A penteadeira do Róbson
Aquele menino loirinho como os das revistas coloridas, o Róbson, acabara de ganhar um mimo: estava ali, exposta aos olhos da gurizada que pela janela rueira se adentrassem, a imagem do extremo afeto materno: a penteadeira, altaneira, com espelho, gavetas e um tampo lustroso. Certamente, suas gavetas conteriam pentes, algum perfume, loção capilar, e o que a mentimaginar...Róbson não estava além do ensino elementar.
Filho único, entretanto, para ele a mãe era todo desvelo - sem que se lhe arrepiasse nenhum pelo. O pai, barbeiro e também devotado ao rebento, é que parecia indiferente à novidade, mesmo saída de seus cobres: tanto alvo como calvo, da vaidade não era o alvo, andava a salvo.
E enquanto ia crescendo, o rúbio Róbson não parecia afetado por aquele tratamento principesco. Jogou bola, trepou em árvores de quintais alheios e nos ritos de passagem, junto aos iguais, se não fez menos, vai ver até que fez mais.
Agora cinquentão, quase lhe perguntei outro dia pela penteadeira. E por um triz, não o fiz, achei que ele fosse achar minha pergunta interesseira...E aumentar o valor da penteadeira...