Entre linhas...
No ano de 1959, cursávamos o segundo ano escolar no Grupo Tangará, sob a regência de Dona Zinha. O ano prometia: o meu Fluminense iria sagrar-se campeão carioca, com aquela formação famosa, Castilho, Jair Marinho, Pinheiro, Altair e Clóvis... - xi, já me exquexi...; o Papa Angelo Roncalli, João XXIII iria completar um ano de fértil pontificado, e Juscelino capitalizava em torno da Novacap, com a impetuosidade de um cruzado...e nossa diretora, egressa de uma intervenção cirúrgica, se restabelecia de forma auspiciosa. Dona Cármen Itala César. Mulher de fibra e de uma meia dúzia de filhos, que iriam brilhar na vida profissional que iam, paulatinamente abraçando.
Dona Zinha, também zelosa mãe e educadora, concitou-nos a prestar solidariedade à diretora convalescente, incumbindo-nos de fazer a manifestação por escrito, por meio de uma cartinha. A lápis, e com o coração.
Embora as meninas da sala fossem de regra - e bem antes dela chegar, até - mais articuladas e caprichosas nas suas idéias e grafia, não sei por que cargas d´água, minha composição foi eleita pela mestra como a representativa da turma.
Gostei daquela distinção. Minha meia página de caderno havia sido suficiente. Mas não era tudo, não estava ainda completo o trabalho:
Dona Zinha, que bem entendera meus garranchos, achou por bem que eu deveria passar as mal-traçadas a limpo. E o tempo escolhido, foi justamente o do recreio.
Com merenda até que eu não me importava muito, e nem merendeira tinha. Mas perder o recreio... E, sem chance de recusa, ou de pedir arrego, pus-me a trabalhar - enquanto a manada se divertia. Uma labuta, agravada ainda pelo fato de eu ser canhoto e, portanto, deslizar a mão suarenta, sobre a escrita.
Que a obra-prima foi entregue, e lida, não duvido. Só queria mesmo - e ainda aguardo, pacientemente, a resposta ao remetente.