Cuero argentino
Cuero argentino
Eu, no lugar do pai num tinha cometido aquela loucura de comprar uma bola de couro e câmara de ar importada pro seu primogênito masculino não. Mas o velho tinha uma crença e um entusiasmo com o meu potencial futebolístico que não carecia nem pedir para ele atender aquele desejo tão genuíno, quanto fadado ao fracasso.
Era uma bola bonita, número um. As com que os adultos jogavam eram as número cinco, papai me explicava com aquela presciência dum Valdemar de Brito quanto viu o pivete Edinho nos campos do Baquinho. E não é que os argentinos, nuestros hermanos buenos de pelea y de pelota, tem também desde pibes essa esperança de se tornarem um dia um Baldonedo, um Martino, un Boyé...ou ainda o grande Bernabé, se não conhecem, dêem uma mirada na letra que segue abaixo, dum tango composto em 1945, antes, portanto desses portentos que foram Dom Pelé, e Don Dieguito.
E quando fui com o mano Beu à casa do Zé do Bejo, na beiradinha do campo do Brumado Futebol Clube levar a bola para que fosse enchida de ar, ao retornar, atravessando aquele tapete sempre verde resolvi dar um bico na menina e senti, de imediato, aquela pontada aguda no dedão. Pronto, podia culpar a falta de chuteira ou a forma como abordei o esférico.
Mas aquele primeiro talvez tenha sido muito próximo do derradeiro pelotazo meu. Na ruela estreita e empoeirada em que vivíamos, as peladas se revolviam e se resolviam em torno da borracha. E mais era a rapaziada já mais crescida que fazia a festa.
Poucos anos depois, com nossa mudança para Pitangui a bola vagou a esmo pelo quintal e nem uma arvinha achou para repousar à sombra.
Duma das últimas vez que nos vimos, foi sob a reprovação de mamãe que disse, desesperançada do Sueño de um Pibe, que papai um dia acalentara para mim:
- Seu pai teve tanto trabalho para te dar essa bola argentina, e você deixa ela aí apodrecendo ao sol e na chuva...
Sueño del pibe
Golpearon la puerta de la humilde casa,
la voz del cartero muy clara se oyó,
y el pibe corriendo con todas sus ansias
al perrito blanco sin querer pisó.
"Mamita, mamita" se acercó gritando;
la madre extrañada dejo el piletón
y el pibe le dijo riendo y llorando:
"El club me ha mandado hoy la citación."
Mamita querida,
ganaré dinero,
seré un Baldonedo,
un Martino, un Boyé;
dicen los muchachos
de Oeste Argentino
que tengo más tiro
que el gran Bernabé.
Vas a ver que lindo
cuando allá en la cancha
mis goles aplaudan;
seré un triunfador.
Jugaré en la quinta
después en primera,
yo sé que me espera
la consagración
Dormía el muchacho y tuvo esa noche
el sueño más lindo que pudo tener;
El estadio lleno, glorioso domingo
por fin en primera lo iban a ver.
Faltando un minuto están cero a cero;
tomó la pelota, sereno en su acción,
gambeteando a todos se enfrentó al arquero
y con fuerte tiro quebró el marcador.