TESTEMUNHO DE UMA REINAÇÃO
Nos tempos de eu menino, quando morava numa fazenda de café, durante o mês de junho, era comum a “reza de terços” entre os dias de Santo Antônio e São João; às vezes ía até o dia de São Pedro. Tais rezas eram feitas durante a noite; via de regra ía o “tirador de terço”, e mais umas dez pessoas que levavam a sério o evento. Atrás desse grupo ía um grupo de jovens, que aproveitavam para se conhecer entre si (os pais eram muito zelosos), e durante tais rezas as peias afrouxavam um pouco! Numa dessas vezes eu, Tio Babá, me adiantei da turma que voltava para casa e me escondi em uma moita de pés de mamonas com uma lanterna de pilhas. Quando um grupo de mulheres, velhos e crianças estava passando no trilho que margeava os arbustos onde estava, comecei a chacoalhar os arbustos e a piscar incessantemente o farolete. Elas debandaram na carreira e eu, algo receoso, evadí-me também. Depois de algum tempo, já em casa, ouvi estampidos de espingarda. Fui conferir: eram os maridos que voltaram com suas pica-paus, recheadas até a boca de chumbo miúdo; atirando na moita que as mulheres apontavam e onde eu estava (um monstro?).
- Nunca mais em minha vida tentei assustar alguém. Só na literatura; às vezes!
Publicado em: 27/08/2008 07:17:26
Última alteração:09/09/2008 11:31:51
Republicado em: 08/09/2015 14:11 h