O Velho Baú

Gostava de olhar as estrelas: pareciam um rebanho de ovelhas pastando na amplidão dos céus. De vez em quando uma se desgarrava do grupo, fazia uma trajetória no espaço e parecia perder-se no infinito. Papai dizia que era uma estrela cadente, estava fraquinha e ia dar lugar a outras estrelas novas que iam surgindo. Segundo ele, se fizéssemos um pedido, seríamos prontamente atendidos.

Uma brisa leve soprava em nossos cabelos, nossos corpos mantinham-se juntos uns aos outros para afastar o frio. Mesmo com lençóis, nossa pele tremia, mas inventávamos histórias e ríamos a valer, ao ponto de esquecermos as ameaças do tempo.

Outra estrela desviou-se das amiguinhas e cumpriu sua última rota. Lembrei-me das palavras de papai e fiz um pedido. Afastei-me um pouco dos meus companheiros e me concentrei no meu desejo. De mãos postas, como se estivesse rezando, fiz um pedido ao Papai do Céu.

Num dos quartos da casa havia um baú, onde mamãe guardava os objetos considerados como coisas valiosas, onde só o sentimento da alma sabia definir seus valores. Álbum de família, alianças herdadas de nossos avós, o vestido e o véu do casamento, enfim, sua verdadeira riqueza.

Quando fiz o meu pedido, lembrei-me do velho baú, pela sua importância de guardar tudo de inestimável valor em nossas vidas. Construí um baú imaginário e deixei lugar para o meu primeiro pedido, caso fosse atendido.

Tantos anos se passaram e as lembranças das noites salpicadas de estrelas estão bem vivas em minha memória. Do meu quarto, antes de dormir, fico olhando o burburinho das estrelas, num pequeno quadrado que a cidade grande me permitiu, não tão cintilantes quando comparadas às das noites da roça.

Guardo com muito carinho o baú construído nas asas de minha imaginação. Durante todo este tempo armazenei incontáveis preciosidades, fruto dos pedidos nas despedidas das estrelas cadentes.

Consegui tudo isto porque utilizei a fé e bondade no coração. Não pedi coisas impossíveis, nem tampouco luxo ou riquezas materiais. Pedi amor, carinho, paz, compreensão. O meu baú está repleto. Mas é incrível como sempre há lugar para mais...

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 30/09/2014
Código do texto: T4982603
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