Pânico na Mata

Colhia gravetos pondo-os lentamente na cesta de vime. Logo, logo, faria um belíssimo fogo. O tempo estava frio e a tosse emanada do peito de sua mãe poderia piorar devido à mudança repentina do clima.

No caminho de volta a casa cuidou ouvir um estalido de folhas secas pisadas, parecia que alguém a seguia.

Escondeu-se habilmente sob uma touceira e ficou a esperar curiosamente o misterioso seguidor de seus passos.

A estranha figura pareceu descobrir o seu intento e quedou-se, paralisando completamente sua investida. Sentia o cheiro da menina, a sua respiração ofegante, o palpitar do seu coração angustiado.

Adiante, a menina percorria com os olhos tudo ao seu redor, mas apenas ouvia o canto de algum pássaro ou o rastejar moroso de pequeninos insetos típicos da mata fechada.

Sua mente vagou alheiamente, buscou histórias há muito contadas e que ainda povoavam o seu imaginário; pensou no lobo mau e suas pretensões com Chapeuzinho Vermelho, nos constantes ataques de outro lobo aos três porquinhos; sentiu que iria desmaiar frente ao pânico.

Um baque aconteceu à sua frente e ela quase desfalece, mas reparou que se tratava de uma manga madura despregada dos galhos e espocada no chão.

O frio chegava a incomodar, negras nuvens aglomeravam-se no céu, era o prenúncio de uma tempestade. A imagem de sua mãe sacudiu-lhe as ideias e ela cogitou empreender uma fuga em imensa disparada.

Foi contida por uma grande sombra formada, envolvendo toda a moita que a abrigava, e um vulto indefinido assomou fitando-a bruscamente.

A garotinha só então reconheceu o corpo franzino e doentio de sua mãe, trazendo em suas mãos um agasalho a fim de fortalecê-la contra o temporal iminente.

A deficiência de seus pulmões e a fragilidade do corpo a impedira de fazer-se anunciar e evitar situação tão constrangedora.

Na casinha de aspecto modesto, aquecidas pelo fogo e o abraço mútuo, mãe e filha se protegiam da chuva torrencial.

O amor da mãe superou todos os obstáculos. Lá fora, forças divinas comemoravam.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 29/10/2014
Código do texto: T5016052
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