O TAPETE ARCO-ÍRIS
Os dois eram grandes amigos desde sempre, gostavam de correr livre pelas terras do Reino atrás da felicidade. Um era filho do rei, herdeiro do trono e de todas aquelas terras, o outro era filho do cuidador dos cavalos.
O Príncipe chamava-se Alexandre, era um jovem bonito, talentoso, robusto, admirador das grandes cavalgadas e de torneios olímpicos. Nunca se deixou levar pela arrogância e dissabores do poder, sempre risonho e de um coração aberto para tratar bem quem quer que fosse.
O amigo de infância se chamava Emanuel, jovem igualmente preparado, sabia como montar um cavalo, preparar uma caça e tratar como ninguém todos os elementos da natureza. Nas horas vagas, gostava de plantar flores, tomava de conta do Jardim da rainha, madastra do Príncipe, um megera odiada por todos pelo jeito prepotente e arrogante de tratar os subalternos. A rainha não via com bons olhos a amizade de um Príncipe, uma realiza, com um serviçal sem prestígios sociais. Ela fazia de tudo para afastar is dois.
Houve um tempo em que os amigos tiveram que ser separados, por manobra da madastra, o príncipe precisou fazer uma longa viagem de negocios com o rei para que pudesse conhecer as responsabilidades da família real. Emanuel teve de ficar no Reino a pedidos da rainha, nao queria que o Jardim fosse descuidado e não confiava em outra pessoa para tal missão. O rei assim ordenou.
Os amigos sentiram muito essa distância, por mais que o Alexandre insistisse, o rei foi irresoluto na decisão. Antes de partir, Alexadre foi ter com o amigo lá no Jardim e por descuido teve seu dedo furado por um espinho de uma rosa colhida naquele instante pelo amigo Emanuel. Sem pensar muito, ordenou que o amigo fizesse o mesmo, que espetasse o dedo no mesmo espinho da rosa que fizera aquilo com o dedo dele. O amigo obedeceu, pelo tom da voz, não viu ali o amigo, mas o filho do rei. Por instante achou estranho, não estava reconhecendo o amigo sempre amável e cor real.
Ambos com os dedos sangrando, Alexandre pediu que Emanuel encostasse o dedo dele no seu, olhando um no olho do outro, viram-se com os olhos marejados, depois
Vossa alteza disse que aquele era o compromisso de que um deveria esperar pelo outro, que o sangue que corria na veia de um, era o sangue que corria na veia do outro. Em seguida, passaram o dedo com sangue um nos lábios do outro, ambos se prometeram, se abraçaram e trocaram beijos. Cavaram um buraco, pegaram algumas sementes e plantaram ali a roseira que seria símbolo do amor dos dois e que Emanuel acreditasse, com o florescer das primeiras rosas, o principe voltaria e anunciaram o amor dos dois.
Emanuel colheu outra Rosa e deu ao amado, dizendo que aquela seria uma parte dele que iria com ele...
Não perceberam que do alto, da janela do quarto, a rainha tudo via, tudo escutava e uma onda de cólera, de descontentamento e reprovação a tornavam ainda mais vingativa. Fechou a janela e não desceu para jantar naquela noite.
Depois da lua, na manhã ainda escura, a caravana partiu e por trás da poeira apenas a lembrança de dias bons, de corridas e banhos na Cachoeira com o amigo. Emanuel ficou triste e cheio de saudade. Queria ter ido, queria estar perto do amigo, queria poder protegê -lo de tudo. Ficou a lembrar das manhãs de cavalgadas, das subidas nas árvores e das leituras que faziam estidos na grama. Com o amigo ele aprendeu a Lee e a ter sonhos grandes.
Com o passar dos dias, Alexandre percebia que a rainha não falava com ele com tanto agrado, gritava, muitas vezes reclamava que as rosas estavam perdendo a vivacidade, pareciam descuidadas e doentes. Ficou proibido de fazer as refeições na cozinha do Palácio e de subir as escadas sem permissão. Os trabalhos sobravam e para ele as atividades mais pesadas. Ela o humilhada e o tratava com desprezo.
Emanuel se entristecia, redobrava os cuidados... Cuidava também das sementes plantadas por eles. Quando recebia os descontentamentos da rainha, lembrava-se da promessa do amado. A rainha chegou a propor mudança no jardineiro e a transferência do Emanuel para outras terras mais distantes. Ele se recusou, disse que só sairia dali depois que o rei voltasse.
Um mês e meio depois da partida, chegou no Reino uma jovem simpática, corpo largo, cabelo avolumado e um cheiro que de longe se sentia. Era uma jovem encantadora, recém-chegada de terras estrangeiras, filha da rainha megera ou da megera rainha. De propósito gostava de arrancar as rosas e depois deixá-las por aí. Não falava com quase ninguém, mas adorava dar ordens.
Três meses depois, depois de sol, chuva e saudade, três botões abrolharam e uma alegria invadiu o coração do jovem Emanuel, aquelas rosas seriam a certeza da volta do amado.
E assim foi, dormiu ao relento com uma fogueira acesa, foi acordado com os primeiros raios do sol, correu para ver a roseira e para sua tristeza e decepção, as rosas não estavam mais lá. Ficou desesperado, triste, as lágrimas já rolando pelo rosto, ajoelhiu-se ali mesmo e não viu o vulto por trás de si, colocando a mão no seu ombro e dizendo:Eu não disse que voltava!
Emanuel ergueu a cabeça, viu o amado e com ele as flores, os dois se abraçaram, trocaram beijos e saíram de mãos dadas em direção à casa dos pais...
Quando chegou próximo, avistou que no terraço da casa estavam o rei, a rainha, uma bela jovem e mais algumas pessoas. Mais de perto, abraçou a madrasta, saudou a todos e antes que qualquer um falasse, anunciou que já era de maior, que tinha voltado e que agora estava anunciando o seu noivado com o Emanuel.
A rainha ficou sem saber o que dizer, a jovem começou logo a chorar e a dizer coisas que o príncipe não entendia, o pai ocorrendo a esposa, todos se olhando e a rainha dizendo que não aceitava que o Príncipe trocasse a filha dela, uma moça bem criada para se casar com um plebeu! Seria uma vergonha para a família real.
Depois do silêncio, o Príncipe disse que a maior vergonha humana é a falta de coragem de ser feliz.
Pouco tempo depois, tudo arrumado, todos convidados, os dois chegaram motados em cavalos, foram recebidos pela orquestra do Reino. Um tapete arco-íris e depois do casamento, dançaram uma valsa, entraram em uma carruagem e mergulharam no desejo de serem felizes para sempre.