Passarinho encolhido
Vovô Valdemar era sisudão, mas era bom seu coração. Um dia, chegado a Divinópolis para visitar a família do filho Galdino, a nora Totóia e sua ninhada de três petizes então, mimoseou-os com uma pássaro-preto já na gaiolinha.
E que festa passaram a ser os dias que se seguiam. Todo mundo queria brincar com o novo inquilino que, a início meio aturdido, foi se relaxando, relaxando ao tratamento amistoso que recebia que só lhe faltava sorrir. Com todos os dentes. Virara o xodó da família.
Uma bela manhã, contudo, ao se levantar antes antes da turma, como era seu hábito, Galdino foi dar uma espiada no companheiro dos madrugares. Qual o quê: custou a crer na cena com que se deparou, enquanto os olhos marejou. Tava de pezinhos pro ar o pássar-preto. E enlutadinho, já o bichinho.
Matutando o sofrimento da avezinha que partira assim tão repentinamente, Galdino passou a pensar imediatamente na dor da meninada quando a notícia do infortúnio lhes fosse dada.
Nem hesitou, no fusca entrou e para o mercado se mandou, quee até as exéquias do falecido enrolou. Voltou do mercado com um similar que teve a felicidade de encontrar.
Ao despertar, o primogênito Gugu, antes até do matinal urinar, deu sua passadinha para o bom-dia ao engaiolado. Observador que era, passou seus minutos à volta do bichinho, atônitos ambos, e Gugu, fez sua incrédula indagação à assistente do lar que já havia chegado:
- Choveu ontem de noite?
Ao que veio a negativa:
- Não, claro que não!
E a perplexidade filosófica do menino, externada então:
- Ué, como é que será que o passarinho encolheu?