O Aniversário de Bolinha - o Topeirinha
- Bela manhã de sol e brisa! Silêncio e paz...
Vou iniciar minha missão: medir o novo território! O território das TATURANASMEDIDORAS!
Assim pensava a Tatimed, admirando aquele novo terreno e admirando-se, num caco de espelho, gostava do que via: era longa, preta e branca, topete arrepiado, ardente e cem perninha e bracinhos...
Pensava sobre sua vidinha e sua chegada ali, naquele belo e delicado jardim, com seu grupo familiar - 22 taturanasmedidoras - num lindo e divino vaso de azaléias, que a dona da casa recebera no aniversário...
Mal imaginaria, que seria um dia bastante barulhento e agitado...
Grandes movimentos, falatórios, risadas, batidas de madeiras ocorriam no fundo abandonado do jardim - lugar úmido, sombra constante, plantas longas, sem flores.
Bolinha - um topeirinha 'garoto rebelde', pois arrumara uns óculos de graus, para enxergar fora do escuro das tocas, no fundo do chão, preparava sua festa de arromba/arrebenta de aniversário - 3 anos.
Sua festa seria na ponta do jardim, pois lá havia flores de várias espécies, para os convidados gafanhotos, abelhas e joaninhas, que estavam sempre famintos. O chão estava macio e acarpetado por deliciosas gramas; facilitando a chegada - via embaixo da terra - seus seis priminhos topeirinhas - eram gêmeos!
Estava tudo pronto. Só estava tenso, pois convidara o grupo de roque das irmãs cigarras. Elas eram ótimas, porém mal faladas com relação ao cumprimento dos horários das festas.
Combinara, então, encontra-las ali, em casa, e caminharem juntas, até a ponta do jardim...
Assim foi...
Caminhavam, cantavam, tocavam e já reuniam os convidados, que os esperavam no caminho: besouros, vespas, formigas vermelhas, as meninas formigas içá devoradoras, grupo de cupim, taturanas peladas...
Sim, temos que reconhecer: os amigos do topeirinha Bolinha formavam o 'grupo rebelde/renova'. Todos eram boas criaturas, no entanto, cada uma delas apresentava o caráter/destrói, ou seja, ' detone esse, pois vem mais!'. Cortavam, comiam, secavam e cavavam o chão ( as topeirinhas)...
As taturanasmedidoras sequer desconfiavam da 'bigbaderna' que se aproximava...
Tatimed estava entusiasmada, pois aquele espaço era um show: chão coberto por lindos mantos verdes de grama, flores amarelas, vermelhas, azuis, e lilás-azaléia. Quanta beleza!
Ela também estava linda, pois encontrara, no chão, uma delicada e transparente fita de cabelos, amarela. Ah, não deu outra, ela achou um jeito de jogá-la sobre as costas negras e arrepiadas de pelos, pois queria ficar bela, em homenagem àquele tão delicado jardim.
Tudo caminhava bem. Suas irmãs taturanasmedidoras espalharam-se pelo espaço e já estavam trabalhando, na medição do terreno/lar delas, cantando ou fofocando sem parar... Tudo era paz...
Era, pois começaram ouvir uma grande, imensa agitação: conversas femininas, risos infantis, vozes masculinas e... músicas - sons e cantos agradáveis...
" O que seria aquilo?" - pensaram Tatimed e suas irmãs. Ficaram agitadas e, até assustadas com aqueles estranhos ...
Naquele mesmo momento, todos os convidados de Bolinha pararam e ele, junto com o conjunto musical, direcionaram-se para a frente das taturanasmedidoras, voltaram-se para a Tatimed e o Bolinha disse:
- Uh, uh... olá sou o Bolinha, faço três anos hoje. Moro no fundo abandonado do jardim - lugar triste...
Desta forma, reuni todos meus amigos para comemorarem meu 'niver', aqui, neste belo e suculento espaço, sabe?
Ele ficou quieto e tímido diante das meninas taturanasmedidoras. Ele esperava a reação delas, mas todas estavam caladas e frias, pois sentiram grande ciúmes do jardim tão delicado e bonito. Não queriam dividir aquela beleza com nenhum deles...
Bolinha percebeu perfeitamente o que acontecia naquele momento. Precisava salvar sua festaniver - três anos! Pensou, pensou e de repente, virou-se para o conjunto das cigarras e disse:
- Meninas, toquem e cantem uma bela música para nossas novas moradoras e especiais convidadas - as garotas taturanasmedidoras! Lindas e bondosas amigas, que comemorarão meu aniversário!
Assim, o som agradável começou a rolar. As novas moradoras sentiram-se mimadas, felizes e aceitaram participar da festa do Bolinha. Os convidados se aproximavam lentamente e dominavam aquele lugar tão lindo...
