Nova idade: entrando de sola
Tibebé ia pouco lá em casa, ao contrário das mais assíduas irmãs Cintina e Lia. Vivia sempre ocupada, e sim, preocupada. Raro era poder ouvir uma história de sua boca. Rezava muito e pouco ria. A contabilidade da casa era ela que fazia, enquanto panos na fapa não tecia.
E aquela chegada repentina sua numa manhã de julho pegou-nos todos de surpresa. E ela mesma foi desembrulhando seu pacote sobre a mesa:
era um par de sapatos pelos meus cinco anos, meu primeiro lustro de vida.
Marronzinhos, de amarrar, de couro e sola, que lindo par. E não sei como ela sabia exatamente o tamanim de meus pés. Cirtim como cinco e cinco fazem dez. Sem me caber de contentamento, saí aos saltos rumo ao quintal naquela euforia que boa coisa não prenuncia. E acho que não mais eu bramia que tinha sapatos novos que a irmandade não tinha.
Mal transpus, aos pulos irrefreáveis, a porta da cozinha, alcancei a horta que variada verdura tinha, malgrado ser pequeninha. Evitando pisar nas alfacinhas, fiz à volta dos canteiros as rotas minhas.
Antes de mim, contudo, Navio, cachorrão que era do vizinho, mas visitador de todos os quintais, por lá já havia passado, e sinal de sua passagem, por lá deixado. E foi onde pisei e de onde ao choro convulsivo passei. Merde, en français, juro que não gritei. Só me desconsolei. E os sapatinhos surrados, desabandonei.