AS PREGUIÇAS
Duas preguiças estavam numa entediante desavença, cada uma abraçada ao seu tronco de figueira e discutiam sobre quem deveria pegar o figo.
- Pega você.
- Por que eu?
- Porque você nunca se mexe.
- Isso não é verdade... Semana passada eu desci para fazer minhas necessidades.
- Grande coisa.
- E você, por que não pega?
- Não tô muito afim...
- Claro, porque é muito preguiçosa.
- Preguiçosa? Eu? Quem foi que faltou ao aniversário de 39 anos da vovó Bernadette, no sábado, porque não tinha nem coragem de se mover da árvore?
- Você.
- Ah. Mas, se quer saber, eu fui à festa sim.
- Ah, é? Pois disseram que não te viram na festa.
- Porque quando eu cheguei lá já era segunda-feira. Mas eu fui.
- Hum.
- E tenho a certeza de que não sou tão preguiçosa quanto você.
- Está me chamando de preguiçoso?
- Então soletre a palavra Otorrinolaringologista.
- O-t-o-r... Ah, desisto.
- Está vendo? É o maior molenga do mundo.
- Você me chamou de quê?
- Vou nada repetir.
- Me chama mais uma vez de molenga que eu te dou uns tabefes.
- Vem me bater, vem!
- Você só diz isso porque sabe que eu não vou.
- Porque é um molenga.
- Afinal, por que é que estamos discutindo?
- Não sei.
- Pensa.
- Eu? Tô sem coragem de pensar.
- Ah, lembrei, é por causa do figo que ninguém quer pegar.
- Pega você.
- E por que você não pega?
- Porque está muito longe.
- Longe está para mim. Pega logo esse figo!
- "logo" é uma palavra que não se encontra no meu dicionário.
- Vai pegar ou não?
- Tá bem, tá bem...
A preguiça soprou um ar de cansaço e esforçou-se, usou todas as suas forças para esticar o braço e arrancar o figo do galho.