O PEIXE REI

Peixoto, o peixe dourado e amigo do Poti, o camarão rosa, eram amigos desde os tempos de girinos. A traíra preta, a Periguete, uma delinquente dentuça, fazia todo o possível para ter a amizade dos dois. Ela se rasgava de inveja ao ver os amigos juntos. Numa bela manhã outonal, nem quente nem fria, Peixoto e Poti estavam se divertindo, brincando de subir a pequena cascata do córrego. A Periguete, que até então dormia pousada no barranco, com o dorso voltado para o sol matinal, acordou com a algaravia dos dois amigos. Ficou vermelha de inveja! Quando ela se aproximou, Peixoto e Poti saíram nadando a favor da corrente, do modo mais rápido que puderam. A Periguete, embora dizia a todos que queria ser amiga dos dois, tinha também a intenção de comê-los, quando e onde desejasse; mas só depois de ter conquistado a amizade deles: esta era a trama.

Como os dois amigos não eram seres de cobiça de pescadores, e a Periguete sabia disso; ela tinha que ter cuidado. Vez em quando anzóis com iscas deliciosas ou peneiras, apareciam no córrego. Felizmente ela era muito esperta para cair em armadilhas tão em moda. De um modo geral, ela sabia da sua

condição de cobiça dos pescadores. Sabia que o Peixoto só servia para enfeitar o aquário de algum aficionado e o Poti tinha um quase nada de matéria, tanto que nem os peixes de rapina, como as piabas, lambaris, carás e traíras, não se interessavam por ele. Os dois eram desinteressantes, mas a Periguete sentia inveja era mesmo da formosura dos dois. E, juntos, eles formavam uma dupla maravilhosa.

Mas, um dia, caiu uma chuva copiosa. Uma tromba d´água caiu na cabeceira do rio, à montante. Depois de poucas horas, se podia ouvir o barulho estrondoso da enchente que se avizinhava. Sons de galhos se quebrando, do tabual arrancado pelas raízes. Os bichos que normalmente habitam os brejais e Pântanos onde se situam os córregos saíam em desabalada carreira; as cobras jaracuçu, jararacas, jiboias, sucuris e jacarés, rastejavam o mais rápido que podiam, tentando arranjar algum morrinho, maromba ou barranco que lhes dessem guarida. Saracuras e preás, aos magotes, passavam chispando, lado a lado com seus predadores. Há de se observar que, nessas horas, o mais importante e colocar-se a salvo da enchente. A Periguete foi levada por uma onda gigante, indo parar num lago de “pesque e Pague”, alguns quilômetros dali. Lá, ela viveu feliz por muito tempo, ainda que sentisse saudades dos dois amigos do antigo córrego. Quanto ao Poti, tão logo passou a “grande enchente” ele fertilizou alguns milhões de camarões rosa e, acabou por procurar um rio pouco maior, para poder viver em paz. Quanto ao Peixoto, observou-se uma metamorfose: ele não era, de fato, um peixinho dourado de aquário, mas um dourado mesmo: um autêntico “Salminus Maxillosus”; ou “pequeno salmão”.

Hoje em dia, com mais de vinte e cinco quilogramos, o Peixoto é conhecido na fauna aquática como o “Rei do Rio”!

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Tio Babá
Enviado por Tio Babá em 11/09/2015
Reeditado em 25/09/2015
Código do texto: T5378883
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