Você lembra de mim?

Você lembra de mim?

Sou aquela criança que jogava pião, bulita, pandorga, perna de pau, pé de lata, aro e arame, lata com eixo cheia de terra e pedregulho, carrinho de rolimã, cinco marias, elástico, bafo com figurinhas, cama de gato, passa anel, peteca, bilboquê, Ioiô, bambolê, bate corda, amarelinha, cabra cega, pique esconde, bete ombro, queimada, futebol, e muitas outras brincadeiras e brinquedos, tantas coisas que fez parte de mim e de você. Se lembra de pelo menos uma dessas que agente brincou?

Tenho a lembrança do pião batatinha leve como uma pena, a rodar zunindo na mão depois de tentar ficar o mais perto do selo de disputa.

Coisa séria de criança era ter o pião mais leve ou ser melhor no elástico.

Quem ficasse mais longe do selo de cuspe, ia pra pua, no lugar.

O esmalte de unhas da mãe, irmãs ou emprestado, serviam de tinta pra embelezar o rodante.

O barbante pra enlinhar o pião tinha que ser bem trançado e com um pouquinho de sebo.

Coitado do pião do dono que perdia, era puado, lascado até que um não acertasse na vez, substituía o que estava sendo puado.

E as bulitas, quem era o mais quera? Linha e curral, repique, competição de quem tinha mais latinhas de leite em pó cheias de bolas de gude e carambolas. O melhor ponto, ponto de aço que agente tirava dos rolamentos de tratores, era o máximo.

Fazer pandorga era uma arte de todos, com rabo, sem rabo, guerreira, estrela, caixote ou simples folha de caderno dobrado com rabo de corrente de patel, carretel de uma única linha que ligava a imaginação do piloto no chão e pipa no céu. A manobrar pra direita, esquerda, rasante, tudo dependia do barbicacho.

Brincar de elástico as gurias não, não era fácil, elas tinham mais jeito e manhas de garotas.

Quanta criatividade compartilhada e repassada de um para o outro.

Nada impedia a troca de figurinha ou um escambo legal de brinquedo. A capacidade de manusear as ferramentas para fazer a pipa ou o carrinho de rolimã, a precisão na mira para acertar a outra bulita, era uma competição sadia sem a questão financeira, e sim o mérito de ter feito a melhor pipa, o pião mais leve, o mais ágil nas Cinco Marias.

Isso tudo não se perdeu está dentro de nós, podemos voltar a acreditar apesar de adultos.

Podemos voltar a acreditar uns nos outros, isso ainda está ai dentro do seu peito.

Tenta lembrar de mim?

Aquela criança feliz, que a diferença de cor, religião ou financeira não impedia de se fazer amizade.

Lembra vai?!