(20/40) Naquele reino...

Nada era monótono naquele lugar. Quem disse que vida em fazenda era um tédio só, com certeza ele é quem era entediante.
Brunini trabalhava e descansava, ao mesmo tempo. Assim é que se sentia. Observar a rotina da fazenda e a vida de Lolla no seu meio era o mais delicioso dos trabalhos. Já escrevera bastante, por onde andava carregava seu “lap top” para não esquecer de nenhum detalhe.
Rod Mel tomou-se um grande companheiro para Beto, o carneiro. Os dois ficavam a conversar coisas de macho. Lolla por sua vez, ficava com Rubenita e Cida, dava assistência a Lolô no seu regime, ouvias as histórias de Jocilei e por vezes ficava sozinha só a observar as coisas a sua volta. Isso, quando não estava com sua tutora Alice.
Tutora! Será que não era Lolla quem tutelava Alice?
       -Repare como Brunini só vive agarrado com aquela maleta computadorizada, - fala Lolla para Alice - Isso tudo é fuga.
       -Fuga de que, Lolla?
       -Toda pessoa que trabalha em excesso está fugindo de alguma coisa. Veja, ele está há um tempo conosco e não sabemos nada dele. Será que esconde algo?
       -Que coisa! Você não está exagerando? De repente não tem nada pra contar.
       -Qual é Alice, como alguém com uma atividade dessas não têm nada pra contar? E as histórias que ele já escreveu? Vai-me dizer que é sigiloso.
No final da semana, Alice resolveu fazer uma festinha em sua casa. Convidou os amigos para um daqueles momentos de que mais gostava:
Confraternizar.
Para Brunini foi algo interessantíssimo. Na festa as ovelhas podiam circular com as pessoas, numa boa, elas eram consideradas partes da família. Ari ou Dr. Nogueira estava tocando violão e cantando uma canção que fez para Alice.
       -Ó Ari é linda! Nunca pensei que, algum dia, alguém compusesse pra mim. - fala Alice emocionada.
Conversa vai, conversa vem... Dias vem e vão...
       -Alice vamos dar uma volta na cidade, faz tanto tempo que não vou lá? – Lolla pede.
Chamaram Brunini para ir junto, o que ele logo aceitou.
Quando Lolla aparecia na cidade, as pessoas sempre davam um jeito de abordá-la. E ela tinha a maior paciência e atenção para com todos.
O céu começou a escurecer, com certeza cairia um temporal.
       -Vamos embora, Lolla, antes que fiquemos atolados na estrada, Brunini não está acostumado com temporais no campo, pode ficar assustado. - brinca Alice, olhando para ele.
Não deu tempo, a chuva começou a cair torrencialmente. Procuraram um abrigo junto ao posto de gasolina. Foi terrível. Relâmpagos, trovões e água subindo... Depois de uma hora, mais ou menos, saíram para ver o estrago. Postes caíram junto com árvores arrancadas pela raiz, tamanha foi a força do temporal. Numa rua, um galpão improvisado caíra; choros e gritos se ouviam de uma pequena multidão que estava vendo a cena de destruição.
       -Que aconteceu? - pergunta Brunini com faro jornalístico.
       -Aqui era o abrigo em que morávamos, foi cedido pela prefeitura. Perdemos tudo pela segunda vez. Nosso prédio caiu com problemas de estrutura no início do mês passado e a prefeitura nos alojou aqui provisoriamente... - responde uma mulher com olhar atônito.
Lolla chama Alice no canto e pede:
       -Podemos alojar essas pessoas na nossa fazenda por uns dias? Até a prefeitura providenciar algo.
       -São muitas, Lolla, não vai caber esse povo todo.
       -É uma emergência. Fazemos um acampamento.
       -Isso não dá certo! Sempre trouxe problemas.
       -Eu não quero saber, se tivesse no lugar de uma delas iria gostar de ser recebida numa casa como hóspede. - retruca Lolla.
Brunini não fala nada, só observa.
      -Alice nós temos local e condições. Vamos fazer, o resto, Deus proverá.
Alice chama as pessoas para ouvi-la.
      -Quem não tiver nenhum parente que possa recebê-los eu ponho à disposição a nossa fazenda para que fiquem abrigados e até os problemas com moradia serem resolvidos.
Surpresa era a expressão no rosto daquelas pessoas.
Olharam para o casal e uma ovelha. Eles viram a salvação. Como Maria, José e a ovelha, e Jesus agindo invisivelmente.


Continua amanhã...