Eupeu sempem ninpinguémpém...
Aquelas meninas recém-chegadas na nossa rua não me davam a menor pelota, mas me deslumbravam assim mesmo quando nos folguedos de fim de tarde soltavam a voz, e me pegando pela mão, me prendiam, de forma atroz, as batidas do coração.
E não mais do que de excerto do refrão me lembro agora: você gosta de mim, oh, fulano, e eu também de você...E embora meu nome nunca fosse pronunciado naquelas juras, eu sentia um quase arrebatamento, na esperança de que minha vez ainda havia de chegar.
E a magia não terminava ali, já adentrada a noitinha quando todos de pés lambrecados da poeira, nos escarrapachávamos sobre alguma
graminha, ou barranquinho, e aquela linguagem misteriosa surgia de suas bocas e parecia que só minha irmã maior La Toya lhes respondia no mesmo tom...mas nunca revelava.
E se breve foi a passagem daquelas garotas por nosso meio, pois seu pai, aparentemente funcionário da rede ferroviária fora transferido para outro lugar, a lembrança delas me seguiu, por décadas a fio até que, como num desvario, ouvindo de outras bocas algo tão familiar, deduzi que era a língua do pê que viviam a falar.
E enquanto Odair José lamuriava sua solidão na radiolinha, senti-me seu companheiro, eupeu sempem ninpinguémpem, tentando com o vento dialogar...