A FLAUTA MÁGICA

A FLAUTA MÁGICA – 17 nov 2015

(Sobre o libreto original de Immanuel Johann Josef Schikaneder, 1751-1812, musicado por Mozart, com conotações maçônicas. Tanto Schikaneder como J. C. W. G. A. Mozart eram maçons. Versão poética de William Lagos.)

A FLAUTA MÁGICA I

Era uma vez, quando aves e humanos

possuíam verdadeira semelhança,

seres haviam a que penas recobriam

ao invés de pelos, quais legítimos avianos

e mesmo crista nas cabeças lhes descansa,

mas por baixo tendo corpos como gente

e se vestiam também, alegremente,

em roupas simples que por igual os protegiam.

Um desses seres Papagueno se chamava

e tinha penas verdes, igual que papagaio,

bico amarelo e uma crista avermelhada;

mas igual que uma pessoa ele falava

e saltitava, alegre como um gaio,

servo obediente da Rainha das Estrelas,

que governava das noites as mais belas

por Rainha da Noite sendo também chamada.

Um certo príncipe, cujo nome era Tamino,

veio um dia a se perder numa caçada,

em um lugar a que nunca antes chegara,

homem forte e valente, porém fino

em suas maneiras e de educação cuidada;

que de repente deparou-se com dragão:

seu cavalo empinou, jogou-o ao chão

e dele a fera a seguir se aproximara!...

Bateu com a espada em vão contra as escamas

e ao respirar o seu bafo venenoso,

pediu socorro até perder a sua consciência...

Então surgiram três formosas Damas

que derrotaram o monstro pavoroso

com suas próprias armas encantadas

e a seguir se puseram de emboscadas,

para estudar suas reações à experiência...

A FLAUTA MÁGICA II

Ora, Pamino acabou por despertar

e surpreendeu-se com o cadáver do dragão;

olhou em torno, porém sem ver ninguém,

mas nesse instante escutou alguém cantar;

ainda confuso, ergueu-se desde o chão

e se espantou com o estranho Papagueno,

a saltitar e a cantar, calmo e sereno,

mas sem sentir qualquer temor dele, porém.

“Quem é você?” – indagou da criatura.

“Sou Papagueno e sirvo minha Rainha...

Quem é o senhor?...” “Sou o príncipe Pamino

e me perdi nesta floresta escura...

Só me acordei quando escutei que vinha...

Foi você quem matou esse dragão?...”

Papagueno olhou o bicho e disse, então:

“Pois é, fui eu... Sou o servo do Destino...”

E começou a se gabar do seu poder...

“Sou caçador, está vendo minha gaiola?

Recolho pássaros para a minha Rainha...”

A gaiola era bem fácil de se ver

em suas costas, com pardais e pomba-rola...

“Mas como foi que derrubou esse dragão?”

“Foi muito fácil... Golpeei-o com a mão,

justo em ponto vulnerável que ele tinha...”

“Bem, Papagueno, devo então lhe agradecer,

Pois simplesmente me salvou a vida!...”

“Ah, não foi nada!... Apenas, me respeite:

eu sou do bem, mas perigoso posso ser

contra o mal, que sempre levo de vencida!...”

E continuou assim a se gabar,

sem das Três Damas a presença ele notar:

“Papagueno, você nunca toma jeito!...”

A FLAUTA MÁGICA III

“Não consegue abrir a boca sem mentir!...”

Papagueno ficou muito atrapalhado.

“Senhor Príncipe, exterminamos a criatura,

tão logo percebemos seu rugir!...

Papagueno, serás agora castigado!...”

E uma delas para o seu bico apontou,

em que um cadeado se materializou:

“Ficarás mudo até mostrares mente pura!...”

Desta forma, ao tentar se desculpar,

Papagueno não mais que balbucia...

As Três Damas com Pamino conversaram

e resolveram então lhe apresentar

o retrato de uma jovem que sorria:

“Esta é Tamina, a filha da Rainha!...”

Imaginando que em seus braços a sustinha,

mil sonhos logo ao príncipe encantaram!...

“Nós percebemos que é um jovem corajoso...

