A Lenda dos Dragões-Verdes
A notícia chegou por intermédio do rádio na hora do almoço e a família unida ouviu atentamente. Não era mais novidade. Todos, exceto as crianças, temiam de agora em diante enfrentar a invasão de repórteres e curiosos, incontáveis visitantes para apurar os fatos, sentir de perto a veracidade da antiga lenda que pairava na pacífica aldeia de Dragamar.
A versão científica se espalhou pelo mundo afora como a força dos ventos. Agora era fato, inquestionável. Todas as provas constavam num volumoso dossiê, fruto de anos de pesquisas em meio ao sol causticante e rochedos abrasadores.
Na capital, já era discutida a força-tarefa para avaliar o tamanho do empreendimento, se havia necessidade de deslocar parte efetiva do Exército e outros cuidados para a operação lograr êxito.
Os moradores do povoado não falavam em outro assunto: a lenda dos Dragões-Verdes fora desmistificada, agora o mundo todo sabia da sua existência e do local em que se mantinham agregados, no vale Esmeraldrago, situado a légua e meia a contar partindo-se da igrejinha de torres gêmeas.
Foi numa manhã de domingo a chegada dos primeiros representantes da imprensa. Chegaram com escolta militar e logo partiram para o vale com o mapa da região em mãos.
Os camponeses seguiram seus rastros, uns montados em seus próprios cavalos, outros partiram em suas velhas camionetes, mantendo uma distância considerável do comboio militar.
A relva do vale Esmeraldrago estendia-se como um manto, após a descida do alto das montanhas e não foi surpresa alguma -para os lavradores – constatarem a ausência de qualquer vida animal em toda a extensão da área.
Sucedeu que os forasteiros, abatidos pela frustração depois de exaustiva procura, recuaram até aquela gente humilde vestida de maneira simples e coberta com seus chapéus de palha, e vociferaram: ”Onde estão os malditos Dragões-Verdes?”
A legião de caipiras deixou a pergunta ricochetear em suas mentes, como a garantir convicção em suas atitudes, e todos responderam conforme haviam exercitado:
“Podemos assegurar a "vosmecês" que eles estão muito bem guardadinhos no vale da nossa imaginação!”