A Incrível Fábrica dos Desejos
Situava-se numa ruazinha que dava para o mar, onde o cheiro de sargaços e o esganiçar das gaivotas mirabolantes serviam de referência para o visitante desconhecido. Era uma construção em forma de castelo medieval, embora de tamanho reduzido, e pintada a cal, pela mão do habilidoso Rondel, o criador da oficina voltada para atender a todos os tipos de sonhos.
O Sr. Rondel chegara ao lugarejo sem dizer o propósito a que viera, edificou a fábrica, assentando tijolo por tijolo, incansavelmente, e em pouco tempo já tinha fama no lugar, pela sua rápida resposta aos anseios de quem o procurava.
Era um senhor bastante idoso, barba longa e alvejante, os olhos apertados típicos de quem está sempre criando, inovando, cabecinha e atitudes de cientista maluco.
Ficava horas a fio contemplando a linha do horizonte e, sem menos esperar, dava um estalido com os dedos como se acabasse de ter alguma revelação e adentrava a oficina cheia de ferramentas e uma espirituosa equipe de trabalhadores, na verdade composta por vinte anõezinhos já bastante maduros.
Recebia pedidos de todas as partes do planeta, separava aqueles que resultariam em boas ações e prontamente enviava a solução para o destinatário, vibrando de contentamento pela oportunidade de ser útil e solidário.
Em uma ocasião teve que ler e reler repetidas vezes o teor do pedido que estava em suas mãos, pois se tratava de algo que jamais lidara, e pensou na dificuldade que teria em atender àquela proposta.
A mensagem fora escrita de maneira singela, com letras uniformes, graúdas, e finalizava assim: “Querido Sr. Rondel: é possível, pois, acabarmos com a indiferença à miséria e à pobreza?”
O velho fabricante, como fazia costumeiramente, dirigiu-se ao mar e fitou a sua linha imaginária, àquela hora confundindo-se com o infinito.
De repente, novo estalido nos dedos, nova ordem para os pequeninos trabalhadores, máquinas e esteiras a mil, e, dentro de uma semana, o pedido foi despachado para a bondosa menininha.
A incrível fábrica dos desejos acabava de produzir - para o bem da humanidade - a Consciência Coletiva, a qual todos devemos usá-la para ajudarmos aos necessitados e carentes.