Um demônio maligno a raptou

e não podemos nós mesmas libertá-la:

seu poder mágico é forte e tenebroso!...

Nossa Rainha por isso o convocou:

não se perdeu de fato, meu guerreiro;

ela o chamou para ser seu cavaleiro;

só força humana é que poderá salvá-la!”

“Está disposto a ser nosso paladino

e a Sarastro, o Terrível, enfrentar?

Pamina então será a sua noiva bela...”

E concordando o príncipe Tamino

para a Rainha o foram assim apresentar,

a qual lhe suplicou, ferventemente,

que fosse à luta contra o mágico potente

e deste modo resgatasse a sua donzela...

A FLAUTA MÁGICA IV

Tamino de imediato concordou

e Três Pajens então o acompanharam,

que como guias e aliados o apoiassem.

O cadeado de Papagueno se tirou,

para que fosse o escudeiro e assim marcharam.

Mas a Rainha deu a Tamino em proteção

uma flauta encantada na sua mão

e a Papagueno campainhas que tocassem!...

Enquanto isso, Monostatos, servo mouro

de Sarastro, por sua conta aprisionara,

sob correntes a Pamina, pois dizia

que a devia proteger como um tesouro.

Papagueno por momentos enfrentara,

mas quando ele tocou as campainhas,

fugiu depressa, em tortuosas linhas,

deixando a chave que os grilhões abria!...

À princesa Papagueno libertou,

mas ela disse que não poderia fugir,

por estar presa por encantamento...

Papagueno sobre Tamino lhe falou,

que sua mãe decidira constituir

como seu paladino contra o mago;

e acrescentou, em adicional afago,

que ele a amava com grande sentimento!

Ao mesmo tempo, os Três Pajens conduziam

até um bosque o guerreiro que guiavam,

em que três templos estavam elevados;

mas a nenhum ter acesso conseguiam

e de repente, já todos se espantavam,

quando surgiu perante eles o Orador,

que explicou a Tamino, com fervor

que os conselhos da Rainha eram errados!

A FLAUTA MÁGICA V

Sarastro, o Mago, ao contrário de tirano,

a Pamina só abduziu para seu bem,

a fim de libertá-la da influência

da Rainha, cujo poder arcano

a corrompê-la destinava-se também.

“E por enquanto não lhe direi mais nada.”

Soprou o príncipe em sua flauta encantada,

muito alegre em confirmar a sua existência!...

De fato, tocou tão alegremente

que foi cercado por muitos animais,

encantados pela música e a magia...

Convencida por Papagueno, finalmente,

Pamina fugiu para os bosques vicinais,

de onde escutaram a flauta de Tamino,

logo marchando para tal destino;

mas Monostatos em sua senda já surgia!

Chegou então, acompanhado por escravos,

na intenção de fazê-los prisioneiros,

mas Papagueno as campainhas toca

e em dançarinos se transformam esses bravos,

todos bailando e cantando bem fagueiros...

Chega Sarastro com seus ajudantes

e Tamina lhe diz, nesses instantes,

que amor sincero para outrem a convoca!...

Sarastro insiste que a ama também

e que não deve se guiar por sentimento,

porém tão só pelos ditames da razão

e sendo homem, ele a orienta para o bem!

Mas Monostatos se livrou do encantamento

E fez Tamino e Papagueno prisioneiros;

Sarastro ordena a seus servos que, ligeiros,

ao Templo os levem para a Purificação!

A FLAUTA MÁGICA VI

No Templo os dois encontram já reunidos

os sacerdotes para seu Julgamento

e Sarastro manifesta à sua assembleia

que foram Tamino e Pamina já escolhidos

para a bênção do sagrado casamento,

mas que, primeiro, o príncipe Tamino

deve provar merecer esse destino,

por três testes, à maneira de epopeia!...

Os sacerdotes invocam sua Trindade,

de Ísis e de Osíris e o Falcão,

seu filho Hórus, para sua proteção:

que confiram a Tamino a dignidade

para obter a sabedoria e, com razão,

mostrar-se digno de casar-se com Pamina;

concorda o príncipe em afrontar sua sina,

mas Papagueno não aceita a condição.

