O estojo de Bebel
Bebel sonhou com o estojo até não poder mais. Papai Noel, que só vinha uma vez ao ano, lhe era o puro desengano. Já sem fé nas preces, partiu às pressas para um plano urdir, e as eventuais falhas remir.
Cravou os olhos nos dois estojos de seringas de papai e optou pelo maiorzinho, de metal clarinho, um ideal recinto para seus lápis e borracha.
E se pôs em marcha para a escola de Dona Terezinha. Papai não iria se dar pela falta do estojo, pois sempre anunciava, com antecedência a injeção da próxima incumbência.
No coração de Bebel, aquele arrebatar de um tropel. Sem querer ser exibida, ia ao menos sentir-se ressarcida, em meio àquela turma da matinal lida. Tinha, enfim, um estojo. Que não era dos de deslizar a tampinha, mas pra quê pensar nisso agorinha?
Quando a aula começou, e da pasta o estojo retirou, e para abri-lo, a hermética tampa forçou, foi aquele pow! Tudo pelo piso espalhou e o colega vizinho, Alfredinho, de tanta injeção traumatizado, num doído alarido gritou:
- Cadê a xiringa?
Bebel se petrificou, alvo da atenção que virou. E se lágrimas não verteu, o que sustenta é porque tudo secou. Dona Terezinha a mão na cabeça lhe passou. E o sonho do estojo, no amargo despertar, mais uma vez se abortou.