A Princesa Ternurinha

Do céu, ouviu-se um som estupendo e um súbito clarão fez surgir a figura de uma enorme águia. Suas asas assemelhavam-se a duas tochas de fogo e seu voo pelo espaço aconteceu numa velocidade sem precedentes, tornando-se um minúsculo pontinho preto em chamas numa fração de segundos.

Faíscas elétricas foram cuspidas das nuvens passantes e o segundo estrondo derramou sobre a cidade pesada chuva, enlameando todo o vale, deixando a pequenina aldeia totalmente alagada.

O rio engrossou, subiu rapidamente o barranco e levou pânico aos moradores, arrastando tudo na sua passagem inesperada.

Do alto da montanha, mais precisamente no casarão encravado em seu topo e abandonado há dezenas de anos, a maga Koala estreava mais uma de suas experiências malignas, a primeira desde que chegara naquele desconhecido lugar.

Sabia da existência naquele povoado de uma bela nativa, respeitada por todos pela sua beleza e, acima de tudo, pela bondade emanada de seu coração. Todos a tinham como a princesa Ternurinha; seus modos amáveis e caridosos a tornaram numa verdadeira divindade.

Tais circunstâncias inquietavam e enchiam de inveja a bruxa do casarão: em sua vida secular nunca angariou a simpatia de ninguém, por só trazer maldades em seus venenosos pensamentos.

Ao contemplar o desastre que provocara, a infeliz megera soltava uma onda de gargalhadas que ecoava por toda a amplidão, provocando uma verdadeira fuga da bicharada nos arredores das antigas edificações.

A princesa Ternurinha, ilhada sobre uma longa ponte de madeira suspensa nos rochedos, assistia a tudo coberta de tristeza, mas teve sensibilidade suficiente para perceber se tratar de uma obra maldosa e desumana.

Pôs os dedos indicadores sobre as têmporas e conduziu sua mente para um vilarejo distante e as vibrações de seu pensamento entraram em sintonia com as do velho líder daquela comunidade, um ancestral detentor de fortes poderes. Ele as recebeu como se estivesse em transe e rapidamente emitiu uma ordem através das ondas vibratórias confirmando o pedido da jovem princesa.

Nisto, o vale inundado vê surgir no meio das águas a figura de um lendário dragão alado de cor esverdeada; o sinistro animal abre sua bocarra e sorve toda o líquido da enchente, transformando sua pança em verdadeiro balão.

De repente suas asas o elevaram até a altura da fantasmagórica construção e, inflando fortemente seus pulmões, soprou uma verdadeira fornalha em sua direção e o fogo rapidamente reduziu tudo a um monte de escombros.

A maga Koala esgueirou-se a tempo, montada em sua tradicional vassoura.

A aldeia festejou durante todo o dia o sumiço da bruxa e mais ainda a bondade de sua mais exemplar habitante.

A princesa Ternurinha cantou e dançou diante de todos, irradiando sua incomparável beleza.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 29/10/2014
Código do texto: T5016027
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