Então Sarastro lhe promete a mão

de bela jovem para acompanhá-lo;

na verdade, Papagueno é um solitário:

sem pensar muito, ele concorda, então,

que os sacerdotes devam purificá-lo,

para livrá-lo da influência da Rainha,

que como escravo apenas o mantinha

e se dispõe a enfrentar seu páreo.

Será o Silêncio a sua primeira provação

e por mantê-lo ambos fazem voto,

mas as Três Damas surgem, por magia

e empregam meios de grande sedução:

falsas promessas, ameaças do ignoto

futuro que os espera e tentam tudo,

mas Papagueno e o príncipe, contudo,

mantêm o voto que recompensa lhes traria...

A FLAUTA MÁGICA VII

Elas desistem, enfim, e vão embora,

porem Pamina ao castelo retornara

e ali adormeceu no seu jardim.

Monostatos aproximou-se nessa hora;

contudo, ao ver que a Rainha ali chegara,

foi esconder-se para ver o que acontece:

e a Rainha, dentro do sono em que padece,

à filha deu adaga: “Vá matar Sarastro, assim!”

Ela concorda, ainda adormecida,

sem saber o que disse, realmente,

e esconde a adaga sob as vestimentas.

Tão logo vê a Rainha de saída,

Monostatos, em desejo contundente,

procura a adaga, porém ao apalpá-la,

consegue só com o toque despertá-la

e é repelido com frases violentas...

Mas Monostatos lhe diz que a escutou

quando a Sarastro prometeu matar,

com a adaga que lhe fora fornecida.

“Dê-me um beijo, ao menos...” – suplicou.

“Senhora minha, eu a quero desposar,

mas se recusa meu amor e proteção,

denunciarei a Sarastro a sua traição!...”

Só então a adaga é por Pamina percebida!

“Viu agora? Não adianta mais negar!

Eu assisti quando a Rainha lhe ordenou

e então matar a Sarastro prometeu!

Dê-me o beijo que lhe estou a suplicar

e mais a adaga que sua mãe hoje entregou

e ainda jure que me aceita em casamento!...”

Porém Sarastro apareceu nesse momento

e a Monostatos de seu jardim correu!...

A FLAUTA MÁGICA VIII

“Sei muito bem do que aqui aconteceu...”

“Eu nem sabia o que estava dizendo,

Senhor Sarastro, mas por que matar pretende

a minha mãe?” Então Sarastro respondeu:

“Vingança alguma contra ela pretendo:

eu sigo a senda da sabedoria

a qual nenhuma maldade acolheria,

mas só a Luz diariamente acende...”

“Mas não deseja também me desposar?

Não foi por isso que me raptou?...”

Sarastro respondeu-lhe, sorridente:

“Com uma filha ninguém pode casar...”

“Como assim?” – a princesa se espantou.

“A Rainha é sua mãe, mas sou seu pai

e numa bruxa transformá-la vai;

só retirei-a de sua maldade permanente...”

“Mas e Tamino, que ela me enviou...?”

“Se demonstrar ser-lhe um digno marido,

eu mesmo celebrarei seu casamento...

Submeter-se a três provas aceitou

e por enquanto, a tudo tem vencido;

tenho certeza de que triunfará

e que sua mão então merecerá,

após passar por tal santo julgamento!”

Com Papagueno, Tamino a um salão

havia sido conduzido e intimado

a continuar em silêncio por mais tempo;

Tamino vence sempre a provação,

mas Papagueno já não fica mais calado

e finalmente pede a alguém um copo d’água;

uma velha o atende... e tem a mágoa

de saber que é sua noiva... Ai, contratempo!

A FLAUTA MÁGICA IX

“Mas prometeram-me uma noiva bela!...”

“Se não consegue a própria língua controlar,”

falou-lhe o Orador, severamente,

“como pode controlar a uma donzela...?”

Antes que possa de novo perguntar,

a noiva prometida vai-se embora...

Ele se põe a queixar-se nessa hora,

mas já na prova falhará totalmente!...

Os sacerdotes declararam a Tamino:

“Já superou o primeiro julgamento.

mas permissão ainda não tem para falar!...”

