Os Lírios sobre a Mesa
Numa irradiante manhã, Odete saiu às compras. Pelo caminho colheu alguns lírios-da-chuva expostos em um canteiro e os guardou sob a manta. Lindos e brancos, seu perfume expandiu-se logo no ar, ao toque da mais leve brisa.
Ao chegar a casa depôs as mimosas flores na mesa, cuidando de armazenar alguns alimentos e, logo após, providenciar um vaso e água límpida para o floreio.
Odete pensou o quanto era importante aquela atitude, uma vez que boa parte da infância vinha à tona ao lembrar da paixão de sua mãe pela cultura de tais flores.
Após todos os detalhes, colocou-as modestamente no centro da mesa para sempre que possível tê-las à vista.
Os lírios sobre a mesa de Odete ficaram exuberantes.
E famosos.
Quando recebia alguma visita era certo o elogio à beleza das flores - tão cheias de vida! – e o encantamento tornava a sala mais e mais perfumada.
Parentes distantes enviavam cartas indagando sobre o estado de saúde da Odete e finalizavam incentivando-a a olhar mais vezes para as charmosas flores e delas extrair energias.
“Minhas pequeninas lindas e brancas: que paz indizível vocês me passam!”, Odete lhes dirigia a palavra e outra vez o ambiente era invadido por delicioso perfume.
Aconteceu um dia estar aguando suas belezuras, quando lhe bateu à porta uma prima do interior pedindo permissão para passar uns dias em sua companhia, pois andava às tontas e com sensação de tristeza.
Odete deu-lhe toda a atenção desejada. A jovem em pouco tempo voltou a sorrir, a doença desapareceu graças ao perfume diário exalado das flores.
Contam a história de uma mãe já desenganada quanto à saúde do filho, pediu a Odete levasse seu jarro de lírios ao quarto do pequenino doente e sem menos esperar o garoto saltou do leito fazendo estripulias, enquanto o perfume das flores impregnava todo o recinto.
Há dois tesouros que Odete guarda com muito carinho: o coração – extremamente bom – dentro do peito; os mimosos lírios, sobre a mesa.