MINHA BORBOLETA AZUL
Era uma vez… um pintor que se chamava Zé Tulha.
Vivia tão sozinho que um dia resolveu desenhar dois bonecos muito giros e pôr-lhes os nomes de Pilas e Totocas.
O Pilas era o menino. A Totocas a menina.
Mas o Pilas e a Totocas eram apenas dois bonecos pintados. Por isso não falavam, nem dançavam. Só sorriam porque o Zé Tulha os fez sorrir com um tracinho de pincel.
Um dia,
estava o Zé Tulha próximo da sua janela, cheio de solidão, quando viu entrar uma borboleta. Uma linda borboleta azul. Ficou contente o Zé Tulha e disse: - Olá Borboleta Azul. És tão linda ! Vem cá, não tenhas medo. Queres ser minha amiga ?
A Borboleta Azul deu duas voltinhas no ar, sorriu devagarinho, olhou o Zé Tulha e respondeu: - Quero sim !
E o Zé Tulha e a Borboleta Azul ficaram desde logo muito amigos. (Quem sabe muito bem disto é o Sol, que estava a espreitar as flores da janela).
Depois, a Borboleta Azul foi muito de mansinho poisar no peito do pintor, mesmo em cima do coração. E o Zé Tulha, docemente acarinhou-a e chamou-lhe : MINHA BORBOLETA AZUL.
E juntinhos, ficaram assim muiiiiiiiiito tempo. Depois,
Como os dias estavam bonitos foram dar um passeio ao campo.
Era Primavera.
As Borboleta Azul saltitava de flor em flor e o Zé Tulha corria atrás dela.
Às vezes a Borboleta Azul andava mais depressa e o Zé Tulha, com medo de a perder, gritava: - Espera, Minha Borboleta Azul, espera por mim!
E a Borboleta Azul esperava. E sorria.
Uma outra vez, foram passear ao mar. Num barquinho cor-de-rosa o Zé Tulha pintou dois corações vermelhos de paixão.
E foram pelo mar fora. Aquele azul imenso da água parecia reflectir as asas da Borboleta Azul, o que assustou e fez com que ela se fosse colocar em cima da cabeça do pintor.
Já iam muito longe quando encontraram uma gaivota, que os cumprimentou:
- Bom dia, amigos.
- Bom dia Gaivota, responderam eles.
E andaram assim no mar, muito, muito tempo.
Quando se aproximava a noite, o Zé Tulha e a Borboleta Azul regressaram. E o pintor prometeu fazer o retrato da Borboleta Azul assim que chegassem à oficina.
E assim foi.
A Borboleta Azul foi colocar-se em cima de umas flores e o Zé Tulha pintou o quadro, tal e qual o sorriso da Borboleta Azul. A Lua e as estrelas, que ainda estavam acordadas, foram os primeiros a felicitar o Zé Tulha. Então o pintor muito contente, disse: - vamos fazer uma festa, uma grande festa para inaugurar o retrato da Borboleta Azul.
Ao ouvirem isto, os dois bonecos (o Pilas a e Totocas) apareceram no quadro com um sorriso ainda mais feliz.
E houve mesmo uma grande festa.
A noite estava sempre de acordo com eles.
O Zé Tulha e a Borboleta Azul começaram a dançar. E o Pilas e a Totocas não puderam ficar quietos como dois bonecos que eram e foram dançar também.
Era já manhã e a festa ainda continuava.
DE REPENTE OUVIU-SE UM GRANDE BARULHO….
Pela oficina do Zé Tulha acabava de entrar o Caçador de Borboletas. E fez tal estrago que até deixou cair a cadeira preferida do Zé Tulha. E os pincéis. E as tintas. Até o retrato da Borboleta Azul ficou tombado.
Depois,
o Caçador de Borboletas, com uma rede muito grande, apanhou a Borboleta Azul e levou-a.
O Pilas e a Totocas ficaram com tanto medo que se esconderam no quadro a que pertenciam e voltaram a ser bonecos.
O ZÉ Tulha ficou quieto, tão quieto que nem uma palavra conseguiu dizer.
Estava tudo tão triste !
Uma lágrima muito grande saiu dos olhos do Zé Tulha e era tão grande que lhe inundou o coração.
E O Zé Tulha adormeceu… e sonhou, e a noite que tinha dentro tornou-se dia e a flores caídas pela mágoa voltaram a ter cor e os braços apertados no peito voltaram a abrir-se… a enorme sensação de que alguma coisa boa ía acontecer… e enquanto enxugava a última lágrima,
a Borboleta Azul soltou-se do quadro que era o seu retrato e tomou VIDA. E num voo leve, assim muito doce, suave, tão suave como as mãos da nossa mãe, foi poisar outra vez no coração do Zé Tulha.
E nunca mais de lá saiu.
Por isso é que o Zé Tulha está feliz.
E o Pilas e a Totocas, cheios de alegria, ficaram no quadro eternamente a dançar.
Como a Borboleta Azul!