A flauta lhe devolvem e um menino

entrega ao outro as campainhas; e alimento

é colocado sobre uma grande mesa;

Papagueno vai servir-se, com certeza,

porém Tamino quer sua flauta dedilhar...

Então Pamina é trazida à sua presença

e um ao outro precipitam-se nos braços;

porém Tamino, às perguntas que lhe faz

nada responde e ela fica tensa,

desvencilhando-se assim dos seus abraços,

nessa suspeita de que não a ama mais,

pedindo a morte, por sofrer demais;

mas sua promessa Tamino não desfaz!...

Os sacerdotes ordenam a despedida,

mas seu silêncio o príncipe mantém,

mesmo sofrendo ao ver Pamina desolada.

Sozinha, lembra da adaga, desvalida,

e então pretende se matar também!...

Mas os Três Pajens vêm-na dissuadir,

tirando a adaga para o ato lhe impedir

e lhe garantem ser por Tamino amada...

A FLAUTA MÁGICA X

Enquanto isso, o pobre Papagueno,

que falhou em seu teste, inteiramente

se consola: “Queria só ter companheira...

A sua velhice é um cruel veneno,

mas os dois nos trataremos gentilmente...”

De imediato, a velha reaparece,

mas está tão feia, que Papagueno esquece

que a sua frase anterior foi verdadeira!...

Falou Sarastro: “Que permanece ainda vejo

sob a influência perversa da Rainha...

Então terei de mandar encarcerá-lo...”

Mas perante a ameaça que se enseja,

olhou direto nos olhos da velhinha

e declarou: “Vejo agora o interior

e sei poder tratá-la com amor...

Pois com ela casarei, sem mais abalo!;;;

“Pois então, beije sua noiva, meu amigo...”

disse Sarastro, “e prove o que me diz...”

Mesmo engolindo em seco, Papagueno

nos lábios murchos procurou abrigo

e a beijou como a um marido bom condiz...

No mesmo instante, um milagre a transformou

e em bela jovem a velhinha se mudou,

tornados doces os lábios de veneno!...

“Sou Papaguina,” disse-lhe a donzela,

que era em tudo a ele semelhante.

com penas verdes, embora a crista bem menor

e um bico delicado de ave bela!...

Mas o Orador a arrebatou, no mesmo instante:

“Você terá de passar por outra prova,

já que falhou na primeira, embora o mova

por sua noiva agora um certo amor!...

A FLAUTA MÁGICA XI

Os Três Pajens, a quem Sarastro convertera,

tocam trombetas e anunciam a iminente

vitória da Luz por sobre a escuridão!...

Sarastro a fala a Tamino concedera:

“Mas terá de mostrar ser mais valente!...”

Logo a seguir, determina que Tamino

enfrente mais duas provas, seu destino

a encarar na mais plena aceitação!...

“Deve enfrentar o fogo de um vulcão

e suas torrentes de lava ultrapassar,

para depois seu oposto combater,

cruzando a água de um vasto turbilhão!”

Diz-se o príncipe disposto a enfrentar,

mesmo que perca sua vida na empreitada!

“Terá o auxílio de sua flauta encantada,

se a tocar sem de medo estremecer!...”

Nesse momento, retornou Pamina

e foi beijar Tamino, ainda hesitante,

mas ele a segurou firme nos braços

E lhe falou: “Minha gentil menina,

meu silêncio abandonei, tão inquietante;

passei na prova, mas outras duas restam;

ter-me-ás de esperar, enquanto aprestam

dessas torturas os hediondos traços!...”

“Mas tudo enfrentarei, por seu amor!...”

Então Pamina a Sarastro suplicou:

“Por favor, Pai, me deixe acompanhá-lo!”

Assim o mago lhe concede tal favor

e o casal para o vulcão marchou...

Tamino a flauta começou a tocar,

vendo as torrentes de lava se afastar...

Pamina, com amor, sempre a abraçá-lo!...

A FLAUTA MÁGICA XII

Tão logo ambos cruzaram o vulcão,

viram um lago das mais túrbidas fragas,

girando ao derredor de um redemoinho!

Embora forte lhes batesse o coração,

foram os dois penetrando nessas vagas,

Tamino sempre a flauta mágica a tocar!...

