Ô Louco, Meu!
Uma tenda armada nas imediações do campinho de futebol desperta a curiosidade dos garotos. É feita de lona puída e sustentada por um tripé de varas, com a frente voltada para o nascer do sol.
Uma “puxadinha” em papelão serve-lhe de alpendre, ao mesmo tempo em que um tronco de madeira ali deitado confere-lhe o propósito de assento.
Da abertura surge um senhor barbudo e olhos miúdos trazendo nas mãos uma cumbuca cheia de milho. Olha ao redor e senta no banco improvisado, firmando o olhar no infinito.
Os meninos começam a bater bola - é uma límpida manhã de sol - e tudo corre normalmente como todos os dias.
Ocorre que um dos jogadores rebate uma jogada de modo inesperado e a bola, girovagando a toda força, resvala exatamente na cabeça do estranho visitante e vai acomodar-se no interior de sua mini caverna.
Os times ficam paralisados esperando a devolução do brinquedo mas, como se nada acontecesse, o homem coça a barba tranquilamente sem menção nenhuma de levantar-se.
Os jogadores trocam olhares e quase a um só tempo encaminham-se na direção do indiferente homem, tentando resgatar o objeto.
Súbito - provocando uma retirada em conjunto - um chimpanzé irrompe da barraca trazendo a bola em suas mãos agitadas, gritando roucamente e mostrando seus dentes esbranquiçados.
Nisto o homem levanta-se e tenta conter o animal e ambos tropeçam caindo um sobre o outro. Na queda a bola é espremida e a força desta pressão produz um estouro, cujo barulho faz-se ouvir pelo último dos fujões.
Na manhã seguinte alguns dos meninos vieram com seus pais tentando saber o que significava tudo aquilo, mas já o lugar antes habitado não dava indícios de coisa alguma.
Pontos de interrogação surgiram na cabeça dos adultos, mas os meninos juraram de pés juntos que o acontecido não era pura invenção.