Primas inter pares

Uma do interior, outra da capital, regulando na idade, que ainda não se grafava com dous dígitos, as primas Totóia e Neném, quando se encontravam, eram um pagode só. E no mais das vezes, se encontravam em Beagá, chez tio Alfie, o pai de Neném.

Neném, filha única, devia ficar abismada de ver aquela escadinha interminável de irmãos de Totóia, chegando todos de uma vez no seu território. Mas logo ambas achavam uma manobra de se livrarem da comitiva para trocarem suas confidências mais à vontade, e como era próprio a pre-adolescentes.

E foi numa dessas que voltaram todas cheias de si de um passeio pelos passeios da charmosa capital dos mineiros. Como eram chiques e cheias de novidades as lojas, as vitrines, os objetos ali expostos, as atendentes, tão arrumadinhas, perfumadas...

E aí, compartilhavam, na cumplicidade, as melhores gargalhadas...Por fim, aos atônitos circunstantes, adultos e infantes, resolveram contar o segredo que tanta emoção lhes provocava - ou pororovocava: numa das lojas tinham visto uma manequim tão linda, tão elegante, portando um vestido da última moda e, na impetuosa curiosidade infantil resolveram se abaixar para melhor espiar. E coradas, com o coração em disparada, constataram que aquela sílfide da vitrina, loução rosto de moça-menina, nem tinha, danadinha, calcinha...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 22/02/2015
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