O Homem das Rimas
“Diz aí, dona Aldenora, não quer comprar uma vassoura?”, era a voz metálica do homem das rimas percorrendo as ruas do bairro, vendendo suas variedades. Tinha um jeito esquisito, o olhar miúdo e um extenso bigode.
Quando ele aparecia, na maioria das vezes no comecinho da tarde, todos acorriam à calçada para ver sua maneira intrigante de brincar com as palavras.
“Olá, dona Maroca, que tal um milho pra sua pipoca? Vê aí, sinhá Susana, que belo cacho de banana!”, o povo ria a valer pela sua criatividade despretensiosa e envolvente.
Seus braços magros saíam empurrando uma carroça de duas rodas, toda arrodeada por taliscas de madeira e papelão, abarcando toda a quinquilharia que ele apregoava.
Chuva ou sol para ele eram indiferentes. Percorria o trecho trabalhando as rimas, o público gostava, sua mercadoria era vendida.
Ocorre que um dia, nada bom para um delegado de polícia chamado Napoleão, o homem das rimas ofertou um tamborete forrado a couro e o fez da seguinte maneira, expondo a mercadoria aos olhos de todos:
“Que tal isso aqui, seu Napô, pra descansar o seu popô?”
Difícil descrever o olhar de fúria produzido pelo militar ante o riso desengonçado dos presentes.
Perante as risadas e os assobios dos populares, o homem de farda apertou o homem das rimas pelas goelas e o arrastou veículo adentro o conduzindo até à delegacia mais próxima.
Não se sabe, ao certo, o que sucedeu após este incidente. O fato é que o homem das rimas não mais deu as caras.
Outros mercadores continuaram transitando pelas ruas do bairro, entoando seus pregões, “vendendo o seu peixe”. Os habitantes, quando não compravam, deixavam passarem despercebidos.
Dizem que atualmente os moradores estão mais sérios, pouco trocam amabilidades. E falam mais: “a poesia do bairro desapareceu junto com o homem das rimas!”