Gabi e as Nuvens

Duas nuvenzinhas deslizavam suavemente no céu de magnífico azul quando perceberam uma garotinha choramingando no pequeno jardim de sua casa. Era manhã de domingo e o sol estava irradiante após longo descanso.

“Vês aquela pobre menininha afetada pela tristeza, amiga Fofucha?” – indagou a nuvem que se punha na dianteira.

“Mal posso acreditar, Floquinha, que, em meio a uma manhã tão encantadora, haja um serzinho abatido pela infelicidade!” – admirou-se a acompanhante.

Vista do alto, a jovem enterrava a cabeça entre os joelhos e esfregava os olhos tentando conter as lágrimas. Ao seu lado, soltando ares de preocupação, inquietava-se o cãozinho Bob, fiel companheiro de estimação. Sua percepção aguçada sentiu a aproximação das nuvens e ganiu baixinho, alertando sua companheira, dando-lhe focinhadas ou mesmo passando as patinhas sobre seus cabelos.

A menina teve um leve sobressalto. Visualizou com perplexidade aquela imagem, paralisada como se tivesse vivenciando um sonho.

“Qual o motivo de tuas lágrimas, linda criança? O que te aperta o coraçãozinho ao ponto de te lamentares?” – perguntaram a uma só voz.

Com a voz embargada, ela explicou: “Meus pais foram obrigados a trabalhar e me deixaram desolada, justamente hoje que prometeram brincar comigo. Disseram que só voltariam à noitinha. Eu e o Bob ficamos tristonhos.”

“Façamos o seguinte: eu e a Fofucha vamos brincar com vocês. Vamos brincar de adivinhação! Nós duas iremos mudar as formas e tu dirás em que nos transformamos, topas?”

“Legal, claro que sim! A propósito, eu me chamo Gabriela ou, simplesmente, Gabi.”

E assim começou a brincadeira. A cada transformação, a menininha respondia: “Girafa! Nossa, que pescoção!” E ria-se a valer. “Hummmm... agora é um carneirinho!” E bolava de rir, sob a aprovação do saltitante Bob.

E as transformações foram se sucedendo: o elefante com sua tromba levantada, o leão com sua juba magistral; o cometa caudaloso, a lua com sua bandinha cortada e até uma igrejinha com suas torres.

A doce menina ia ao delírio, acertava todas em cheio, Bob acompanhava-lhe os trejeitos, era uma felicidade só. A cada acerto de Gabi, Fofucha e Floquinha se enchiam de contentamento, faziam piruetas engraçadíssimas. Aquele foi o melhor dia de suas vidas.

Nuvens povoam sonhos e modificam o estado de espírito ao sabor dos pensamentos, incansavelmente.

Gabi e Bob nunca mais brincaram sozinhos.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 03/10/2014
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