Viram as ondas logo se acalmar:

Tornou-se o lago bem raso e pequeninho!

Assim que ambos chegaram do outro lado,

saudou-os um coral de sacerdotes,

em melodia alegre e jubilante

e por Sarastro o par foi abraçado:

“Bem que merecem do vero amor os dotes!...”

Mas de longe a Rainha, enfurecida,

aos piores sentimentos dá guarida

e se lança a um assalto horripilante!...

São as Três Damas horrendas feiticeiras

e então cercam a Papagueno abandonado,

para a luta de seu lado convocar!...

Mas ele toca as campainhas seresteiras,

pelo poder de Sarastro transformado

e as quatro bruxas o deixam, finalmente...

Mas Monostatos se apresenta, incontinenti

e à Rainha prontifica-se a auxiliar!...

Só pede em troca que Pamina vá ganhar!

E a Rainha concorda, falsamente,

pois Monostatos será apenas um peão!...

Dá-lhe o poder temporário de voar

e em direção do templo vão em frente,

para a Sarastro e a Tamino destruir!...

Contudo o mago seu poder pode iludir

e a todos lança de volta à escuridão!...

A FLAUTA MÁGICA XIII

Antes que possam de algum modo reagir,

são lançados às trevas exteriores,

entre relâmpagos, trovões e tempestades!

Vazio do mal que vira antes nutrir,

fica o palácio livre de temores,

sem que as bruxas jamais possam retornar

e finalmente irá o casal ali habitar...

E Monostatos? Vai pagar por suas maldades!

Só então Sarastro chamou a Papagueno

e lhe trouxe de volta Papaguina

e se abraçaram e começaram a dançar...

“Você ganhou o meu perdão mais pleno

e lhe darei recompensa muito fina...”

“Senhor Sarastro, se pudermos nos casar,

nada mais precisará recompensar...”

E se puseram ambos a cantar...

“Primeiro, um pequeno Papagueno,

logo a seguir, uma Papaguenazinha

e depois, mais um casal querido;

trabalharemos para um futuro ameno:

vida feliz assim nos avizinha!...”

Porém disse Sarastro: “Outros planos

eu concebi: fá-los-ei seres humanos,

pois Papagueno mostrou à luz ter preferido!”

Então Sarastro lançou encantamento

e em bocas os seus bicos se mudaram;

penas e cristas em roupas se tornaram

e um sacerdote lhes trouxe, num momento

novas vestes, enquanto as penas se guardaram,

como lembrança do que tinha sido

o casal humano por amor mantido,

com muitos filhos que na Luz criaram...

EPÍLOGO

“Nem todos podem aspirar sabedoria,”

disse Sarastro, “mas eles são o sal da Terra

e de seus frutos usufruir merecem...”

O outro casal já ao templo se acolhia,

comemorando-se a vitória nessa guerra,

como iniciados na senda do Saber,

a qual só uns poucos conseguem percorrer,

enquanto as bênçãos da Luz sobre eles descem...

Falou Sarastro: “As suas provas já passaram

e posso agora celebrar seu casamento...”

Falou o Príncipe: “Não é reclamação,

mas da prova do Silêncio dispensaram

minha bela noiva... Por que tal liberamento?”

“Quer submeter ao Silêncio uma mulher?

Vasta maldade, que não poderá sequer!...

Fique feliz por obter-lhe o coração!...”

Schikaneder, o autor do libreto, não somente o escreveu, como foi cenógrafo, cenarista e desenhista dos adereços e fantasias, algumas das quais ele mesmo costurou. A FLAUTA MÁGICA era destinada ao teatro popular e a música de Mozart alcançou grande sucesso, mesmo que houvesse muitas incoerências no libreto, mas isso é perfeitamente aceitável no mundo da ópera, haja vista, por exemplo, o libreto de Il Trovatore de Verdi. As letras são pretextos para os compositores escrevem lindas melodias. Em minha versão retirei muitas impropriedades e repetições. Uma das principais objeções é a de que Sarastro não mandaria a própria filha cruzar um vulcão e um redemoinho, portanto as “provas” eram apenas mágicas e simbólicas. Nas “postas em cena” a simbologia maçônica é frequentemente explicitada.