O MENINO DE RUA E UM SONHO

Ele morava na rua! Todos os dias ele estava nas ruas. Vendia balas nos semáforos da cidade grande. Quando chovia, vendia capas plásticas; ao anoitecer, quando as pessoas voltam do trabalho, ele vendia chocolates. Tudo para dividir com o Tio, uma espécie de arregimentador de vendedores de rua. O dinheiro, minguado, sequer dava para comprar um PF!

Todos os dias, enquanto vendia as balas, ele via o menino mulato, sendo levado, de carro, para a escola. E todos os dias, a senhora que o trazia, dava-lhe um abraço afetuoso e se despedia com um beijo na face! Que inveja daquele menino, de sua própria cor e idade, mas que certamente tinha um lar, comida quente, banhos com sabonetes e brinquedos.... .

Todas as noites, logo após prestar contas com o TIO, ele passava defronte à Igreja do Menino Jesus. Ele invejava o Menino Deus, no colo da Nossa Senhora e sonhava o dia em que iria estar com ela, no céu; longe daquela vida horrorosa que ele levava.

Ele sabia que ninguém o notava! Passava despercebido pela maioria das pessoas.

Todos os dias ele observava a estátua de pedra: uma mulher negra com um menino nu; no colo. Ele sempre apreciou a estátua. Ele sentia carência de um colo de mãe, ainda que fosse de pedra; gostaria de ter um colo quente, uma palavra benfazeja, de um abraço envolvente! Ele carecia de mãe; de família!

De repente, os fogos nas ruas à meia-noite o lembraram que era Natal. Aceitou um gole de bebida alcoólica de um de seus pares: ficou atordoado; não estava costumado a beber e a barriga roncava de fome. Acomodou-se debaixo da marquise da loja chique, em plena Avenida Paulista. A cabeça girava, o sono foi chegando e, finalmente dormiu.

E ele sonhou com a Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços. Ainda viu quando o Menino Jesus desceu dos braços da mãe e foi até à marquise onde ele dormia. O Menino Jesus então o tomou pelas mãos e o levou até a estátua de Nossa Senhora. Esta o acolheu em seus braços. Ele sentiu o calor que ela irradiava, embora soubesse que isso era uma alucinação, pois a estátua era de pedra e não possuía calor. Mas ele se aqueceu e dormiu nos Seus braços! E continuou a sonhar: viu-se de pé sobre uma grande mesa, redonda, rodeada de pequenos focos de luz e viajava em velocidade alucinante em direção ao céu. Olhou para baixo, não viu mais a cidade nem o planeta; estava muito acima deles todos.

Viu um lindo portal florido, que antecedia um imenso jardim, onde crianças de todas as etnias brincavam juntas, lindas e felizes.

Ali, doravante seria seu lar: ele havia chegado ao Paraíso!

Tio Babá
Enviado por Tio Babá em 01/02/2016
Reeditado em 03/02/2016
Código do texto: T5529924
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