Jacob, o bom Pastor

A casa do velho pastor ficava no alto de uma colina. Todas as manhãs o sol inundava-a de luz, cedinho, e parecia afugentar todas as impurezas e males acaso ali tentassem alojar-se. Mal quebrava a barra da manhã e o bom homem já estava de pé, junto às bananeiras, lavando o rosto com a água límpida e fria do poço.

Enxugava a espessa barba nas mangas de sua túnica e logo enveredava por um caminho estreito. Árvores ruidosamente festejavam à sua passagem. Como todos os dias, empunhava o seu cajado tangendo o seu rebanho de ovelhas às proximidades do vale, onde a comida era verde e abundante. Ficava, ao correr das horas, recostado no tronco de um carvalho, cofiando a barba alvejada pelo tempo, os olhos perdidos na amplidão, deliciando-se com o apetite das suas amiguinhas.

Às vezes ficava preocupado quando uma ou outra não queria comer; franzia o cenho e apoiava o queixo sobre a palma da mão:

- Vamos, come, Floquinho! Não vês? A comida tá fresquinha do jeito que tu gostas.

- E agora, Violeta, o que foi desta vez? Não é suficiente o matinho verde e saboroso que te espera?

Jacob, o bom pastor, acompanhava a trajetória do sol todos os dias naquele doce recanto. Cumpria a missão de apascentar as ovelhas do seu patrão e senhor. Representavam os filhos que jamais possuíra; os vizinhos que sempre desejou ter. Amava-as demasiadamente e eram, decerto, a razão de sua existência.

Por intermédio do seu antigo rádio de madeira, muitas vezes escutara falar sobre devastações de matas e massacre de animais, brutal e impiedosamente. O seu coração, pequenino para estas coisas, recusava compreender a razão para tamanhas atrocidades. Custava-lhe crer que havia homens assim.

À tardinha, na hora de recolher, saltitava entre as ovelhas, misturava-se com elas no sinuoso caminho de volta. Fazia gracejos imitando-lhes a forma de andar, a quatro pés. De quando em vez tomava-lhes a frente e corria, corria, até deixar-se cair exausto, feliz que só ele mesmo, enquanto suas amigas pulavam por sobre o seu corpo.

Na redinha de largas varandas, ele adormecia a fitar o burburinho das ovelhas no cercado. Já a brisa era branda e o luar realçava a alvura de suas lãs. O velho pastor ressonava tranquilamente, tinha a expressão de quem sonhava coisas boas, parecia contar carneirinho...

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 04/10/2014
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