia a raposa alto sabendo que o gato estava ali bem perto.

__Como? Estou ouvindo certo ou ouvindo demais? __ Miou desconfiado o gato.

__Não, nada demais, só estava pensando aqui com meus botões! Eu sou uma tonta mesmo!

__Mas eu faço questão de saber! Ouvi bem quando a senhora disse que eu poderia estar em apuros! __Falou medrosamente o gato.

__Coisas que o vento traz, sabe! Mas não acredito, logo o senhor que é o bichinho de estimação da...

__Não venha com enrolação! Todos sabem do ciúme do cão comigo. Ele sempre tenta me ver pelas costas.

__Por isso que eu disse que o que ouvi da boca da noite é coisa sem importância, coisa boba, malentendido! Conversa de comadre! Coisa que só quem diz é dente de alho cadeado...

O gato ficou furioso, tomado de uma curiosidade! "E se fosse verdade? Se o cão estivesse com ciúmes pelo fato dele dormir dentro de casa, em uma almofada confortável, enquanto ele passava a noite ao relento, pastorando a casa?" Não aguentou e olhando piedoso para a raposa astuciosa:

__Vamos, dona fofoca, digo, dona linguaruda! Quero dizer maldosa, ou, desculpe, estou nervoso...

__Tudo bem, tudo bem, amigo larápio, ou gatuno, somos parecidos...

__Então diga de uma vez! Deixe de tanto arrodeio! Fale logo de uma vez! Parece até um vendedor de qualquer coisa querendo passar qualquer coisa ao cliente!

__ Já que insiste tanto, sem querer eu ouvi a dona boca da noite sussurrando para a joaninha que o rato farejador falou para seu grilo que o galo tinha pedido para o cão que desse um jeito no senhor! Não aguentava mais tanta perseguição por sua parte! O rato, a senhora galinha e seus filhotes viviam amedrontados com os seus miados!

__Não!

__Sim!

__Você jura?

__Dou a minha palavra!

__ Não serve de nada!

__ Então eu juro! Pela nova raposa que sou, de desde anteontem! Essa é a mais nova versão de mim mesma! Mudei desde uma topada que sofri e bati com minha cabeça em um pé de jaca__ Dizia tudo com os dedos cruzados e a língua meio erlnrolada.

__Aquele galo miserável! Um zoadento de marca maior! Aquele mequetrefe de rato de meia tigela! Aquele cão bigodudo, cheio de carrapato nas orelhas! E agora? O que devo fazer?

__ E eu é que sei? __ Desconfiada __ Só ouvi quando a boca da noite bocejou dizendo que o plano era o cão espalhar queijo por toda parte da casa para que sua patroa descubra que você sai todas as noites, deixa a cozinha desprotegida e os ratos fazem a festa! Tudo isso ideia do galo!

__ Eu vou mostrar para aquele galo do que sou capaz: sairei de minha dieta e comerei cem ovos de uma vez! Comerei todos os filhotes recem-nascidos, tirarei o juízo das galinhas chocas quebrando todos os ovos dos ninhos e...

__ Muito bem! __Apaludia o gato com entusiasmo__ Não esqueça de mim!

__Como?

__ Lembre-se que eu estou te ajudando e nada mais justo que uma asa de galinha! Duas coxas suculentas de frangos! Algumas asas e coxas de galinhas mais gordas e um galo inteirinho só para mim!

__ Está doida é? Surtou de vez? Espere, veja quem vem logo ali! Pois não é o bandido do cão acompanhado do infame galo! Fique aqi que vou tomar satisfação com ele agora, na sua frente!

A raposa ficou logo de soluço, uma vontade mais medonha de ir ao banheiro! Suava mais que chaleira em fogo de brasa a ferver!

__ Desculpa, senhor gato, acabei de lembrar que tenho um compromisso com a amiga tartaruga! Vamos visitar um abrigo de tartarugas idosas e não posso mais me demorar...

Tentou sair o mais rápido possível, mas o gato, esperto que só ele, pôs o pé e a raposa tomou, caindo direto em uma arapuca armada para pegar cobras!

Esclarecidos os fatos, nenhuma dúvida do plano ardiloso da raposa de colocar os animais em desarmonia. Ela teve o que mereceu!

Foi acorrentada pelo pé, levada ao milharal e fazer o trabalho de todos por uma semana sem reclamar!

A moral da história, acredito que todos já sabemos, porque de grão em grão, a gente tem um milharal! Trocando em grãos: dizer que ouviu de fulano, que soube por sicrano, que alguém disse bocejando, tudo não passa de disse-me-disse de quem não tem o que fazer!

A Fazenda não voltou ao normal não, pois com a folga, os animais fizeram uma baita festa que durou os dias de trabalho duros da raposa astuciosa!

Contei do jeito que aprendi! E você? Vai ter de contar sem mentir.