OS HABITANTES DA CARTILHA
Descansava, sobre a mesa da sala, uma cartilha colorida, cheia de desenhos e letras. Já era noite. A dona do livro dormia e, como ela, todos da casa. O silêncio era total.
Nisso surgiu, não se sabe de onde, um vagalume com sua luz piscante. Voou pela sala e foi pousar na mesa onde estava o livro. Ficou ali parado. Olhando tudo quando ouviu um “psiu”. Como não viu ninguém nem ligou. Novamente o “psiu” se fez ouvir, então perguntou:
- Quem está aí?
- Aqui Vagaluminho, neste livro pertinho de você. Abra bem devagar. Eu sou a letra “A”. Será que você pode iluminar as folhas para eu fazer uma visita a minhas amiguinhas?
- Claro que sim. Estou curioso e quero conhecer um livro por dentro. Vamos lá!
E a letrinha “A” virou a página do livro, mais leve que a capa, e bateu à porta da letrinha “B”.
Olá amiga! Este é o amigo Vagaluminho. Ele quer conhecer a morada das letras.
Então a letrinha “A” virou-se para o Vagalume e disse:
- Vagaluminho, apresento-lhe minha amiga a letrinha “B” ela é a segunda na ordem. É uma consoante. Consoante das boas. Com ela você pode formar as sílabas de tudo que mais gostar. Por exemplo: b+o faz bo, a partir daí você pode formar palavras como bo-la, bo-lo ou ba-ta-ta. Tudo soa bonitinho porque ela tem som próprio. O mesmo você pode fazer com todas as letras do alfabeto.
A letrinha “B” ficou encantada em conhecer o vagalume e já foi preparando bo-bó – bo-lo – bis-coi-to e bis-te-ca para agradar o vagalume. Ele estava adorando, nunca vivera uma aventura como aquela.
Foram percorrendo, de baixo para cima, o longo “caminho suave” do saber comentando, comparando e aprendendo. Lá embaixo visitaram a letrinha “X” e tomaram uma xí-ca-ra de água. Subiram um pouco até a casa da letrinha “J” para cumprimentar o ja-ca-ré que estava com o pé enfiado na ja-ca. Um pouco mais para cima ficava a horta da letrinha “B” onde eles pegaram ba-na-nas e partiram para a casa da letrinha “M” para presentear o ma-ca-co que não conseguia tirar a mão da cumbuca. Seguindo outro caminho foram parar no jóquei clube da letrinha “C” onde se ouvia a voz do narrador ecoando no ar: - Ca-va-lo, cor-re, con-so-an-te, cas-co. Saindo do jóquei eles foram diretos para o cassino da letrinha “D” onde o jogo rolava da seguinte forma: de-dos, dan-do, da-dos, di-nhei-ro, de-sa-pa-re-ce. Foi na casa da letrinha “S” que eles encontraram um sa-pa-to e levaram para a lagoa onde o sa-po lavava os pés. Atravessaram a ponte e chegaram à lanchonete da letrinha “Q” onde um rato muito esperto roubava pedaços de quei-jo. Seguiram para o riacho da letrinha “P” para ver um pes-ca-dor sendo tapeado por um pei-xe que não mordia a isca por nada no mundo. Pararam diante de um tumulto na rua da letrinha “F” porque alguém gritava: - Fo-go no fran-go fres-co! Seguiram para a feira da letrinha “L” que gritava: - La-ran-ja, li-ma, li-mão não quero! Finalmente chegaram à ladeira da letrinha “T” que subia e descia recitando: - to-la, tar-ta-ru-ga, ten-tan-do, ti-rar, ta-tu da to-ca.
Exaustos eles chegaram à penúltima página. Havia um pequeno texto e Vagaluminho começou a prestar atenção nas sílabas, agora transformadas em frases. – Interessante - disse ele -, esta letra “C” tem um rabinho nos fundilhos. Eu não havia reparado.
- Não é rabinho é cedilha. – respondeu a letrinha “A” olhando para o vagalume.
- Serve pra quê?
- Para dar som de “S” ao segundo “C”, senão as crianças leriam: “O cacador, na época da cacada, deixa algumas cacas no mato.”
Dito isso, a letrinha “A” pediu ao vagalume que a acompanhasse até á primeira página onde ela mora. Chegaram. A letrinha “A” agradeceu a gentileza do vagalume por ter iluminado a cartilha para que ela pudesse visitar as amigas. Ele, sorridente, disse adeus com estas palavras, mostrando que a visita foi válida:
- Va-ga-lu-me, va-gan-te, vol-ta, vi-si-tar.
(texto infantil de Maria Hilda de J. Alão)