CONVERSA DE TÊNIS
Do Bebê
Eu sou um tênis feliz
Calço o pé de um bebê
É a vida que eu sempre quis
Macio e cheiroso, vem ver!
Dos mais crescidos
Ah, sorte tão cruel a minha
Calço os pés de uma turminha
Que joga bola na laminha
Do campinho da escola.
Sinto-me duro de tanto barro
Sujeira de cão e óleo de carro
Ainda sou dos moleques luvas
De luta de box de brincadeira.
Do Bebê
Olhe pra mim! Não fico de molho
Ao passo que você parece repolho
De tão sujo está roxo, ahahaha,
Vai pra máquina de lavar.
Depois num varal será pendurado
Pelos cordões amarrado.
Se lembrarem o recolherão ao fim do dia,
Ou dormirá no sereno com medo de fantasma.
Dos mais crescidos
Oh, Deus! Terei de agüentar o tranco
O sabão em pó e a zoeira do canto
Desta invenção que era pra roupa
Agora vale até pr’um pobre tênis.
Do Bebê
Viu no que deu sua exibição
Quando chegou aqui numa caixa?
Riu do meu tamanho e da coloração,
Eu sou mais eu, não fedo a chulé não.
Lembra que me desafiou?
Anão! Foi assim que gritou
Não sou anão, sou o tamanho certo
Desta criança... opa! O cocô passou por perto!
Dos mais crescidos
Tênis não sabe o seu destino.
Vai parar nos pés de um menino
Que corre, pula muro, a canela esfola,
E ao marcar um gol, isso nos consola.
Não ria de mim, irmão tênis de bebê,
Uns nascem com sorte, outros sem,
Mas saiba que apesar de tudo sou feliz
Mesmo velho e sujo sou o preferido do Luiz.
05/08/07.