O Porquinho Biruta
O Homem mal descera da camioneta, foi logo pegando o saco e o jogou nas costas, arqueando o corpo em função do peso. O grito estranho saia dali e a agitação era intensa.
Quando chegou no alpendre depositou a carga, cortou o nó que a prendia e enxugou com os dedos o suor a escorrer-lhe pela testa.
A meninada correu para ver o que sucedia e ficou espantada ao notar que toda a zoada vinha de um bichinho de pernas curtas, rabinho enrolado e “nariz de tomada”.
Por instantes, o animal quedou-se como a estudar o terreno e disparou numa corrida porta adentro, quase derrubando sinhá Creusa portando suas xícaras de café.
Aí começou a perseguição. Ao redor da mesa foi um tal de pega-num-pega, atalha dali, cutuca de lá, e o bicho terminou escapulindo.
Pensando tudo terminado, eis que a bagunça começa no terreiro: o porquinho agora investia contra as galinhas que cacarejavam a mil; em socorro, acudiu o galo Fidalgo com sua crista arrebitada, mas não deu certo, correu também com medo da fera.
De repente, surge a figura do seu Lopes tentando encurralar o bicho no canto da cerca, mas o danado empreendeu fuga passando por baixo do arame; mais uma vez a molecada foi no seu encalço e quanto mais corria, mais o fujão se esgueirava.
Madame Zeza varria o quintal, sentiu ligeira friagem entre as pernas e foi grande o rebuliço: quis atingi-lo com a vassoura mas abalroou com dona Matilde que vinha de lá acocorada com um galão de querosene vazio nas mãos querendo prendê-lo qual passarinho na arapuca.
Ninguém imaginava como aquelas perninhas corriam tanto, mas o seu forte era a habilidade em retroceder, fazendo seus seguidores escorregarem os quartos no chão.
Alguns pescadores vinham subindo em direção ao beco e, notando a desordem, jogaram uma rede no aturdido bichinho e ele se rendeu vencido pelo cansaço.
Veio a noite e os meninos já banhados fantasiavam suas brincadeiras na rua. Ao ouvirem o grunhido do pequeno suíno no chiqueiro, pensaram em atiçá-lo mas acharam a ideia absurda. Aquilo ali era coisa de louco.