A Pastorinha Penélope

Carneirinhos pastavam tranquilamente na campina verdejante. Os olhos vigilantes da menina Penélope, que estava recostada sob o tronco de uma frondosa árvore, cederam ao convite de uma brisa refrescante e mergulharam profundamente num sonho mágico.

A pequena pastora viu-se dentro de um castelo onde uma rainha de trajes riquíssimos dava ordens para todos os ajudantes.

A garotinha empunhava uma vassoura e teria que fazer a faxina de todos os compartimentos, fato que decerto a deixaria com dores por todo o corpo.

Quando começou a remover a poeira, sentiu a presença de uma senhora idosa que se preparava para descascar uma montanha de batatas.

O nariz cheio de bexigas e o cabelo esfiapado cor de neve, além dos olhos afundados em suas órbitas, tudo lhe emprestava ares de uma bruxa má e isto fez o sangue escorrer mais forte nas veias de Penélope.

Mediante o assombro da doce menina, a velha esquisita lançou-lhe um olhar cheio de ternura (pasmem!) e soltou estas palavras com a voz aveludada:

“Não te espantes, minha menina! Sou prisioneira da rainha há muitos e muitos anos... cheguei aqui, menininha tal como tu és atualmente. Ao longo do tempo fui perdendo minha beleza, envelheci, e me tornei nesta figura ridícula que chega a assustar-te.”

“O que a senhora fez para merecer tal castigo?” – indagou Penélope, totalmente embaraçada frente à situação.

“A beleza e a bondade no coração às vezes incomodam as pessoas fragilizadas de espírito. A isto chamamos de inveja. A rainha não suporta concorrência em seu reinado. É bela, mas faz-se passar por bondosa e isto não conta, pois seu coração é embrutecido.” – explicou a prisioneira.

O barulho renitente dos chocalhos dos carneirinhos despertou abruptamente Penélope da névoa dos sonhos e ela teve um leve sobressalto.

“Que pesadelo horrível!,” – exclamou a pastorinha – “é difícil acreditar que haja pessoas tão más. Será que existem?”

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 05/10/2014
Código do texto: T4987885
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.