As meninas taturanasmedidoras foram se soltando, pois sentiram-se respeitadas e acarinhadas por todos e começaram a caminhar e dançar junto com todos os novos amigos: vespas, abelhas, joaninhas, formigões, taturanas lisas...
Ah, e os bagunceiros, que já apareciam e se misturavam com os amigos. Sim, eram eles - os rebeldinhos: os bagunceiros e alegres topeirinhas juniores - seis meninos e meninas. Saiam das cavernas subterrâneas já dançando, conversando entre eles e sorrindo e comendo qualquer coisa saborosa, que lhes ofereciam ou encontravam à disposição.
Ah, se os donos da casa pudessem perceber aquele grande e feliz agito!
Provavelmente tentariam dar cabo daquela festança!
O grupo de roque das meninas cigarras tocavam e cantavam sem parar, pois eram responsáveis pela animação da festa e também curtiam, curtiam tudo, por isso eram as melhores da região jardinal.
E a festa rolava sem nenhum incidente ou sofrimento. Comiam absolutamente tudo. Subiam e desciam pelas paredes, árvores, folhas... As visitas voadoras: vespas, joaninhas, abelhas, gafanhotos estavam felizes, pois além dos deliciosos petiscos e lindas e intermináveis músicas, vigiavam toda a região - eram as guardiãs da paz!
Todos estavam bem alegres e seguros.
As músicas e os deliciosos comes eram demais: pólen de flores, pétalas coloridas e doces, gramas novas e macias, folhas e pequenos galhos de ervinhas, à vontade, empolgavam tanto os jovens bichinhos daquela festa, que sequer percebiam as mudanças temporais.
A chuva estava chegando... Ventos suaves, o sol se escondia entre nuvenzinhas escuras, que apareciam e pareciam dona do divino azul celestial. Discretamente, as nuvenzinhas se juntavam, cobriam o céu e o sol, convidando as outras para se juntarem e se fortalecerem. O objetivo dessa união era mandar milhares de lindas gotas transparentes para a terra: eram a chuva. Uma delas, ansiosa, não conseguia esperar em silêncio e começava a gritar:
- Vamos, vamos gotinhas, o verde dos jardins pedem muito por essa água. Nós, a chuva! Andem logo...
Assim fizeram, cobriram o céu azul, dominaram o espaço celestial e começaram a pingar, gritando:
- Oba! Vamos molhar e salvar as plantas, as terras e todos os seres viventes!! Os ventos se empolgaram também e passaram a soprar com força, brincar com as folhas, árvores, flores. As fortes e unidas gotas d'água passaram a lavar e arrastar todas as coisas de seus caminhos...
Chegaram tão lindas e poderosas naquele gostoso e festivo jardim...
Lá, todos eles, ainda cantando, comendo e dançando, resolveram se proteger e fugir das pequenas e perigosas correntes d'água gelada, pois elas já estavam dissolvendo as terras, rasgando muitas pétalas frágeis e arrastando muitos animaizinhos, que, inocentes, banhavam-se e corriam brincando nas correntezas...
As cigarras, espetaculares artistas, se esconderam sob as folhas de grandes árvores e continuaram tocando e cantando animadamente...
A alegria dos convidados continuava forte e alegre, mas sentiam medo daquela bela e forte chuva cantante, que lavava tudo e arrastava todas as folhas e as flores caídas, que foram arrancadas pelas fortes e sérias ventanias...
As crianças corriam e se atiravam nas correntezas d'água e escorregavam n'água, montadas nas folhas grandes, que boiavam solitariamente...
As mães berravam enlouquecidas e assustadas por eles. Corriam e se trombavam, umas nas outras, na desesperada tentativa de resgatar seus filhotinhos levados...
Assim, queridos amigos, continuou a festa, a conversa, o come-come, o som das gotas da chuva, que tocavam as plantas e tudo mais...
E elas... a grande equipe de cantante - o conjunto de roque das meninas ciganas - continuavam cantando e mantendo a alegria e a 'paz' daqueles clientes barulhentos e comilões... Sim, muita música!
Bolinha, o topeirinha de óculos, o aniversariante da festa, atendia a seus convidados, conversava com todos, dançava com as crianças e sorria muito...
Estava feliz!
Era seu aniversário - três anos de vida - e a festa estava um show!
Lenta e discretamente, Bolinha escapou dos amigo queridos, entrou em seu canto de niver - quase cheio de presentes -, ajoelhou-se, olhou para o céu e, emocionado, disse:
- Eh, meu querido PAI Criador, obrigado pelo melhor presente que recebi, quando nasci e recebo o tempo todo:
Seu Amor, Sua Luz!
Thera Lobo (sete/15)