A Bolha de Sabão
O menino soprou a bolha de sabão com tanta força que ela acabou por envolvê-lo, abraçando-o totalmente, e ele seguiu dentro dela, ao sabor dos ventos. Ganhou altura e flutuou no espaço, tendo o mundo a seus pés.
Divisou a linha do horizonte, o deslizar das ondas marinhas e o desenho incerto das serras azulando ao longe, uma beleza de tirar o fôlego!
Em sua viagem ele verificou a vida tão diferente do seu bairro: viu um monte de casebres na periferia onde crianças descalças e seminuas corriam em becos cheios de impurezas, outras doentes e de corpos fragilizados chorando à falta do pão.
A sensação de temor à altura foi substituída por uma indescritível compaixão ante a visão desoladora, criada pela falta de amor entre os homens em contraste com as belezas naturais.
Ele se lembrou do lar onde tinha proteção e carinho, roupinhas lavadas, a escola que lhe propiciava conhecimentos, os coleguinhas camaradas e seus games para a diversão. A boa comida lhe chegava às mãos nas horas certas e tinha o cobertor limpinho para aquecer-lhe os sonhos.
Em seus altos e baixos, o percurso enveredou pelas ruas asfaltadas repletas de veículos e ele presenciou seus condutores nervosos discutindo no trânsito por uma bobagem qualquer. Cidadãos à beira de um ataque de nervos simplesmente para defender seus erros inconfessáveis.
Acima, flocos de nuvens brincavam de figurinhas ora parecendo uma girafa, ora imitando um elefante. Reparou que toda a criação Divina contribuía para encher os nossos corações de uma paz celestial.
Um vento soprou em direção contrária e a bolha foi deslocada para seu local de origem, não sem antes ele verificar que seus pais já davam por sua falta, preocupados.
Próximo ao chão desfez-se de sua nave e correu ao encontro de sua família, dando um beijo estalado em ambos, abraçando-os fervorosamente.
“Bom seria que todos nós fizéssemos uma viagem deste gênero para termos uma compreensão melhor do mundo em que vivemos!”, refletiu o garoto chocado com o que vira.