A Perereca
Havia naquele brejo uma Perereca que se diferenciava das suas irmãs. Enquanto umas passaram a reclamar da lama outras falavam do calor, sujeira. Perereca Sorriso, como era chamada, fazia exatamente o que gostava de fazer: Coaxar, sorrir. e tirar uma soneca, claro!
E não é que o sorriso da perereca incomodou um velho sapo morador do lugar? Através de um abaixo-assinado liderado por ele e aderido por outras pererecas, decidem expulsar a Perereca Sorriso do brejo. Uma comissão foi formada para comunicá-la a decisão do grupo.
_ Perereca, estamos aqui para te trazer uma notícia não muito boa…
Perereca com um sorriso, olha para cada um dos amigos e diz:
_ Fiquem à vontade, vocês querem falar comigo? Antes deem uma olhadinha nesse Sol, veja como ele hoje amanheceu mais brilhante. O dia está uma maravilha, não está? Ah, se tivesse chovendo eu também não iria me incomodar, pois tenho meu esconderijo ali, venham! Lá tenho almoço, posso dividi-lo com vocês…
E um olhava para o outro disfarçando, diante de tanta gentileza, não encontravam palavras para informá-la sobre a expulsão.
_ É… É… aconteceu um imprevisto… Seu sorriso… Seu sorriso… _ Fala o Sapo Conversador.
_ Sim, até agora não me disseram qual é a notícia ruim… Já sei, vocês querem descobrir o porquê estou tão contente? Isso não é ruim, o riso faz bem para a saúde.
_ Sim, por que a senhorita tanto sorrir?
_ Amigos, estou viva! Estamos vivos! Se eu chorar vai mudar o rumo das coisas? Olhem para vocês que tanto se lamentam, só aumentam os aborrecimentos para si mesmos. E como as testas ficam franzidas aumentam as rugas.
_ Mas o seu sorriso está parecendo uma provocação para as nossas lamentações! _ disse um sapo velho e invejoso que nunca conseguiu sair daquele lugar.
_ Provocação?! Por que não sorrimos juntos? Aprendam a valorizar cada coisa recebida, seja ela boa ou ruim. Todas servem de experiência!
De novo o sapo velho interfere, o único que teve coragem de falar com a Perereca sobre a expulsão, afinal foi o coaxar da perereca que o irritou, ao tentar imitá-la, percebeu que não tinha mais a mesma vitalidade.
_ Seu canto é horrível! Seu sorriso me incomoda! Você não tem mais espaço aqui! Então decidimos expulsá-la! Você pula para lá e para cá, não fica num só lugar. Saia, agora!
A Perereca Sorriso deu uma gargalhada e disse:
_ A minha expulsão não resolverá o seu problema, caro Sapo Conversador. Você não se incomoda com o meu sorriso, mas com a minha felicidade, é diferente. Quando a felicidade do outro passa a incomodá-lo é grave, gravíssimo. Sabe por quê? Onde eu for você me seguirá. Poderia ser um abraço, um beijo, um aperto de mão… hoje, você se incomodou com o meu sorriso e amanhã? Mas, saio tranquilamente. E se minhas irmãs entenderam o que eu disse, irão me seguir.
Perereca Sorriso deu um pulo e saiu do brejo, coaxando, pulando e sorrindo, acompanhada de várias pererecas formando um enorme coral, para a alegria de outras pererecas que as receberam com um grande sorriso na Lagoa da Amizade, bem perto do brejo.
E o Sapo invejoso? Ao perceber a recepção que Perereca Sorriso e suas irmãs tiveram na Lagoa da Amizade, inchou, inchou e explodiu, permanecendo no brejo para sempre.
Moral: A inveja é corrosiva, capaz de levar sapo para o brejo.
Elisabeth Amorim/ 2015 (postada no blog toque poético, jun/2015)
* Texto criado a partir da leitura do HAIKAI “PERERECA” do escritor mineiro FÁBIO BRANDÃO (Recanto das Letras)