A Pastorinha Penélope
Carneirinhos pastavam tranquilamente na campina verdejante. Os olhos vigilantes da menina Penélope, que estava recostada sob o tronco de uma frondosa árvore, cederam ao convite de uma brisa refrescante e mergulharam profundamente num sonho mágico.
A pequena pastora viu-se dentro de um castelo onde uma rainha de trajes riquíssimos dava ordens para todos os ajudantes.
A garotinha empunhava uma vassoura e teria que fazer a faxina de todos os compartimentos, fato que decerto a deixaria com dores por todo o corpo.
Quando começou a remover a poeira, sentiu a presença de uma senhora idosa que se preparava para descascar uma montanha de batatas.
O nariz cheio de bexigas e o cabelo esfiapado cor de neve, além dos olhos afundados em suas órbitas, tudo lhe emprestava ares de uma bruxa má e isto fez o sangue escorrer mais forte nas veias de Penélope.
Mediante o assombro da doce menina, a velha esquisita lançou-lhe um olhar cheio de ternura (pasmem!) e soltou estas palavras com a voz aveludada:
“Não te espantes, minha menina! Sou prisioneira da rainha há muitos e muitos anos... cheguei aqui, menininha tal como tu és atualmente. Ao longo do tempo fui perdendo minha beleza, envelheci, e me tornei nesta figura ridícula que chega a assustar-te.”
“O que a senhora fez para merecer tal castigo?” – indagou Penélope, totalmente embaraçada frente à situação.
“A beleza e a bondade no coração às vezes incomodam as pessoas fragilizadas de espírito. A isto chamamos de inveja. A rainha não suporta concorrência em seu reinado. É bela, mas faz-se passar por bondosa e isto não conta, pois seu coração é embrutecido.” – explicou a prisioneira.
O barulho renitente dos chocalhos dos carneirinhos despertou abruptamente Penélope da névoa dos sonhos e ela teve um leve sobressalto.
“Que pesadelo horrível!,” – exclamou a pastorinha – “é difícil acreditar que haja pessoas tão más. Será que existem?”