Coroação de Jesus

Maio no povoado de São Gonçalo do Brumado era um encanto, com o espetáculo das meninas, todas angelicais, cantando ao levar a coroa para Maria. Ordeiras, faceiras e principescas, subiam a escada de madeira, e chegavam ao píncaro da glória. E mais de uma vez, fê-lo, triunfante, minha irmã Vitória.

Para entreter, e consolar, os meninos, e quiçá para garimpar algum Joselito entre nossas hostes, as catequistas e zeladoras dos bens espirituais criaram uma sequência ao show, com a Coroação de Jesus.

E filho unigênito, que tanto sofrera, na certa, mais que o merecera. E o mês de junho passou a ser-lhe então dedicado.

Aparecido foi o primeiro do grupo a coroar. Afinado e concentrado, no seu terninho azul claro puxou a fila, e deu conta do recado. Faltaram-lhe as asinhas de anjo, a tiara brilhante, mas urgia ser confiante. E fomos adiante.

No segundo dia daquela divina folia - contudo apenas opaca diante do brilho das meninas - foi a vez do Nivaldo, menino agitado, meu colega de classe. Estridulou, mas o intento logrou.

E já no terceiro dia, fui escolhido para desincumbir-me da sacra tarefa.

Diante duma aflita catequista Ana, bem que tentei, quando ensaiei, mas pra querubim, não dei. A voz não saía. O Aparecido foi chamado para a função.

E com a alma já mais calma, silente, com mano Beu, juntamente, botei palma.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 28/11/2014
Reeditado em 15/01/2024
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