Meu Gatinho Lipe
Chego em casa depois de um intenso dia de trabalho, do trânsito ensurdecedor e, após um demorado banho, um chá quentinho, deparo-me com seus olhos, como se fossem duas contas douradas, acenando para mim.
Vou à cozinha, deposito um pouco de leite na tigela e o vejo saltar, com estilo, para bebericar.
Enquanto a mente relembra tarefas ainda por fazer, passo a mão em seu pelo aveludado e ele me devolve o afago, dando-me “marradas” de carinho com o seu rosto ovalado.
O nome do meu companheiro é Lipe, um gato de raça persa.
Quando se enrosca em mim, tonitruando com o seu ronrom, os problemas saem de cena e começo a entrar no seu jogo de carícias.
Vou ao sofá, estiro-me preguiçosamente e sinto sua presença, a pelugem macia roçando-me o braço.
Lipe não gosta de sair de casa, não tem instinto de caça, é um excelente companheiro e, por ser tão dócil, preocupa-me o fato de deixar-se ser levado por alguém.
O meu amigo felino vez ou outra procura ler meus pensamentos. A maneira que me olha, a sombra de dúvida emanada de seu olhar terno e fixo, faz com que eu esqueça os tormentos e relaxe, assim como ele o faz pousando sua patinha de “molambo” sobre minha fronte.
Sempre tive a ideia de gatinhos que fazem mil peripécias, correndo atrás de qualquer coisa móvel e às vezes mantendo-se isolados no entusiasmo de suas peraltices. Este faz mais a opção pela linha do sossego.
O comportamento do Lipe é surpreendente. Parece conversar comigo toda vez que me defronta. Seus olhos, de um amarelado intenso, provocam-me respostas a todo instante, como um mestre reclamando por uma postura de paz e serenidade.
É bom sempre tê-lo por perto, meu velho amigo. A sua cobrança por ternura revigora mais ainda minhas forças e eu me rendo, extasiado, ao seu belo exemplo de afetividade.