O Sineiro do Bom Jesus
Singelinha como ela só, a capela do Bom Jesus não deixa de continuar um encanto. Toda alva de paredes e de portas e janelas azul-claras. Situada no meio do morro da Paciência quando de sua origem - que cheira a coisa do século XVIII, ela hoje está incrustada no coração ampliado da cidade de Pitangui, a chamada Sétima Vila do Ouro da Província das Minas Gerais.
O ouro, que era mormente de aluvião não demorou muito a esgotar, mas o brilho, e o brio, nunca deixaram a Velha Serrana, dos casarões coloniais, das serestas imortais, das disputas figadais e, muito menos da fé de nossos ancestrais, que quase nem cultivamos mais...
Nas celebrações da Semana Santa, cuja gravidade já foi tanta, invariavelmente na Quarta da Paixão, é o Senhor que, da dita capelinha, sai em seu andor - carregado e acompanhado sempre pelos varões - ao encontro de sua Mãe Maria, ela que por sua vez, provém da igreja de São Francisco, sita em subida oposta da cidade, acompanhada somente pelas mulheres. Ambos, Mãe e Filho, após sinuosos trajetos confluem para a rua Padre Belchior, central, onde sob a compunção dos fiéis, e a prédica inflamada do vigário encontram-se e se despedem, na preparação para o Calvário.
Em tempos não muito remotos, cinco, seis décadas, o movimento da capelinha do Bom Jesus não se circunscrevia à Quarta do Encontro, ou às preces e recolhimento dalgum vizinho ou eventual passante. Não. Tinha muito mais atividade, como missas regulares, catecismo, encontros de jovens e um fervor que fervia, quiçá até no recesso de sua sacristia.
E tinha sineiro também, para convocar os fiéis. Um menino, aliás. E bem vizinho da capelinha, dali do Beco dos Canudos, o que favorecia sua pontualidade. E que anos depois se mudaria para Belo Horizonte para a sua realização familiar, acadêmica e profissional bem sucedidas, e tanta outra alegria da vida, mas que nunca se esqueceria desse seu gregário alvorecer que, quem sabe, pode até no seu "résumé" aparecer? Pode crer.