"UM GRITO SILENCIOSO"

O SILÊNCIO DA TATU-BOLA TATAU

"O SILÊNCIO DE TATAU"

Havia uma floresta muito linda e alegre, onde moravam vários animais com seus respectivos filhotes que adoravam brincar nela e onde sentiam-se seguros e amados por todos, porém nem tudo é como aparenta ser, muitas vezes de onde menos esperamos é que vem o perigo.

Nessa floresta morava uma turma de filhotes muito unida e divertida que era formada pela linda tatu-bola Tatau, pela esperta coelha Lola, pelo travesso macaco Kako e pelo tímido lobo Zezé, eles passavam os dias brincando correndo, pulando e se divertindo e só paravam de fazer suas estripulias quando iam para a escola onde estudavam ou quando estavam dormindo.

Os pais dos animaizinhos também eram muito amigos e sempre se reuniam para comentar sobre as traquinagens de seus filhotes, eles mantinham uma relação de amizade, respeito e confiança.

Os quatro amigos inseparáveis Tatau, Kako, Lola e Zezé sempre iam para todos os lugares juntos, fosse para o parque, cinema, shopping ou mesmo para a escola sempre eram vistos juntos e só raramente eles se separavam, era uma amizade bonita de se ver, pois mesmo um sendo totalmente diferente do outro eles se amavam.

Num certo dia por um motivo de força maior, Tatau precisou sair mais cedo do colégio e ao passar em frente a casa do seu Zezão, pai do seu amiguinho Zezé, ele estava à porta e a chamou dizendo que tinha um doce muito gostoso e queria dar a ela; e como ela o conhecia e confiava nele, aceitou o convite, pois não tinha nenhum motivo para suspeitar de nada, o mesmo era amigo da família e muito respeitado em toda floresta.

Depois que Tatau recebeu o doce e quis sair, seu Zezão perguntou se ela não ia agradecê-lo e colocou o dedo em sua bochecha para que ela o beijasse como forma de agradecimento, e quando ela o beijou, seu Zezão aproveitou para fazer alguns carinhos estranhos e muito diferentes dos que ela estava acostumada a receber de seus pais e de todos da família e isso a deixou muito assustada e não sabia o que fazer, seu Zezão era mais velho e ela foi ensinada a obedecer e respeitar aos mais velhos.

Seu Zezão depois de se aproveitar da inocente Tatau e conseguir atingir seus objetivos, disse a Tatau que ela podia ir embora, porém que nunca abrisse a boca para comentar o que tinha acontecido ali com ninguém, que esse era um segredinho deles e que mesmo que ela contasse, ninguém entenderia ou mesmo acreditaria nela e se acreditassem, não iriam mais gostar dela, pois o único que gostava dela de verdade era ele.

A partir daquele dia Tatau nunca mais foi a mesma, seu Zezão sempre que tinha oportunidade de ficar a sós com ela, fazia aquelas coisas estranhas; Tatau mesmo sem gostar, tinha que submeter-se com medo de que se descobrissem não gostassem mais dela, e aos poucos tornou-se uma menina arredia, medrosa, assustada, se isolou dos amiguinhos e até suas notas na escola ficaram baixas; e, por mais que todos quisessem saber o motivo de toda aquela mudança, ela não falava nada pra ninguém e mantinha-se em total silêncio.

Os pais de Tatau não sabendo mais o que fazer para ajudá-la, foram pedir ajuda a dona Corujita que era uma professora muito experiente e sábia, então ela passou a observar Tatau com mais atenção e percebeu que aquela mudança não era normal, que alguma coisa havia acontecido, então bolou um plano para que Tatau pudesse manifestar seus sentimentos; pediu a turma que cada um fizesse um desenho de como se sentiam ou do que gostavam.

Alguns filhotes desenharam-se brincando com seus brinquedos, outros desenharam-se em parques floridos, outros desenharam-se lanchando muito sorridentes, todos os desenhos eram muito coloridos com flores, corações, sol e borboletas; porém Tatau foi a única da turma que desenhou-se sentada em um canto da sala coma a boca fechada por uma faixa e uma lágrima escorrendo em seu rosto; um desenho sem cores, sem alegria, muito sombrio e triste.

Logo que dona Corujita viu o que Tatau havia desenhado ficou muito preocupada e pediu que ela ficasse um pouco na sala na hora do intervalo e com muito jeito a chamou para conversar e pediu que ela explicasse o que estava acontecendo com aquela garotinha do desenho, pois parecia muito triste e solitária e com um peso enorme sobre ela. Tatau no começo ainda estava temerosa, logo começou a chorar e tremer, porém aos poucos dona Corujita foi adquirindo sua confiança e Tatau conseguiu contar o que tinha acontecido como se estivesse falando realmente da garotinha do seu desenho, esse desabafo ajudou-a a libertar-se da prisão na qual estava vivendo e a colocar atrás das grades quem realmente merecia.

Seu Zezão foi para prisão pagar por todo mal que fez não somente a Tatau, mas a outros filhotes que também criaram coragem e se libertaram contando histórias semelhantes.

Tatau voltou a ser aquela menina alegre, esperta, brincalhona e amiga de seus amiguinhos enfim voltou a ser feliz.

Essa é apenas uma fábula, porém existem muitas crianças que sofrem muitos tipos de violência que são praticadas por pessoas estranhas, porém na maioria das vezes são praticadas por pessoas bem próximas a elas e nas quais confiam.

Nessa história a personagem principal a nossa querida amiga Tatau sofreu violência sexual, física e psicológica, pois apesar de não ser culpada do que aconteceu, sentia-se culpada, impotente, indigna e foi ameaçada para que não contasse nada a ninguém.

Tatau por ser inocente calou-se, e carregou por muito tempo sozinha o peso daquela experiência, porém na hora em que ela perdeu o medo e denunciou o seu agressor, ela sentiu-se leve, protegida e amada, viu que ela não tinha culpa de nada e que o grande vilão dessa história era o seu Zezão, assim a justiça foi feita e ela conseguiu recuperar a autoestima e seguir em frente escrevendo uma nova e linda história.

Cada dia mais aumenta o número de crianças vítimas de agressão, porém sempre achamos que só acontece com os outros, até que um dia acontece próximo a você e isso dá uma grande revolta.

Essa história foi o meu grito silencioso por uma inocente de apenas 3 anos que conseguiu confiar em mim e desabafar, foi um grito silencioso no meio de tantos outros, espero que um dia nossas crianças consigam parar de gritar de dor e tristeza e comecem a gritar somente de felicidade, que tenham somente sonhos e parem de ter pesadelos, que não tenham sua infância roubada e sua inocência perdida precocemente.

"Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele." (Provérbios 22:6)

VANUSA PAIXÃO
Enviado por VANUSA PAIXÃO em 05/05/2015
Código do texto: T5232104
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