Zé Orelha, o camundongo camarada
HISTÓRIA DE HOJE: ZÉ ORELHA, O CAMUNDONGO CAMARADA
DESCRUZA OS DEDOS
PRA HISTÓRIA COMEÇAR
CONTO ESSA
CONTO AQUELA
POSSO ATÉ CONTAR BEM MAIS
SÓ NÃO CONTO BEM CONTADO
SE VOCÊ NÃO SE CALAR!
De longe já se ouvia o ronco da roda velha da carroça enferrujada. Parecia malassombro, já não bastava o vendedor!
Chamava-se Zé Orelha, um homem alto, branco, queimado do sol, olhos esquisitos, um pouco corcunda e orelhas enormes. Era o vendedor de frutas e, dizia as más línguas, bebia sangue de criança e comia o fígado para evitar que as orelhas crescessem ainda mais!
Morava na última casa da rua, a que ficava mesmo na curva que dava para o descampado. Uma casa velha, antiga, toda cercada com arame e um portão pesado. Para completar tinha um pé de algaroba enorme na frente e muito mato seco ao redor.
Vovó Lucrécia dizia que o povo falava demais, tinha a lingua enorme que nao cabia na boca! Ela gostava de comprar, todas as manhãs, frutas a Zé Orelha porque eram bonitas, de encher os olhos. Não acreditava na história descabida dos linguarudos que ele era fruto de um feitiço mal feito! Para muitos, ele era um rato que foi transformado em homem.
Naquela manhã, vovó Lucrécia comprou uma melancia, algumas bananas, laranjas, uma graviola e maçãs, nossa, maçãs suculentas, de encher os olhos de todos e todas. Arrumou todas em uma cesta e colocou sobre a mesa.
Maria Clara saiu do quarto, descia a escada quando ainda escutou o barulho infernal das rodas da velha carroça do vendedor de frutas passando pela rua, chegou a ficar meio encabulada, mas os olhos mergulharam de contentamento na vontade de saborear as frutas sobre a mesa.
Vó Lucrécia, de costa, sentindo o cheiro da neta, ordenou que sentasse a mesa e comesse! Não queria uma neta magra, fraquinha e sem sangue. Falou permanecendo no mesmo lugar, estava preparando uma torta de banana para logo mais.
Maria Clara sentou à mesa e ficou assustada com o que viu! As frutas criaram vida! A melancia era um rosto enorme esverdeado, as bananas eram as loiras soobrancelas, as laranjas viraram olhos, um enorme nariz de graviola e a boca feita de deliciosas maçãs. Os caroços da graviola iam saindo, iam se tranfrmando em moscas ferozes, os olhos de laranja escorrendo lágrimas e na boca de maçã, ela via uma enorme serpente saindo, pronta para dar o bote. Sentir-se presa na cadeira, mas conseguiu por as mãos nos olhos e quando tirou, ainda sem ação, foi surpreendida com a cara do Zé Orelha acabando de aparecer na janela: apenas o olho esquerdo aberto, o direito fechado com um inchaço sem fim, o nariz tomando a maior parte do rosto, a boca entreaberta a mostrar os dentes faltosos. Sem ação de chamar pela avó, Maria Clara pisou forte no rabo do gato Totó deitado aos seus pés, debaixo da mesa!
Totó soltou um miado tão forte que uma ventania passou como um furacão dentro da casa!
Olhando para a janela, Maria Clara não via mais a imagem do Zé Orelha, as frutas na cesta apenas esperando a degustação e a subida e descida da faca nas mãos da vovó Lucrécia a cortar bananas!
O gato Totó estava no pé da mesa a lamber um Pires com leite e Maria Clara a pegar uma deliciosa maçã, dessas que a gente só vê em contos de fadas e levanndo a maçã à boca, aplica-lhe uma mordida saborosa!
Mordeu um pedaço enorme e o olhar direcionado à janela, no instante em que a cortina se abre e a cara de terror do Zé Orelha aparecendo lá com um jerimum enorme!
Tomada de susto, com a boca cheinha de maçã, Maria Clara mais uma vez pisa no rabo do gato Totó que fica todo assanhado, com o pelo estrepado, partindo em direção à janela.
Zé Orelha atrapalhado joga pra cima o jerimum que cai sobre a cabeça do gato Totó. Vovó Lucrécia se vira de avental, com a banana na mão, percebe a neta engasgado com o pedaço da maçã, corre em Socorro, brigando com o gato Totó por ter estragado com o enfeite que ela tinha feito com o jerimum para a festa das bruxas e tinha deixado na janela para secar. Bate forte nas costas da neta, fazendo sair um pedaço grande de maçã que vai parar mesmo no olho do gato Totó!
Naquele momento, um rato enorme, um gabiru orelhudo e corcunds passa por debaixo da mesa, sobre os pés da Maria Clara que se arrepia, em direção a torta de banana!
Totó fica sem ação, coçando o olho, depois dos ralos da vovó Lucrécia. Maria Clara silenciada pelo medo e vovó Lucrécia sem saber mais o que fazer, larga a banana, vai até a porta, pega a vassoura, sai de casa para varrer o terreiro.
Na verdade, vai mesmo salvar a pele do amigo de longa data, vai para um passeio em sua vassoura porque, sem que ninguém percebesse, o amigo rato, a essa altura, já está escondido no bolso da saia da vovó para não ser visto.